quarta-feira, 31 de outubro de 2007

EM MINHA CASA, NA PONTA DOS PÉS 3 (cont.)

Capítulo 1. AO ENTARDECER DE UM DIA
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"Alice pensou que tudo aquilo era muito absurdo, mas eles estavam todos com um ar tão sério que ela não se atreveu a rir; e, como não lhe ocorreu nada para responder, limitou-se a fazer uma vénia e pegou no dedal com a maior compenetração que pôde." (6)
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Estava tudo errado. Ninguém a avisara. Ninguém a preparara para isto. Alguém muito sádico havia escrito e colocado o anúncio no jornal, apenas para fazer pouco da sua pessoa. A Nº 5, talvez. Porque o farrapo de homem que tinha à sua frente devia era estar num ginásio, a montar um cavalo selvagem ou a trepar o Evereste. Em qualquer lugar, menos ali, enterrado naquela varinha mágica com rodas, debaixo dum cobertor de xadrez verde e por trás de um par de óculos escuros sinistros.
E como se tivesse lido o seu pensamento, a Nº 5 voltou, salvando Emily da loucura. O susto que apanhou com o súbito entreabrir da porta provocou-lhe um ataque de soluços que acabou de vez com qualquer pretensão ao humor negro.
"John, o Dr. Rubens chegou."
Ele não mexeu sequer a cabeça. Retorquiu apenas:
"Diz-lhe que já o recebo."
A Nº 5 ia abrir a boca para dizer qualquer coisa, mas aparentemente arrependeu-se porque deu meia volta e fechou novamente a porta atrás de si, secamente.
Emily deixou escapar um soluço sonoro.
"Quer um copo de água?"
Ela revirou os olhos. Teve um súbito desejo louco de lhe arrancar os óculos da cara para se certificar de que ele era realmente cego.
Conseguiu responder:
"Não … obrigada."
Depois ele continuou:
"Surpreendida?"
Ficou calada. Desejava que a pergunta fosse retórica, porque não tencionava responder-lhe. Estava para além de qualquer tipo de reacção. Queria fugir dali para fora. (Vais desistir, é isso? Vais desistir e nem sequer tentaste …).
"Não é a primeira a ficar supreendida, hoje. No entanto, espero que seja a última. Gosto da sua voz. Mas não fique muito vaidosa, porque eu tenho gostos esquisitos. E, para além disso, recuso-me a aprender Braille. Faz-me calos nos dedos.", o tom não podia ser mais cínico.
Emily teve vontade de lhe dizer que tudo não passava de um pesadelo. Nesse instante mudo quis com todas as suas forças que ele pertencesse apenas a um pesadelo seu. E que no seu pesadelo tudo estivesse invertido. Mas controlou estes pensamentos a tempo. A precipitação e a queda para o drama eram o seu forte. Ele permaneceu em silêncio, imóvel, os óculos escuros pregados ao rosto como se estivessem lá colados.
"Mas … mas eu nem sequer lhe li nada. Como é que …"
Interrompeu-a com o gesto brusco de uma mão aberta de dedos compridos:
"Sabe ler, não sabe? Presumo que se leu o anúncio …", a frase acabou com escárnio mal contido.
Emily indignou-se:
"Claro que sei ler! Se não soubesse, acha que …", depois reparou quão ridícula e inútil seria a resposta e calou-se.
"Então volte amanhã. À mesma hora.", fez uma pausa e depois acrescentou: "Está contratada.", aquela última frase foi proferida num tom que lhe pareceu de resignação forçada.
Pôs a varinha mágica a funcionar e passou por ela em direcção à porta, zumbindo. Abriu-a e deslizou corredor fora como uma abelha persistente.
Emily continuou a olhar para o corredor durante um par de minutos, sem se mexer, a boca entreaberta, até a Nº 5 a vir buscar.
"Sra. Sutherland, o Sr. Strat gosta de pessoas pontuais. Não se esqueça disso.", e olhou-a novamente de alto a baixo, como se não quisesse acreditar no que lhe estava a acontecer, "Amanhã esteja cá às seis em ponto, por favor. Falaremos do seu ordenado depois da sessão de leitura, se não se importa."
Nem sequer teve tempo ou presença de espírito para reagir. Quando deu por si, estava novamente do lado de fora da casa, na rua solitária.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

PALAVRAS ESTÚPIDAS 3

AVISO À NAVEGAÇÃO: Se não gostam de blogs tipo Margarida Rebelo Pinto e afins, favor não ler este post. É e-x-e-c-r-á-v-e-l ... (nem eu o consigo ler...)

Gosto de homens possantes (oh meu deus ... isto começa bem ...). Grandes e com músculo. Homens de barba rija. Se tiverem voz forte e tonitruante, então aí é a perdição total. Homens do tipo do Russel Crowe - aquele “focinho” de bulldog dá mesmo vontade de agarrar e abanar e dar beijinhos e fazer “ah lindo! lindo! anda cá lindo, quem é a mamã, quem é?!” (eu não quero acreditar que acabei de escrever isto ... tchéééé!!!! ....).
Gosto de homens que me dêem calores, que me mexam com as hormonas, que me façam tremer as pernas (oh minha mãe do céu ...). Pronto. Uma mulher não é de ferro, caramba. Para quê disfarçar?
Desconfio sempre das mulheres que torcem o nariz a este tipo de homens. Opá, não é normal. Um homem quer-se forte, protector, grande, tipo urso. Se me dizem “ai que horror, eu gosto é do David Fonseca” ... ahh... ok ... tá bem, filha, do que tu precisas sei eu, penso para com os meus botões e não digo mais nada (por amor de deus ... então uma mulher não pode gostar do David Fonseca?!! eu gosto dele!!!).
Não tenho uma predilecção especial por fardas, mas a do Gladiador é .... enfim ... aaaah... como dizer? ... interessante no mínimo ... percebem? Por baixo daquele arsenal de couro e peles e metais adivinham-se montes e vales de êxtase puro (porque não chamar as coisas pelos nomes? já agora ... já faltou mais, não é? ...).
E não me venham cá com tretas de metrossexuais e afins. Homens a pôr cremes? Eu mal os ponho, quanto mais tar agora a aguentar um gajo cheio de fornicoquetes que também mete cremes e me enche a prateleira da casa-de-banho com pasteladas! Era o que faltava! (!!!!!!!!!!!) Gajo que é gajo usa um bom perfume e mai nada, acabou-se! (!!!!!!!!!!!!!!!.............!!!!!!!!!!!!!) Agora cá cremes para as rugas e pó de talco e mariquices. Mas que é issooooooooooo????? (oh deus do céu! tenho amigos homossexuais, quanto mais metrossexuais ... quer dizer ... tinha ... depois deste post, acho que deixei de os ter ...)
Imaginem o Gladiador a pôr creme Nívea nos dedinhos lá no calabouço, antes de entrar para a arena onde vai chacinar mais uns quantos romanos ... népias ... não dá a bota com a perdigota.
Depois também gosto dos vigaristas, tipo o Sawyer da série Perdidos (a mulher não tá bem ... não tá a jogar com os parafusos todos ...). Metade das mulheres do planeta anda dividida, eu sei. O Sawyer ou o bom do médico? Digo-vos já uma coisa – o raio do médico tem demasiados problemas mentais e para isso, meninas, já chegamos nós, entendem? O Sawyer é muito menos complicado, mais terra a terra, pão, pão, queijo, queijo, queres, queres, vamos embora pá frente, não queres, desaparece! (eu adoro homens honestos e certinhos!!! mas o que é que eu tou páqui a escrever??!!!!)
Gosto daquele ar de safado que ele tem e desconfio de quem não gosta – é porque não está devidamente sintonizado com o seu eu mais visceral e primitivo (mas ... “visceral e primitivo”????!!!!). O Sawyer é o tipo com quem sonhariamos estar numa ilha deserta, se tivéssemos a sorte de ir lá parar com o Jack. Entendem? Paradoxal, certo? Mas as mulheres são assim mesmo – um poço de contradições, felizmente. É claro que se me perguntassem com quem eu desejaria partilhar a vida, responderia com o médico. Mas uma noite de loucura total e paixão desenfreada? Venha o Sawyer e avie (xiiiiiiiii!!!!!).
E pronto, acabei de escrever o post mais execrável de sempre deste blog. Mas que querem? Apetecia-me falar de homens possantes. Vá-se lá saber porquê ... Devem ser as hormonas que andam aos pulos ...
E para que não restem dúvidas, ora aviem!:



P. S. Este post foi escrito por uma gaja primitiva que habita dentro de mim. Não sei quem é ... não a conheço ... nunca a vi ... passou por aqui e desapareceu ... não sei de nada ... (pois tá bem ... eu também acredito na fada sininho e no pai natal e nas renas ...) Mas numa coisa estamos de acordo, aquele mocinho ali da fotografia ... aaaah ... como dizer? enfim ... é simpático ... (simpático???!!!!! simpático é o teu nervo ocular, mulher!! é bom!!!! comó milho!!!!) .................................................. o que vale é que tá lá em baixo um post com um dragão marinho muita giro ... e pode ser que isto passe completamente despercebido ... vão ... vão lá ler a biologia dos dragões marinhos ... é muito interessante ... (eu dou-te os dragões marinhos ...)

OS ANIMAIS DE ANDRÓMEDA

DRAGÃO MARINHO

Os dragões marinhos são das criaturas mais deslumbrantemente camufladas da natureza. Adornados com apêndices com a forma de folhas que cobrem todo o seu corpo, estão perfeitamente disfarçados para se poderem confundir com as algas, que constituem o seu habitat. Naturais das águas da costa sul e leste da Austrália, os dragões marinhos são parentes dos cavalos marinhos e das marinhas.
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Possuem focinhos muito compridos e estreitos, corpos sinuosos cobertos de anéis ósseos e caudas finas que, ao contrário dos seus primos os cavalos marinhos, não podem ser usadas para se agarrarem. Possuem pequenas barbatanas dorsais e peitorais transparentes que os movimentam e guiam de forma estranha através da água, mas parecem não se importar em navegar desta forma, à deriva e atabalhoadamente como as algas. Têm entre 35 e 46 centímetros de comprimento.
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Tal como acontece com os cavalos marinhos, são os machos que carregam os ovos. Mas em vez de possuirem uma bolsa, como os seus primos, têm pequenos "copos de ovos" esponjosos sob a cauda, onde as fêmeas depositam os ovos de cor rosa viva durante o acasalamento. Os ovos são fertilizados durante a transferência da fêmea para o macho, este incuba-os e transporta-os até soltar minúsculos dragões marinhos de 20mm para a água, após 4 a 6 semanas.
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Os dragões marinhos sobrevivem em pequenos crustáceos ou nas pulgas aquáticas. Não se sabe se possuem predadores. Mas são frequentemente levados por mergulhadores para serem mantidos como animais de estimação. Esta actividade provocou um grave decréscimo da população de dragões marinhos na década de 90, o que fez com que o governo Australiano colocasse a espécie sob protecção. A poluição e o desaparecimento de habitats também contribuiram para a sua redução e, neste momento, são uma espécie classificada como quase ameaçada.

Oh que felicidade pelo mar assim vaguear
Não ter asas nem delas precisar
Cometer incongruências em cada ondular
Rumar sem sentido e sem sentido a vida dar

Ser ultrajantemente belo sem sequer se reparar

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

EM MINHA CASA, NA PONTA DOS PÉS 2 (cont.)

1. AO ENTARDECER DE UM DIA

Ao contrário do resto da casa, aquela divisão encontrava-se mergulhada na penumbra da luz difusa das seis da tarde, que entrava a custo por entre os cortinados brancos de uma única janela. Não havia qualquer outra fonte de luz artificial. Tratava-se, aparentemente, da biblioteca, uma vez que todas as paredes se encontravam completamente escondidas por estantes repletas de livros até ao tecto.

"Ao entardecer de um dia muito quente de inícios de Julho, um jovem saiu do cubículo que subalugara na ruela S… e pôs-se a caminhar lentamente, como que indeciso, na direcção da ponte K… Foi sorte ter evitado o encontro com a senhoria nas escadas. O cubículo era na água-furtada de um prédio alto, de quatro andares, e parecia mais um armário do que um compartimento. Pois bem, a senhoria que lhe subalugara o cubículo, com almoço e serviço incluídos, ocupava …" (2)

" 'O quê?', gritou D'Artagnan, 'o seu primeiro padrinho é o Sr. Portos?'
'Sim. Isso desagrada-lhe?'
'Oh, de maneira nenhuma.'
'E aqui vem o outro.'
D'Artagnan virou-se na direcção indicada por Atos, e avistou Aramis.
'O quê?' gritou ele, ainda mais admirado, 'a sua segunda testemunha é o Sr. Aramis?'
'Sem dúvida que é. Não sabe que nós nunca somos vistos uns sem os outros e que somos chamados nos mosqueteiros e na guarda da corte e na cidade Atos, Portos e Aramis ou os três inseparáveis? …" (3)

"Na bela Verona, onde se vai passar este drama, duas famílias, iguais em nobreza, impulsionadas por antigos rancores, fazem com que entre si se desencadeiem novas discórdias, em que o sangue dos cidadãos tinge as mãos dos cidadãos.
Das entranhas fatais destas duas famílias inimigas, e sob funesta estrela, nascem dois amantes …" (4)

Quase soltou um assobio, mas conteve-se a tempo, quando reparou na silhueta que tomou pelo homem, desenhada contra a fraca luminosidade da janela, sentado numa cadeira, por trás de uma pesada secretária antiga onde repousavam alguns papéis e um portátil adormecido. O resto da divisão era apenas ocupada por uma cadeira junto à secretária do lado oposto da janela e por um escadote de biblioteca encostado junto à estante mais afastada da porta. O chão de madeira desaparecia quase na totalidade por baixo de uma carpete em tons encarnados e castanhos, decorada com motivos japoneses.
A Nº 5 teve que repetir, já um pouco irritada:
"Sra …"
Afastou com alívio o olhar daquela visão perturbadora junto à janela e piscou os olhos, tentando sorrir ao mesmo tempo. Parecia-lhe que teria, em primeiro lugar, de agradar à Nº 5, provavelmente a sua digníssima esposa.
"Emily … Emily Sutherland."
Houve um instante mudo em que ninguém falou e em que ela teve a certeza de que se ouviria uma mosca aterrar em cima da carpete japonesa, entre um pagode castanho e um dragão encarnado. Depois a Nº 5 saiu e fechou a porta atrás de si, da mesma forma brusca como aparentemente tudo o que fazia.
Estava sozinha com ele. Suspirou fundo novamente. Não sabia se de alívio, se de expectativa perante o abandono a outra fera mais perigosa. Se calhar a Nº 5 era capaz de não ser tão má como ela pensava … Mas a voz dela irritava-a e produzia em si um efeito que não lhe agradava - de submissão.
Ficou ali especada, sem saber o que fazer perante a silhueta de costas viradas para si - se avançar e cumprimentá-lo, se esperar por uma ordem. O silêncio manteve-se e só nesse instante se lembrou. Caramba …. Ele já ouvira a sua voz. Adeus ensaios. Adeus efeito de surpresa. Adeus primeira impressão. Adeus emprego ... Nem sequer sabia como lhe soara a voz. Os nervos eram tantos que nem sequer se lembrava do som da sua própria voz.

"A toca continuou a direito como um túnel, e de repente afundou-se, tão de repente que a menina nem teve tempo de reflectir e parar antes de dar consigo a descer o que lhe parecia ser um poço muito fundo." (5)

Pigarreou inadvertidamente e logo a seguir arrependeu-se. Porque parecia um estratagema para cortar o silêncio ou incitar o seu interlocutor a proferir qualquer som, mas não era nada disso. Era apenas uma coisa que fazia sempre que estava nervosa e não sabia o que dizer ….
"Emily …", ele nem se dignou virar a cadeira de rodas (reparava agora que era uma cadeira de rodas) onde estava sentado. Ao contrário da Nº 5, a voz dele era agradável, não obstante possuir um tom que Emily de imediato interpretou como o de alguém habituado a que lhe satisfizessem qualquer capricho.
Tomou aquilo como um convite para repetir o apelido, e desta vez conseguiu lembrar-se de controlar a voz para um timbre mais grave:
"Sutherland. Emily Sutherland."
Reparou ao mesmo tempo que a sua voz não era de certeza absoluta a de um velho surdo dependente de um funil colado ao ouvido. Era uma voz jovem. Demasiado jovem? Arqueou as sobrancelhas e engoliu em seco.
Finalmente, ele girou a cadeira na sua direcção, movimento que foi acompanhado por um suave barulho motorizado, semelhante ao de uma varinha mágica eléctrica. Levantou levemente a cabeça, como se quisesse farejá-la e Emily teve a sensação de que ele a olhava de alto a baixo por trás dos óculos escuros. E desafiando toda a lógica, e apesar da surpresa, sentiu nascer-lhe no estômago um ataque de riso, daqueles que por vezes nos surpreendem no meio de uma multidão e contra o qual não há nada a fazer a não ser deixá-lo subir pela laringe acima, atravessar as cordas vocais e libertar-se pela boca sob o som de uma sonora gargalhada.

"Alice pensou que tudo aquilo era muito absurdo, mas eles estavam todos com um ar tão sério que ela não se atreveu a rir; e, como não lhe ocorreu nada para responder, limitou-se a fazer uma vénia e pegou no dedal com a maior compenetração que pôde." (6)


(2) Crime e Castigo - Fiódor Dostoiévski; (3) Os Três Mosqueteiros - Alexandre Dumas (minha tradução); (4) Romeu e Julieta - William Shakespeare; (5) As Aventuras de Alice no País das Maravilhas - Lewis Carroll; (6) As Aventuras de Alice no País das Maravilhas - Lewis Carroll

domingo, 28 de outubro de 2007

PALAVRAS EMPRESTADAS 26



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"You fucked up, all right ? So what ? So everybody does it. Get on with your life, would ya ?
çfklºçdl
What life ? I got no life ! I'm in the dark here ! You understand ? I'm in the dark !
çfldºçlf
So give up. You want to give up, give up... 'cause I'm givin' up too. You said I'm through. You're right. We're both through. It's all over. So let's get on with it. Let's fuckin' do it. Let's fuckin' pull the trigger, you miserable blind motherfucker. Pull the trigger.
çdflºçld
Here we go, Charlie.
dfºçfl
I'm ready.
lfkçlkf
You don't want to die.
fldºçl
And neither do you.
çlfçdºl
Give me one reason not to.
çfkçdklf
I'll give you two. You can dance the tango and drive a Ferrari... better than anyone I've ever seen.
fkdçkf
You never seen anyone do either.
çfkldº
Give me the gun, Colonel.
kldfdçlk
Oh, where do I go from here, Charlie ?
lfdlf
If you're tangled up, just tango on.
dçlfdºçl
You askin' me to dance, Charlie ?
Did you ever have the feelin' that you wanted to go
And still had the feelin' that you wanted to stay"
fkçldkf
Perfume de Mulher

PLIM! VIII (Palavras Loucamente IluMinadas)


"Eu não escrevo em português. Escrevo eu mesmo."
lfkjçdlkf

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A partir de hoje este louco varrido ou génio absoluto vai migrar das Palavras Emprestadas para uma casa própria chamada PLIM!
çlfdkçd
De outra forma, torna-se completamente impossível registar aqui todas as cascatas brilhantes de palavras que este senhor verte para o cérebro desta sua devota serva.
çldfkçdl
Não sei se era do rapé (vulgo, ópio), se era do vinho que lhe arruinou o fígado, se era da suspeita virgindade, mas este homem era, felizmente, completamente LOUCO :)
lfkdçlf
Depois de Pessoa, o que escrever? Tudo parece redundante ... porque Pessoa escreveu sobre tudo de uma forma que deslumbra a alma, aquece o coração e acorda os neurónios (imagino-os sempre em festa, aos pulos e gritos, coloridos e histéricos - "iuhuuu!! boa! malta, ela vai dar-nos mais Pessoa! schhiuuuu!!! vamos ouvir!").
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Mas sinto-o sempre a segredar-me ao ouvido "Escreve ... escreve ... escreve ... nada mais importa ... escreve ... escreve ... escreve ... transborda no que escreves ... oferece as tuas entranhas ao papel ... espalha-te nessas folhas ... escreve ... escreve ... bem? mal? ... mas escreve ... escreve ... escreve ..."
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E eu escrevo. E é tudo.
ºçdflºdç
ºçdlfdºçlf
"Viver uma vida desapaixonada e culta, ao relento das ideias, lendo, sonhando, e pensando em escrever, uma vida suficientemente lenta para estar sempre à beira do tédio, bastante meditada para se nunca encontrar nele. Viver essa vida longe das emoções e dos pensamento, só no pensamento das emoções e na emoção dos pensamentos. Estagnar ao sol, douradamente, como um lago obscuro rodeado de flores. Ter, na sombra, aquela fidalguia da individualidade que consiste em não insistir para nada com a vida. Ser no volteio dos mundos como uma poeira de flores, que um vento incógnito ergue pelo ar da tarde, e o torpor do anoitecer deixa baixar no lugar de acaso, indistinta entre coisas maiores. Ser isto com um conhecimento seguro, nem alegre nem triste, reconhecido ao sol do seu brilho e às estrelas do seu afastamento. Não ser mais, não querer mais ... A música do faminto, a canção do cego, a relíquia do viandante incógnito, as passadas no deserto do camelo vazio sem destino ..."
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Livro do Desassossego - Autobiografia Sem Factos

sábado, 27 de outubro de 2007

OS ANIMAIS DE ANDRÓMEDA

CAVALO
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Foram provavelmente nómadas asiáticos os humanos a domesticarem os primeiros cavalos há cerca de 4.000 anos. Estes animais permaneceram essenciais para muitas sociedades até ao advento do motor. Existe apenas uma única espécie de cavalo doméstico, mas cerca de 400 raças diferentes.
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Os cavalos selvagens são os descendentes de animais outrora domesticados, que sobrevivem livres há muitas gerações. Podem-se encontrar grupos destes cavalos em muitas partes do mundo, como os EUA - mustangs norte-americanos, que são os descendentes de cavalos transportados pelos Europeus há mais de 400 anos.
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Os cavalos selvagens reúnem-se normalmente em grupos de 3 a 20 animais. Um macho adulto lidera o grupo, que consiste em éguas e jovens potros. Quando os potros crescem, por volta dos 2 anos de idade, o macho adulto escorraça-os do grupo – este hábito, apesar de parecer impiedoso, tem uma explicação muito sábia – impede a consaguinidade dentro do grupo. Os jovens machos procuram então outras fêmeas, até conseguirem reunir o seu próprio grupo.
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O cavalo Przewalski é o único verdadeiro cavalo selvagem cujos antepassados nunca foram domesticados. Ironicamente, este cavalo existe hoje em dia apenas em cativeiro. O último Przewalski foi avistado na Mongólia em 1968. Entre as razões para o seu desaparecimento contam-se a caça, o progressivo desaparecimento do seu habitat e a falta de água.
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"The wind of heaven is that which blows between a horse's ears."
O vento do céu é aquele que sopra por entre as orelhas de um cavalo.
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Provérbio Árabe

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

DDT - Deambulações DeMentes Teóricas 5

É triste ter quase tudo e não ter ninguém.
É triste saber muita coisa e não poder partilhá-lo com ninguém.
É triste não ter uma testemunha da nossa vida.
É triste não ter ninguém a quem ler um parágrafo dum livro que gostamos muito.
É triste não ter ninguém a quem oferecer uma música que nos faz vibrar.
É triste não ter alguém que nos abrace com força só porque isso o faz sentir bem.
É triste escrever para as paredes.
É triste falar para o vazio.
É triste que as nossas palavras não tenham como destino a concha de alguém que as beba com sede.
É triste que o nosso olhar não possa descansar no porto seguro e acolhedor de outro olhar.
É triste não ter um corpo a que nos possamos ancorar.
É triste não ter um céu até onde os nossos pensamentos possam sempre viajar.
É triste vaguear sem norte, sem rumo, multiplicando mil gestos mecânicos e banais por cujos interstícios escondemos as saudades que temos de alguém que não existe, que não sabemos se existe, que não conhecemos e não sabemos se algum dia viremos a conhecer.
É triste esperar sem saber que esperamos.
É triste continuar sem saber para onde continuamos.
É triste sentir uma dor no peito permanente, sem que haja ninguém que a tenha causado.

PALAVRAS ESTÚPIDAS 2

É triste quando não conseguimos comunicar com alguém com quem desejamos talvez comunicar.
É triste quando mesmo quando conseguimos falar com esse alguém, o alguém não nos entende, não está sintonizado connosco, passa-lhe tudo ao lado, interpreta mal tudo o que dizemos, tira conclusões precipitadas e erradas e assume uma série de coisas sobre nós sem nos conhecer, sem esperar para nos conhecer, sem querer perder tempo a conhecer-nos.
É triste, muito triste quando esse alguém nos dói na alma de formas que julgáramos inconcebíveis, inimagináveis, imponderáveis, mas é muito, muito mais triste ainda quando esse alguém não faz a mais pequena ideia do que nos fez doer na alma, quando não imagina sequer o icebergue de lágrimas e dor que está por trás duma pontinha à superfície onde persiste em escorregar constantemente, patinando para fora dela por descuido, por inacção ou simplesmente por desprezo.
É uma imensidão de tristeza quando alguém nos pede que confiemos em si mas ao mesmo tempo tem medo de confiar em nós a tal ponto que nos esconde obstáculos à comunicação perfeitamente lógicos e que tornariam essa não comunicação suportável e aceitável se os conhecessemos.
É profundamente triste quando tentamos comunicar tudo isto a esse alguém e a resposta que nos chega do outro lado é desprovida de qualquer interesse, sem vida, amorfa, pálida e superficial.
É como se tivéssemos colocado a nossa alma nas mãos desse alguém, convencidos de que iria pegar nela com cuidado – não é preciso um cuidado especial, mas algum cuidado mínimo – e, em vez disso, esse alguém descuidadamente, sem premeditação, porque não compreende sequer o que tem nas mãos, a amarrota como se estivesse a amassar um bocado de papel.
É triste quando a alma fica rasgada assim desta forma, por alguém a quem a quisemos oferecer, sobretudo quando não a oferecemos assim quase nunca, quase a ninguém.

É tão, tão triste ...

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

EM MINHA CASA, NA PONTA DOS PÉS 1

Uma vez que até agora ninguém mo publicou, publico-o eu!
A partir de hoje e não sei durante quanto tempo, vai aparecer por aqui uma história para quem a quiser seguir. Com princípio, meio e fim :)
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Capítulo 1. AO ENTARDECER DE UM DIA
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"(Quando mais tarde pensou nisso, ocorreu-lhe que devia ter ficado espantada, mas naquela altura pareceu-lhe tudo bastante natural.)" (1)
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Subiu as escadas de pedra da Casa Branca da Rua E. A Rua E. era uma rua calma, refugiada do bulício do resto da cidade porque estava escondida no meio de duas avenidas principais e não tinha saída. Portanto, o único trânsito que a percorria era o dos moradores das residências, quase todas de tijolos encarnados. A Casa Branca destacava-se porque, aparentemente, e até onde a sua vista podia alcançar, era a única que não fora construída em tijoleira encarnada.
Sobre o arco superior da imponente porta de mogno negra, dois números solidamente fixados em bronze na parede anunciavam que ali era o 25 da Rua E.
Suspirou fundo e, segurando o batente do mesmo metal com a forma duma pata de leão, bateu com ele três vezes compassadamente na sólida madeira e esperou.
A porta abriu-se repentina mas suavemente. Do outro lado, uma mulher loira de meia idade e cabelo apanhado atrás da nuca, alta e elegante, impecavelmente moldada dentro dum tailleur rosa, olhou-a de alto a baixo e inquiriu:
"Sim?", a sua voz era seca e atonada, como se lá dentro do tailleur não houvesse alma.
A sua própria voz soltou-se como sempre acontecia quando estava nervosa, e apesar dos juramentos que fazia sempre a si própria de que da próxima vez iria conseguir controlar as cordas vocais e afiná-las para um tom mais grave.
"Boa tarde. Venho por causa do anúncio."
Voz de menina submissa, de miúda frágil e quase a pedir desculpa por ter nascido. Caramba ….
E fez menção de procurar na mala a prova da sua aparente ousadia - o recorte do jornal, esquecendo-se de toda a compostura e auto-controlo ensaiados vezes sem conta diante do espelho.
"Não é necessário.", a Nº 5 continuava a fixá-la com altivez e desconfiança e talvez até … pena.
Leu-lhe os olhos desmaiados, azuis e frios, mas mais ainda a voz, que continuava seca e agora temperada por um leve toque de desprezo.
"Entre!", e afastou-se displicentemente numa perfeita manobra de marcha-atrás em linha recta.
Recolocou a alsa da mala no ombro e entrou de cabeça baixa, sem reparar que não era a única a entrar.
Atrás de si, disparada por um canhão de energia, uma bala de pêlo voou pela casa dentro e desapareceu pela larga escadaria acima, sem que ela tivesse tempo para reparar em algo mais do que numa forma castanha, que se confundia com as sombras reflectidas pela tépida luz do final da tarde.
"Wolf!", a Nº 5 berrou, assustando-a e trazendo-a de volta à realidade da casa. Reparou nas inúmeras janelas que inundavam de luz aquela divisão e no branco que predominava em todos os elementos que compunham o seu interior, desde as paredes, até à mobília e à própria alcatifa que cobria o chão de mármore. Os móveis tinham um aspecto antigo mas conservado e delicado, como se tivessem sido ali colocados no dia anterior e ainda não tivessem sido sequer estreados. Lembrou-se daquelas casas que apareciam nas revistas de decoração, habitadas por gente famosa que provavelmente nunca lá punha os pés.
"Raio do bicho!", proferiu a mulher entredentes, enquanto fechava a porta.
Encaminhou-se para o lado esquerdo do hall de entrada.
"Por aqui, por favor."
Vá lá, um "por favor", ao menos e apesar da acidez do tom. Nem tudo estava perdido. Mas teria que controlar a voz ou então tudo estaria mesmo perdido. Recordou o anúncio, enquanto seguia o passo firme e seco da Nº 5, silenciado pela altura da carpete:
"Paraplégico e invisual requisita voz jovem feminina para leitura em voz alta das suas obras preferidas. 1/2 horas por dia. Remuneração adequada. Casa própria. Zona central."
Voz jovem feminina.
Era mulher e tinha 27 anos. Portanto, os dois únicos requisitos estavam preenchidos. O anúncio não pedia treino em colocação de voz, experiência anterior em funções semelhantes, formação em rádio ou teatro, ou outras condições que lhe teriam aniquilado imediatamente qualquer hipótese de êxito.
Mas ela tinha consciência que aquilo era provavelmente um truque para disfarçar a única condição que iria pesar sobre todas as outras - a sua voz tinha de agradar ao homem e ponto final. Podia ser a Maria Callas ou a Stevie Nicks. Não importava. Se ele não gostasse da sua voz, não havia nada a fazer. E isso era completamente subjectivo.
O tipo era provavelmente um velho frustrado, que gostava delas em versão coelhinha Playboy - voz sensual e rouca ou inocente e fatal. Ou então era um velho aristocrata que preferia uma voz intelectual, fria e ambígua, mas forte e sonora. Na volta, era um pouco surdo também e ela teria de berrar a plenos pulmões.
A Nº 5 abriu outra porta, desta vez branca com batentes dourados, enquanto ela tentava afastar estes pensamentos com a visão do homem em ceroulas encarnadas e gorro a condizer.
"Entre.", fechou a porta atrás de si (outro "por favor" era pedir muito…) e anunciou:
"Mais uma candidata ao lugar, John. Sra …", esta frase foi proferida num tom de quem já tinha repetido aquilo dezenas de vezes, apenas para agradar um qualquer capricho passageiro.
Ao contrário do resto da casa, aquela divisão encontrava-se mergulhada na penumbra da luz difusa das seis da tarde, que entrava a custo por entre os cortinados brancos de uma única janela. Não havia qualquer outra fonte de luz artificial. Tratava-se, aparentemente, da biblioteca, uma vez que todas as paredes se encontravam completamente escondidas por estantes repletas de livros até ao tecto.
dklkdlç
(1) As Aventuras de Alice no País das Maravilhas - Lewis Carroll

terça-feira, 23 de outubro de 2007

PALAVRAS ESTÚPIDAS 1

Tenho ... 12 livros para ler, que olham para mim sentados na estante diante do sofá e por cima da televisão, e me gritam todas as noites – “despacha-te!!!!! o que é que andas a fazer???? há informação importantíssima aqui dentro e tu não queres saber de nós para nada; a tua visão das coisas pode mudar completamente ao leres um precioso parágrafo dentro de um de nós; podes passar a escrever melhor se leres uma frase incrível escondida algures dentro das páginas de um de nós ...”
KFºÇDKF
Tenho mais 3 no chão que ando a ler e mais 40.000 que tenho de ler antes de morrer. Ou que devia ler. Ou que queria ler. Ou que nunca hei-de ler. Às vezes pergunto-me como é que conseguem – aqueles que se dizem tão letrados e que conhecem a porra dos livros todos importantes que há neste mundo, como raio é que conseguem ter tempo para ler tanta porra de livro de 300 e 400 páginas??? Hããããã????!!! Não têm vida, só pode. Levantam-se a ler e deitam-se a ler, não estou a ver outra maneira. E mais – como raio é que conseguem lembrar-se de toda a informação importante que leram nesses 40.000 livros de 300 e 400 páginas????!!!
ÇDLFºÇDLF
Não tenho tempo, bolas! Não tenho tempo para ler os Hemingways todos, os Joyces, as toneladas de blá blá que o Pessoa escreveu, mais as catraifadas de romancistas ingleses, americanos e sul-americanos, mais os russos e os irlandeses e os prémios nóbeis e o raio que vos parta ...
Não consigo!!! A não ser que faça como o Marcelo e durma 2 horas por noite e leia tudo na diagonal. Mas ler na diagonal é LER? A diagonal faz-me sempre lembrar a rua diagonal onde o Harry Potter vai comprar varinhas mágicas, capas, vassouras voadoras, livros de poções e caldeirões. Eu preciso duma varinha mágica, não! eu preciso de 400 varinhas mágicas leitoras, que me leiam 400 livros por dia cada uma.
DÇFÇLDF
E para que é que eu quero ler tanta porra de livro, anyway?
Aprendo mais a observar uma libelinha pousada num pau na praia do que a ler o sacana do Joyce ... Ou não? Não sei ... Caraças ... Pelo sim, pelo não é melhor começar já a ler o Ulisses, bolas, pá! Que chatice ...
DLKÇLDK
O que é que o Billy Idol faria numa situação destas, pergunto-me? Eu sei ... Ele dir-me-ia assim: “Fuck it, Marta!”, espetaria aquele beiço sexy para fora e pegaria fogo aos livros todos. E depois rir-se-ia e acrescentaria, espetando o punho: “End of problem.”
Fuck it!

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

PALAVRAS EMPRESTADAS 25


çdlfºçdlf
"Maria: -Podes parar de ver televisão por um segundo?
flkjgçlfk
Matthew: -Não ...
lkgçklfd
Maria: -Porquê?
fkljgçklf
Matthew: -Tive um dia mau, tive de corromper os meus princípios e prosternar-me perante um idiota. A televisão torna estes sacrifícios diários possíveis. Insensibiliza o âmago do meu ser.
lgkjçkl
Maria: -Então vamos mudar-nos.
lkjgkld
Matthew: -Há televisão por todo o lado. Não há fuga possível"
ldkfdçl

çlfçºdl

Trust - Filme de Hal Hartley

kfçld
ldkfdçlf
P.S. Toda a gente devia ver este filme ...

domingo, 21 de outubro de 2007

MAGIC MOMENTS 19

jkljhlgçhggçlkh
07 Billy idol - to...
kjkljk
Carta a Um Ídolo
(dêem o desconto... os ídolos são para serem estupidamente adorados)
lkgçflkgçl
When I'm down, you bring me up
When I'm dying, you wake me up
When I'm blue, you lift me up
When I'm lost, you pull me up
When I'm mad, you whisper softly to me
When I'm stupid, you yell hard to me
And you always, always make me dance like hell
After all these years, you're still my Idol, Billy
I worship your voice and your attitude
I wish I was that good in being that bad :)
lkgfçlkg
P.S. And no one looks better in leather ;)
jglkfdj
kjglkfjg

sábado, 20 de outubro de 2007

MURMÚRIOS DE LISBOA XLVII

Merlim e a Feiticeira
jgklfjg

kfdlkf
Conheço um Merlim e conheço uma Feiticeira.
O Merlim que eu conheço não tem barbas, é jovem, alto e magro e tem uns olhos azuis que dançam entre a loucura sadia e a curiosidade teimosa. Este Merlim anda perdido num país que ele pensava já conhecer tão bem como a palma da sua mão, mas que afinal se revelou uma terra de incógnitas, onde existem inquilinos inquietos, sedentos de paixão e emoção, que o atormentam de tempos a tempos.
A Feiticeira que eu conheço é delgada e frágil como um cipreste dançando em noites de luar e tem uns olhos castanhos suspensos entre a melancolia e o medo. Esta feiticeira anda perdida dentro de si mesma num país que ela pensava conhecer como a palma da sua mão, mas que se revelou um deserto infinito sem horizonte.
çlgºçflg
Enquanto Merlim andava perdido à procura de algo que ele ainda não descobriu o que é, encontrou a Feiticeira que anda em busca de si própria e ainda não se encontrou.
Suspeito que Merlim consegue avistar um pouco melhor que a Feiticeira o seu horizonte e que a Feiticeira consegue reconhecer um pouco melhor que Merlim os seus inquilinos e as suas vontades secretas.
fdº~ç
Numa noite mágica de Lisboa, Merlim e a Feiticeira coincidiram no mesmo troço das suas viagens infinitas e o tempo parou para os ouvir.
O céu azul noite aveludou-se em seu redor, as luzes dos homens e do espaço cintilaram a uma só voz, todos os sons se concentraram num murmúrio doce e espesso e pareceu que toda a cidade ficara suspensa bebendo calma e atentamente o cálice das suas palavras.
glºçflgºçf
O que disseram não posso contar. Quando um mago e uma feiticeira se encontram são congeminadas fórmulas secretas, ancestrais e misteriosas, que nas mãos erradas podem tornar-se perigosas. Por isso deixaremos a química desse diálogo no segredo dos deuses e das estrelas.
Mas do seu encontro nasceu uma nova fórmula, feita das portas e caminhos escondidos por onde ambos têm passado. Uma fórmula cujos ingredientes foram cozinhados durante algum tempo em lume brando. Esta fórmula é talvez apenas um princípio, uma chave. Um novo caminho por onde ambos podem viajar juntos sempre que lhes apetecer, uma chave que poderá abrir portas por onde nenhum dos dois conseguiu passar sozinho.
çlgfºçlgf

Sei apenas isto – que essa noite mágica foi engarrafada por ambos num pequeno frasco de vidro. Merlim guarda-o na sua colecção de momentos. A Feiticeira no seu colar de memórias.

PALAVRAS EMPRESTADAS 24



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~dçdºçºdç
“Cowards die many times before their deaths, the valiant never taste of death but once."
(Os cobardes morrem muitas vezes antes da sua morte, os corajosos apenas provam a morte uma vez.)
çdlºçld

William Shakespeare (Júlio César, Acto II, Cena II)

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

MURMÚRIOS DE LISBOA XLVI

Peter Pan’s Smile
dkçldk


Jardim Botânico
kdjkldj

When I was a little girl I believed in Peter Pan. I used to dream he would come into my room through the window and take me with him to fly ... fly ... fly away to Neverland.
Then I grew up and found the secret story hidden beneath Peter Pan children’s tale. The secret story only grown ups can understand.
And I stopped believing in Peter Pan. He was still there, of course, he always is, he’s always in the child we once were, but he becomes more like his own shadow, mixed with the shadow of the child we once were. And we soon forget about him, and he fades away softly in our memory ... like our own childhood fades away ...
ldkdçl
Not long ago I found myself standing in front of a man. A man with no age. I found myself staring into that man’s eyes. And I realized I was standing before Peter Pan himself. Of course I already had my suspicions, but one never really knows until one is faced with the truth.
çlfºçdl
You may wander how can I be so sure he was Peter Pan. Well ... because when he smiled all the children in every corner of the earth laughed inside his eyes and there were dozens of little wrinkles around the corners of those eyes and those are really fairies flying about playfully like tiny butterflies. And when I looked into those eyes and those wrinkles my soul lifted from the ground and flew to a place that is not on any map. A place I suspect is called Neverland ... And that’s how I’m sure it was Peter Pan, cause only Peter can have that kind of smile.
çflºçdlf
Peter Pan’s smile is really his secret weapon to decipher people’s souls. Because only good souls can take off with him and fly. And that’s how I found out I must be a good person. Because I flew smoothly and softly. You see, usually I stumble a lot, stutter even more and get really nervous when I’m facing a total stranger for the first time.
But something amazing happened. Of course I didn’t notice anything strange about my behaviour in that moment. It was only later, when I remembered everything, that I realized what had happened. Everything went on as if I wasn’t really me. I flew. I floated. I walked smoothly. I didn’t shake. I said the right things. I smiled and laughed. I even said jokes! My body moved following some kind of secret rythm, as if I had always done that all my life. (Ok, I stuttered once, but only once!)
And when it was over it felt so surreal, as if I had dreamt the whole thing.
And now I’m sure I did dream the whole thing. Because Peter Pan disappeared and he hasn’t said anything since. What other reason would he have not to say anything, except the fact that nothing ever happened because I dreamt the whole thing?
ldkçldk
Of course we’re talking about Peter Pan. He never stays too long anywhere ... anyway ...
And he likes to play tricks on people. So maybe he’s playing hide and seek.
There’s just one tiny little detail. I’m a grown up Wendy now. And grown up people don’t play hide and seek.
So, if you happen to see Peter Pan flying by near you, could you please tell him that fact of life?
Thank you ...

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

OS ANIMAIS DE ANDRÓMEDA

Borboleta (Monarca)
çflkçdºsl

ºdçfº~dçf

As borboletas monarca são famosas pela incrível migração de massa que realizam todos os Invernos desde a América do Norte até à Califórnia e México, numa viagem de cerca de 5.000 kms. A viagem começa no Outono, antes das temperaturas descerem, caso contrário serão mortas.
ºfçlºdçlf
Como todas as borboletas, as Monarcas também começam como ovos de onde nascem larvas que comem a casca do ovo e depois as folhas das árvores. As larvas transformam-se em lagartas gordas e coloridas que, por sua vez, se tornam crisálidas com uma casca dura protectora. Dessa casca emergem as borboletas adultas de maravilhosas cores laranja, branco e preto. O padrão colorido é propositadamente exuberante, pois avisa os seus predadores que são amargas e venenosas.
fçlºçdlf
As Monarcas que nascem no final do Verão ou início do Outono seguinte são diferentes das que nascem no princípio do Verão – elas são as voadoras e sabem, pela mudança climática, que devem preparar-se para a sua longa viagem de regresso.
kgçlfdkg
As Monarcas realizam apenas uma migração de ida, sem volta, pois duram apenas cerca de 6 a 8 meses. Serão os seus bisnetos que farão a viagem de regresso. É, por isso, extraordinário que as novas gerações sigam exactamente a mesma rota que as suas antepassadas, por vezes regressando até à mesma árvore dos seus bisavós!
kgçlfklg
As populações de Monarcas que veraneiam a Leste das Rocky Mountains estão a sofrer uma séria redução de elementos e a sua sobrevivência pode estar em perigo devido a uma série de desastres naturais ocorridos no México, assim como pela redução do número de árvores nas florestas que constituem o seu habitat.
ºdçg~ºç
Texto retirado do site da National Geographic
lfkjdlkf
Como é possível que um leve ... leve ...
bater de asas num canto do planeta
Faça tremer a Terra num outro canto do planeta?

Todas as acções têm consequências...
Até as de uma borboleta de 50 gramas de peso
Não é a alma que apenas pesa 21 gramas? ...

domingo, 14 de outubro de 2007

PALAVRAS EMPRESTADAS 23


Pessoa Cai de Cabeça da Torre Norte do World Trade Center,
Set. 11, 2001, by Richard Drew
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"From torched skyscrapers, men grew wings."
(De arranha-céus em chamas, a humanidade ganhou asas.)
kgjklfjg
Conto de Gregory Maguire (publicado no artigo Very Short Stories - Revista Wired, Novembro 2006)
(a escolha da imagem é minha)

terça-feira, 9 de outubro de 2007

OS ANIMAIS DE ANDRÓMEDA

Albatroz
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Os albatrozes são as aves que possuem a maior envergadura de asas quando abertas – até 3,4 metros – o que os torna numa visão verdadeiramente espectacular!
LGºÇFLG
Os albatrozes usam esta formidável característica para navegar os ventos oceânicos e muitas vezes para flutuar durante horas sem precisarem de descanso ou sequer de bater as asas. Como outras aves marítimas, bebem água salgada e flutuam na superfície do mar, o que lhes permite percorrer enormes distâncias sobre o mar. Um albatroz pode flutuar durante 6 dias seguidos sem bater as asas e “fazer uma sesta” ao mesmo tempo!
ºÇGºFÇG
Podem viver 50 anos e são raramente vistos em terra, juntando–se apenas para procriar, altura em que formam grandes colónias em ilhas remotas. Os progenitores produzem um único ovo e revezam-se a cuidar dele. Os pequenos albatrozes estão prontos para voar entre os 3 os 10 meses, dependendo da espécie e deixam solo terrestre durante 5 a 10 anos até atingirem a maturidade sexual.
ÇGLºFÇG
Algumas espécies de albatrozes sofreram severa caça devido às suas cobiçadas penas que eram utilizadas na confecção de chapéus de senhora. Das 21 espécies classificadas na IUCN (União Internacional de Conservação da Natureza e Recursos Naturais), 19 estão em perigo de extinção. Actualmente as maiores ameaças à espécie são a introdução de novas espécies de ratos e felinos que atacam os ninhos e os ovos, poluição, escassez de recursos alimentares (o albatroz alimenta-se de peixe, lulas e krill) e a pesca de linha longa.
LGºÇLFG
Texto retirado do site da National Geographic
ÇFLGÇLFG
Se eu fosse um pássaro seria certamente um albatroz
para ter asas do tamanho da Terra
aventurar-me sobre o mar sem medo
atravessar bonanças e tempestades sem vacilar
e carregar nas penas do meu frágil corpo
a força dos sonhos por realizar

sábado, 6 de outubro de 2007

PLIM! VII (Palavras Loucamente IluMinadas)


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"Nuvens ... Existo sem que o saiba e morrerei sem que o queira. Sou o intervalo entre o que sou e o que não sou, entre o que sonho e o que a vida fez de mim, a média abstracta e carnal entre coisas que não são nada, sendo eu nada também. Nuvens ... Que desassossego se sinto, que desconforto se penso, que inutilidade se quero!"
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Livro do Desassossego - Autobiografia Sem Factos, Composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa (semi-heterónimo de Fernando Pessoa)

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

MURMÚRIOS DE LISBOA XLV

E pronto, cá estou eu de novo, brise contínuo :) após alguns pedidos insistentes de umas poucas mentes perturbadas ;)

Este blog volta a estar activo, não tão activo como dantes, mas tentar-se-á alguma assiduidade.
Aqui vamos nós ...
fdlklçf ldkfl
Estepes Nos Teus Olhos - Parte III
çdlfºçfdl


Jardim Zoológico de Lisboa
çlfºçdlf
Vladimir aparece sempre do nada, tal e qual um felino silencioso e matreiro. Desta vez apanhou-me completamente de surpresa porque descobri-o ao meu lado, de pé, num autocarro a abarrotar de almas. A maré de pessoas embalou-me até ficar de costas para ele, a roçar-lhe o blusão de ganga que trazia vestido nesse dia, precisamente há 2 dias atrás, ou seja, quando regressei à labuta diária.
Dei por mim a deixar propositadamente que as minhas costas tocassem as suas costas. Queria tocar-lhe. Que ninguém me pergunte porquê. Mas sei o que queria. Queria sentir a força de Vladimir.
Depois deixei-o e fui sentar-me no último lugar, quando a maré de gente recuou e desaguou lá para fora, deixando o autocarro a respirar desafogadamente.
lkfldk
Havia dois miúdos ciganos, um casal de namorados muito novos e muito frescos, com a música do telemóvel a gritar alto e bom som. Eram incomodativos, mas ninguém lhes fez qualquer reparo, certamente com medo de represálias (atrás de 2 ciganos, pode sempre vir uma junta de 10 ou 20, mais tarde, qualquer dia, quem sabe ...)
Sentaram-se lá atrás, na minha fila de cadeiras. Tentei desligar do ruído, mas era de manhã ... e o telemóvel continuava a berrar músicas ciganas techno ... (imaginem a combinação ...) ou martelinhos ...
Vladimir viera parar próximo de mim, ainda de pé. O blusão de ganga combinava muito mal com as calças de fazenda cinzentas, mas os sapatos pretos continuavam como de costume, absolutamente impecáveis e brilhantes. Olhei as suas estepes e percebi que Vladimir não estava muito contente com a música ... Não estava mesmo nada contente ... Mas nem um músculo no seu rosto se moveu. Apenas as suas estepes estavam mais escondidas ainda do que era costume, por trás das pálpebras semicerradas.
Os seus movimentos continuavam lentos e delicados como os de um tigre pisando o terreno em perseguição da sua caça, quando se sentou suavemente de frente para o casal de miúdos e o seu telemóvel.
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E depois aconteceu algo que me fará sorrir até daqui a muitos anos. Estava entretida a observar a paisagem lá fora, quando subitamente a música se calou de vez. Instintivamente olhei para Vladimir e soltei um assobio interior prolongado. O que se passara, percebi, fora das demonstrações de poder mais primitivas e surpreendentes que alguma vez presenciei: os olhos do príncipe das estepes tinham-se semicerrado até ao limite dos limites e estavam escuros e opacos como nunca os vira antes. E fixos no rapaz cigano, que continuava a tagarelar com a namorada. Mas a música cessara e não mais se ouviu até os dois saírem algumas paragens antes da nossa.
Sem ter movido um único músculo do seu rosto ou do seu corpo, sem ter proferido um único som, Vladimir havia reduzido o miúdo a uma amostra de gente, despindo-o da carapaça e das defesas apenas com a intensidade das suas deslumbrantes estepes.
Depois, assim que o casal saiu, elas voltaram a abrir-se e a relaxar, como por magia.
jlkjkljkl
Dentro de mim proferi várias vezes "caraças!" e "chiça!", querendo sorrir e sem o poder fazer. E foi então que percebi que estou completamente apaixonada por este homem.
Não tentarei sequer explicar o que isto significa. Não gostava de ter nenhum caso com Vladimir :) Não sonho com ele à noite. Nem desejo que ele me ofereça flores. Mas estou apaixonada por ele.
lkfdlkf
Nesse mesmo dia encontrei-o de novo no autocarro, de regresso a casa. Estava perdida na paisagem quando voltei o olhar de repente para ele e o apanhei a observar-me subrepticiamente. O príncipe desviou os olhos tão rapidamente quanto pôde :) E lembrei-me da primeira vez que ele me deixou observá-lo. E sorri interiormente. Tenho a honra de poder observar as suas estepes relaxadas, sempre que quiser. O príncipe permite-me esse privilégio.
dkjldk
Nessa noite a última coisa que vi antes de adormecer foram as deslumbrantes estepes de Vladimir nos meus olhos.