sexta-feira, 7 de setembro de 2007

FIM ?

Este blog vai encerrar para férias, não sei se temporária ou definitivamente.
fçdf
Cumpri o compromisso que fiz comigo mesma há exactamente 11 meses atrás - escrever aqui regularmente e levar isto a sério.
kflkd
Agradeço aos poucos que leram estas palavras. Por vezes valeram a pena. Outras vezes foram uma nódoa. Este blog começou por ser uma mera curiosidade divertida (deixa lá ver se sou capaz de fazer alguma coia de jeito), para passar a ser um verdadeiro laboratório de experiências e uma boa desculpa para treinar escrita. Não fiz censura ou fiz muito pouca.
lfkldk
Valeu a pena, mas não sei se quero, posso ou se é saudável continuar.
lfkjd
Obrigada pelos vossos olhos nas minhas palavras.
ljçfkgj
Marta
çdjfdj
P.S. And may the force be always with you ;)
lkfkdf
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MURMÚRIOS DE LISBOA XLIV

Heathcliff - Chapter III
DFKºÇDF
Lago no Jardim Botânico
FKDKF
It suddenly struck me – you’re not a Paul Auster Book. You’re Heathcliff. From Wuthering Heights. And since I couldn’t stop seeing those cynical blue eyes in my mind, I decided to take a good look at you again. I never did this, you know. Ever. But I had to. Don’t ask me why. I just had to. It’s like in those movies with strange endings where characters do crazy things because they simply must.

Maybe it’s because you’re Heathcliff and you just came out of Emily Brontë’s novel to torment my Charlotte Brontë’s Jane Eyre soul with your dark cynical blue eyes piercing mine and your hidden rage and your incapacity to adjust anywhere. Your eyes haunted me for a whole week and although I tried to understand what they were saying, I couldn’t. I had to drown in them again. So I did.
FDJFDLK
I had a good excuse. I was going to buy a present, order a poet’s book and look for Thomas Moore’s “Utopia”. The sales woman asked you for Utopia and you said there was none. And now I know your name. She was fat and nice and dumb. And then you came in my direction, looking straight at me, with those blue dangerous eyes, like a tiger approaching it’s pray. There was no shuddering this time, like there hadn’t been before, I realized. This time I was sure I could see lust in them. They were saying: “Well … well … well … just look who came to see me …” You knew. And you were happy. But in my eyes there was no indication of what I was feeling and I turned my back to you again. And maybe that surprised you and annoyed you.
KFÇKSF
And so you played a game with me. You rapped my present and then you helped the other sales woman to search for the poet’s book on the internet and all the time you were being very professional about it and not even looking at me. And the fat girl likes you, and you know she does. She kept flirting with you, right in front of me. And everything was so very Heathcliffish of you, wasn’t it?
ÇFKǺDKF
So I studied your hands, instead. They’re smaller than I thought and you eat your fingers. You’re even thinner than I remembered – an almost kind of sick thinness - and less tall and there’s an even greater, more dangerous coldness in those eyes than I had noticed. Because maybe you’re used to this. Maybe you’re used to women losing themselves in those watery, clear, almost transparent blue cynical dark eyes of yours. Your voice is softer than I remembered too, it has a slippery quality in it, and it reminded me of a snake. And we were laughing and chatting and searching for the book, but I felt dislocated, like an intruder.
FKJGLKFD
And now you know my name. In the end you practically sent me away. You said, “well don’t worry, you can go if you’re in a hurry, we’ll take care of the order.”, and you didn’t even look at me when I left and kept on talking to the sales woman. But that made me smile. What the hell was that, Heathcliff?

And now I wonder if you were doing it on purpose because I didn’t shudder when I saw you and all you saw was this huge wall in my eyes. And I wonder if you were pretending aswell.

And you know what? This is amusing, actually. Because I still haven’t quite figured what kind of book you are. Maybe it’s a game you play. Or maybe you were sulking. And since I didn’t quite figure it yet, I guess I’ll have to go back to your bookstore.
LKFÇLKDG
But there is something you don’t know about me, Heathcliff. You don’t know that I am writing about you. You don’t know I chose you as my subject. So I will keep playing this game with you. It might be a dangerous game. But I like playing with fire, especially a fire that has a good story in it.
ÇLGºÇFDLG~
Can a character surprise her author? You certainly surprised me. Everything I ever wrote about Lisbon brought me to you. You’re extremely interesting, but not just for the reasons you might think.
Yet, you are The Character an author dreams with. The real thing.
And can a writer surprise her character? Maybe …

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

PSICANÁLISE XXXVII

Estou a dar o berro, Charlie. Dar o berro é demasiado doce. Estou a flipar completamente. Estou de rastos. E estou a ficar pirulas. Não sei se é da idade, se é de estar mesmo a precisar de férias, se é do ano horrível que tive ou se é de tudo isto ao mesmo tempo.
fklfçlk
A minha alma é neste momento um Frodo, apunhalado sem misericórdia não por um mas por vários Nazguls. Os Nazguls são todos os meus fantasmas interiores e exteriores. Alguns foram criados por mim, outros existem já há muito, muito tempo, outros ainda apareceram do nada para me atormentar.
Dentro de mim, no mais fundo de mim mesma persiste ainda uma Arwen teimosa, corajosa e crente na regeneração desta alma.
Quando partir, no próximo Sábado, para "Rivendell", para o meu paraíso, que fica no fim do mundo, a minha fuga será semelhante a esta. O meu cavalo serão rodas que me levarão a atravessar a ponte sobre o Rio Tejo e quando estiver do outro lado olharei para trás e verei todos os Nazgul alinhados na margem de Lisboa, as suas silhuetas negras e assustadoras, sem rosto, sem piedade.
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Um deles dirá "Give us your soul. Give us your sanity.”
E então a Arwen que existe em mim murmurará, com convicção e desafio no olhar “If you want it, come and claim it!”, empunhando a espada impregnada de toda a força que ainda lhe resta.
E os Nazgul saberão que nada será possível sem que haja uma luta sem tréguas.
E as ondas do mar que já rugem dentro de mim arrastarão os Nazgul de dentro da minha cabeça e farão com que fiquem adormecidos e menos ameaçadores.
Sei muito bem que esperarão por mim, quando regressar. Não vão desaparecer. Um ou dois morrerão noutras batalhas, um ou dois permanecerão exactamente no mesmo sítio e saudar-me-ão assim que entrar em Lisboa, outros estarão ainda mais fortes e outros mais fracos, quase moribundos.
A minha alma será fortalecida e encontrará, espero, a paz de espírito necessária para os enfrentar de novo e a outros que virão, eu sei.
klsçlsk
“Still round the corner there may wait
A new road or a secret gate,
And though I oft have passed them by,
A day will come at last when I
Shall take the hidden paths that run
West of the Moon, East of the Sun.”
J.R.R Tolkien (The Lord of The Rings)
lskçlsk
ºçsklºçlsk

terça-feira, 4 de setembro de 2007

OS LIVROS DE ANDRÓMEDA - PARTE I

Livro de Crónicas
António Lobo Antunes
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dçlkjdçk
"O grande homem
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Soube que era um génio quando comecei a encontrar o romance nas montras das livrarias: quando o retrato principiou a aparecer nos jornais; quando dei a primeira entrevista à televisão. Consciente da minha celebridade e do meu talento pareceu-me injusto não sair para a rua de pé, em carro descoberto, cercado por guarda-costas de óculos ray-ban, a mostrar-me e a abençoar.
Decerto que ao passar, num cortejo lento com motociclistas à cabeça, os homens tirariam o chapéu a persignarem-se, vergados de respeito, decerto que algumas velhotas ajoelhariam a rezar. Convicto da minha fama e da admiração dos contemporâneos resolvi, como era agosto, oferecer à Praia das Maçãs a dádiva da minha presença, seguro de aplausos, autógrafos, interjeições extasiadas e gritos de fãs à beira do desmaio.
Cheguei por alturas do almoço após horas e horas numa bicha de automóveis domingueiros obviamente repletos de leitores entusiastas e parei no restaurante do Augusto onde uma multidão de súbditos se debruçava para o cherne, pronta a aclamar-me no fervor das paixões ilimitadas. Ninguém pareceu dar pela minha entrada: nem um maxilar deixou de mastigar o bitoque, nem um nariz emergiu do galheteiro para me observar com pasmo, e quando eu, agastado com a incompreensível distracção das pessoas, tossia a chamá-las, a voz do Augusto veio lá do fundo, do balcão, a apontar-me num brado que fez tilintar de susto os copos de Colares e sobressaltou a hibernação das lagostas a mancarem nos calhaus do aquário
- Olha o Antoninho! Dei tanto pontapé no cu daquele gajo!
Meia dúzia de pálpebras subiram dos grelos, desinteressadas, e o Augusto a aplicar-me palmadas que me desconjuntavam as costelas
- O menino a entrar na piscina pelo arame para não pagar e eu que fazia a segurança a correr atrás de si que é lá isso seu sacana? Ricos tempos.
Apesar do precedente de colegas ilustres
(Villon, Genet)
embatuquei. E o Augusto, a empurrar-me com as palmas gigantescas para a mesa, ao lado dos caranguejos e das lagostas, de um careca enfezado
- E aquela tarde em que você me deu uma sova aqui no Zé Tó no ringue de patinagem? O menino era lixado. Muito pontapé lhe dei eu nesse cu. Ricos tempos."
ºçlºçdl
ldkçld
Termino este ABC com o Meu Escritor. Estou longe de ter lido tudo o que escreveu, até porque a sua escrita é difícil e exige do leitor quase o mesmo trabalho que lhe dá a ele a escrever. Do pouco que li, nasceu uma admiração sem limites. Das poucas entrevistas que dá, um sorriso no canto da boca pelo seu discurso sem rodeios e sem misericórdia. Se o visse algum dia perto de mim teria vontade de lhe beijar as mãos, os dedos que escreveram palavras e as juntaram e as esculpiram muitas delas de formas que eu mal consigo ainda compreender.
Fica este Livro de Crónicas, de leitura muito mais fácil e divertidíssima.
Ele é o único escritor que até hoje conseguiu provocar em mim (e suponho que em muitas outras almas) este efeito absolutamente deslumbrante: fazer-me rir até às lágrimas num parágrafo e no parágrafo logo a seguir fazer-me comover até às lágrimas.
Não direi mais, porque tenho medo de dizer coisas absurdas ou erradas sobre o Escritor que foi responsável por um bloqueio de 4 anos que tive, quando tinha 23. 12 anos mais tarde e com o bloqueio perfeitamente ultrapassado, consigo compreender por que o tive e até agradecer-lhe: se não fosse ele eu não teria tido a certeza de que era isto que queria mesmo fazer. Por vezes, é preciso levarmos valentes tabefes para percebermos se é mesmo isso que queremos continuar a fazer - se depois do tabefe quisermos mesmo assim continuar, então é porque é mesmo isso.
Hoje em dia, António Lobo Antunes continua a ser o meu barómetro. Sempre que acho que escrevi alguma coisa de jeito, vou ler uma coisa dele. Já não bloqueio, mas remeto-me imediatamente à minha insignificância.
Obrigada, António.
ç.dljçkldj
kdjkld

1942-

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

MURMÚRIOS DE LISBOA XLIII

The Paul Auster Book - Prologue
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Bairro Alto
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The first time I saw you, I didn’t really see you. You asked me for light, at a coffee shop near your bookstore. I wasn’t alone. That’s about the only thing I know for sure about you – that you smoke.
I didn’t even look at you. I mean, I looked, but I didn’t really see you. And then I recognized you at the bookstore. And after that I decided you were The Paul Auster Book. I didn’t really decide. You decided for me.
I also think I have seen you before that first time. Your face looks so familiar. I have tried in my mind to remember where, but I just can’t figure it. Maybe it was at another bookstore …
çdlºçdl
Everything else I have to imagine. You’re also very thin. You don’t eat a lot and you probably buy those 5 minute microwave meals and you probably smoke a lot. And your blue eyes have a darkness in them and there’s a little twist of cynicism in your voice, as if the world has stopped surprising you a long time ago. And I could bet you take the subway home and maybe you like Pink Floyd and you’re a basketball fan because you’re tall. And I could bet you like movies with strange endings.
I just don’t know if you like Paul Auster. But I can picture you with “Lulu on the Bridge” in your large hands with a coffee at your side and a cigarette plucked between your fingers.
çsklºçdl
Do you wonder about me aswell? Do I cross your mind, every now and again? Have you wished me to come into your bookstore again? What if this was a movie with a strange ending and I came up to you and asked you “Would you like to be a character in my book?” What would you answer me? What would your blue eyes tell me? Would they pierce me as they did in Chapter I? Would you shudder like I think you did in Chapter II?
I could, you know. I could try surprising the Paul Auster Book with the blue dark cynical eyes …

domingo, 2 de setembro de 2007

PALAVRAS EMPRESTADAS 22

12 - Estrela Do Ma...

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Numa noite em que o céu tinha um brilho mais forte
E em que o sono parecia disposto a não vir
Fui estender-me na praia sozinho ao relento
E ali longe do tempo acabei por dormir

Acordei com o toque suave de um beijo
E uma cara sardenta encheu-me o olhar
Ainda meio a sonhar perguntei-lhe quem era
Ela riu-se e disse baixinho: estrela do mar
Sou a estrela do mar

Só a ele obedeço, só ele me conhece
Só ele sabe quem sou no princípio e no fim
Só a ele sou fiel e é ele quem me protege
Quando alguém quer à força
Ser dono de mim

Não sei se era maior o desejo ou o espanto
Mas sei que por instantes deixei de pensar
Uma chama invisível incendiou-me o peito
Qualquer coisa impossível fez-me acreditar

Em silêncio trocámos segredos e abraços
Inscrevemos no espaço um novo alfabeto
Já passaram mil anos sobre o nosso encontro
Mas mil anos são pouco ou nada para a estrela do mar

Jorge Palma (Estrela do Mar)

sábado, 1 de setembro de 2007

MURMÚRIOS DE LISBOA XLII

Chocolate
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Culturgest - Tecto Exterior Lateral
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Um dia vou escrever um romance contigo. Será um romance passado numa plantação de milho, algures no Alabama, numa época felizmente já ultrapassada.
Tu aparecerás sempre sentado exactamente desse modo, como estás sentado no banco do autocarro, à minha frente.
Quase te perdia, velho Chocolate. Quase ... E sabes porquê? Porque ia entretida a observar um Hip Hop Boy da mesma cor que tu, mas que podia ser teu neto. É curioso …
Quando ele saiu, fui apanhada de surpresa muito suavemente. Olhei-te e quase te abandonava. Quase ... Porque quando repousei de novo o olhar em ti, o mundo inteiro ficou subitamente mais nobre, mais digno, mais belo, concentrado em ti.
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Vestias uma camisa azul clara de mangas curtas, umas calças cinzentas de flanela, meias brancas e uns sapatos castanhos de atacadores. E trazias um chapéu de feltro e abas castanho, colocado em cima da tua cabeça já totalmente branca com toda a arte de quem põe esse chapéu exactamente da mesma maneira há décadas e nem precisa já de pensar como vai pô-lo. A tua mão acerta milimetricamente no sítio exacto. Fica-te a matar, o chapéu, mas não precisas que ninguém te diga, eu sei.
No pulso esquerdo trazias um relógio daqueles com correia de metal prateada. Não sei como, mas sei que a tua história será em torno desse relógio. Talvez tenha sido o símbolo da tua liberdade, que usas no pulso orgulhosamente, como outros acenam canudos de doutoramento.
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Nunca mentiste, nunca insultaste ninguém, nunca roubaste, nunca maltrataste, nunca foste insolente ou arruaceiro. Sempre trabalhaste de sol a sol, com honra, suor, músculo e dignidade. Sempre fizeste o que te ordenaram sem um único queixume, uma única hesitação.
Sim, sabes que não foste talvez corajoso como outros, ou aventureiro. Mas só conhecias e desejavas uma coisa. Poderes sentar-te ao final do dia naquela cadeira, descansado e em paz, com as tuas crianças saltitando à tua volta, a tua mulher a cantar na cadeira de baloiço ao teu lado e o sol a pôr-se lá ao fundo, por trás das longas e verdes folhas do milheiral que andaste a debulhar durante o dia.
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E agora, velho Chocolate, passados estes anos todos, o teu rosto ergue-se sobre os ombros com uma nobreza desafectada, deslumbrante. A tua pele de ébano brilha com a saúde e a firmeza de uma vida recta e sem arrependimentos, (que não precisa de cremes nem loções.) E só nas rugas do teu pescoço se notam as tuas 75 primaveras suaves e doces.
Os teus olhos não me conseguem ver. Mas não é porque estejas perdido nos teus pensamentos num egocentrismo fechado, como tantos outros. Não me vêem porque és daquelas raras pessoas sem consciência de si próprias, nem por um único segundo das suas vidas.
Esses olhos intensos e atentos, cheios de vida plena, vêem o fim aproximar-se com a serenidade de um leão majestoso. E pressentem, sem saberem explicar, porque nunca leram nenhum livro a não ser algumas passagens da Bíblia, o que te espera.
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Mas eu, velho Chocolate, olho-te e vejo-as. Já as carregas nas costas. São magníficas. Enormes, da cor da tua pele, castanho chocolate e com a textura das tuas mãos belas, firmes e hábeis - o veludo.
Velho Chocolate, essas asas mereceste-as como muito poucos.