sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

EM MINHA CASA, NA PONTA DOS PÉS 31 (cont.)

Capítulo 9. À BEIRA DA ÁGUA DETEVE-SE
ldkçkld
Takemis fora eficiente, rápido e silencioso. John sabia que podia confiar na sua discrição, mas mesmo assim nem lhe passou pela cabeça pedir a Takemis que lhe descrevesse Emily. Seria uma humilhação demasiado constrangedora, até para si, ou sobretudo para si. O motorista era fiel, mas era homem e não passava de um subalterno. Mesmo que o tivesse ensinado a conduzir quando ainda mal conseguia olhar pelo espelho retrovisor da enorme limusine onde Takemis ia sempre buscar os pais ao aeroporto. Trouxera-lhe três nomes e respectivos dados pessoais:
Sebastião Hesse, 55, Professor de História da Literatura.
Antoine Burgmeier, 38, Professor de Literatura Contemporânea.
Paolo Kazan, 35, Professor de Escrita Criativa.
Era pouco. Ficou a meditar naqueles três nomes a tarde inteira. Hesse, Burgmeier, Kazan. Hesse, Burgmeier, Kazan. Hesse, Burgmeier, Kazan.
Quando ela chegou, os três nomes haviam-se tornado uma espécie de ladainha na sua cabeça e quase os repetiu em voz alta, em vez do habitual cumprimento.
Parecia-lhe distraída? Notara alguma diferença na sua voz? Decerto que havia ali qualquer coisa diferente, quando ela fazia as pausas, sobretudo nas pausas.
Nos dias subsequentes esteve mais atento ainda do que lhe era habitual. Prescrutou a sinfonia de Emily, tentando penetrar-lhe a alma, tentado decifrar todas as pausas, todos os suspiros, todas as palavras, sílabas, letras.
Cada letra adquirira para si, desde a perda da visão, um som muito característico. Descobriu, por exemplo, que era possível atribuir-lhes cores. As letras tinham a sua própria personalidade, como os números para os matemáticos. Por algum motivo, o ser humano precisa sempre de conferir significados lógicos a todas as coisas, mesmo as mais abstractas como as nuvens no céu, ou as sombras numa parede.
O A era claramente amarelo. A letra mais vulgar do alfabeto em qualquer língua. A mais aberta, generosa, alegre, saltitando de sílaba em sílaba, de palavra em palavra, preenchendo todos os espaços vazios com o seu corpo, como o sol ilumina e aquece todas as coisas vivas e faz brilhar todas as coisas mortas.
O B era imperativo, bruto por vezes. Era da cor dos mantos imperiais, um encarnado rico e aveludado, cheio de autoridade e que incutia respeito. O P partilhava esta personalidade.
Já o C era erótico, nascido do fundo da garganta para dar à luz palavras proibidas. Tinha a cor da pele, que percorria o espectro cromático do rosa pálido até ao vermelho sangue.
O D era louco, claro. Soltava espasmos risonhos de quando em vez, logo regressando a uma aparente calma momentânea, para explodir de novo em gargalhadas cristalinas …
klfdjfdkl
“Tão-somente ter cessado.
çclºçcl
Como se eu pudesse começar
onde cessou a minha voz, eu mesmo
o som de uma palavra
ºçclkcºçl
que não consigo articular.
ºçcçlkºcçl
Tanto silêncio
para trazer à vida
nesta carne apreensiva, o ribombar
do tambor das palavras
na interioridade, tantas palavras
clklcçk
perdidas na amplitude do meu mundo
interior, e assim ter sabido
que apesar de mim
cçlcçºl
eu estou aqui.
cºçlcºç
Como se fosse isto o mundo.” (42)
lckçlck
Na sua boca, na boca de Emily, esse maravilhoso e mágico instrumento de vocalização, as letras ganhavam tonalidades iridescentes, misturavam-se com sabores e renasciam como maravilhosas trepadeiras luxuriantes, ondas plenas de vida fervilhante ou arco-íris orquestrados por seres alados. E mais surpreendente do que a obra-prima que ela era, era o facto de ela nem sequer se aperceber de metade do que fazia. A criatura era como uma maravilhosa borboleta tropical, sem consciência da sua beleza estarrecedora, esvoaçando de letra em letra, saltitando de palavra em palavra e deixando atrás de si um fio ténue de frases tecidas por fadas e constituído por milhares de frágeis gotículas transparentes que reflectiam todas as combinações de cores possíveis de imaginar, que transpareciam todas as emoções possíveis de sentir, sem que por um instante da sua efémera vida ela tivesse consciência das catedrais linguísticas que deixava edificadas atrás de si.
Interrompeu o Kafka para a fazer ler poesia. Queria auscultar-lhe o coração e tentar descobrir se ele começara a bater com mais força do que o habitual.
lçkdçkd
“Julgada sempre e Condenada por ti
Permite-me esta clemência
Que morrendo possa merecer o olhar
Pelo qual cesso de viver“ (43)
ldçkdçlk
(42) In Memory of Myself (Em Memória de Mim Mesmo) – Paul Auster
(43) Sem título – Emily Dickinson

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

MURMÚRIOS DE LISBOA LVI

Leonardo e o Mestre da Perspectiva
lfçºfdl

Graffiti algures em Lisboa
ºçdlfºçdlk
Leonardo apeou-se calmamente na paragem do autocarro (apesar de ter ficado maravilhado com os automóveis, Leonardo recusou-se a entrar num com o funcionário da câmara, não sabemos exactamente porquê), atravessou a rua e estacou diante de um muro discreto que formava uma reentrância na esquina daquele quarteirão, de trânsito movimentado.
Depois proferiu, solenemente: "Eis, a obra-prima!", apontando com um movimento ascendente e suave do braço. A sua respiração era profunda e o seu porte de longas barbas brancas, metia respeito.
O funcionário da câmara que o seguia esbaforido, enfiado num fatinho e gravata demasiado apertados, suava um pouco e levou a mão à testa para limpar algumas gotículas que haviam surgido na pele, apesar do ar condicionado do transporte público. Olhou para o muro, depois para Leonardo e finalmente de novo para o muro. As suas pupilas subiram lentamente, procurando quiçá nas copas das árvores que brotavam por trás e na parte superior da parede, o objecto da devoção do seu interlucutor. As sobrancelhas finas acompanharam o movimento das pupilas, lentamente, e depois estas rodopiaram da direita para a esquerda e de novo para a direita. "Estaria a escapar-lhe algo?", pensou. A única coisa que via à sua frente eram uns gatafunhos pretos e prateados desenhados no muro.
"Não entendo ... Mestre ... Onde?"
"Ma guarda! Qui!", Leonardo voltou a repetir o gesto ascendente da mão, desta vez mais veemente e menos suave.
O funcionário da câmara constatou novamente que aquilo que via diante do seu nariz era apenas um graffiti rabiscado na parede.
"Dove? ... Dove ... Mestre?"
"Questo! Ecco! Questo qui!!!", e Leonardo aproximou-se do gatafunho e levou o dedo indicador da mão direita a escassos milímetros do graffiti.
Agora era inequívoco e o funcionário da câmara ficou pálido e um pouco baralhado. Sentiu o suor inundar-lhe novamente a testa.
"Mas ..."
"Ah! ....", Leonardo abriu os braços diante da palavra escrita no muro - "Shine", depois afastou-se uns metros no passeio para o seu lado esquerdo e admirou novamente o graffiti. Chamou com um gesto da mão o funcionário para que o seguisse e continuou, "Repare na perspectiva. No brilho das cores. Na forma como as letras parece que saem da parede para vir ao seu encontro. E quanto mais longe estiver, melhor este efeito será. E à medida que se movimenta", e Leonardo movimentou-se agora para a sua direita, para demonstrar fisicamente o que queria dizer,"a palavra segue-o, parecendo viva. É soberbo. Um mestre da perspectiva. Quem é? Preciso de o conhecer."
"Mas ... mas ...", o funcionário da câmara parecia ter encravado naquela palavra, como um disco riscado num velho prato perro.
"Quem é?", repetiu Leonardo, ansioso.
E então, aparentemente, o cérebro do funcionário da câmara parou de carburar e apenas proferiu:
"Mestre, não quer ver as obras da Paula Rêgo no Palácio de Belém? Obras-primas, Mestre. Concebidas exclusivamente em honra do nosso Presidente da República ... são obras contemporâneas ..."
"Ma non!!!!", Leonardo explodiu finalmente, "Questo! Questo é veramente meravilhoso. Quem é? Não tem assinatura."
O funcionário da câmara começou a sentir uma leve tontura.
"Não sei, Mestre ..."
"Não sabe?!!!!", tonitruou Leonardo, os olhos muito abertos, as sobrancelhas espessas unindo-se perigosamente no meio da testa, formando um "V" carregado de pêlos eriçados cinzentos.
"Não ... sei ... São delinquentes. Delinquenti (como se diz "delinquentes" em italiano?, pensou). Presos. Cadeia. Prisione. Sujam a cidade. La citá non é limpa.", aventurou, a voz tremelicando cada vez mais.
Os olhos de Leonardo saltaram-lhe das órbitas e o funcionário da câmara juraria mais tarde, ao relatar o incidente ao Presidente da Câmara atónito, que vira fumo e ouvira trovões em redor do Mestre.
"Como é possível??!!! Ma non é POSSIBILE!!!! Ma questo é U-NA O-BRA PRI-MMA.", soletrou bem as sílabas, como se estivesse a falar com um atrasado mental, "Cappice?"
E foi nessa altura que o calor tomou conta do pouco dos nervos que restavam do funcionário da câmara e tudo ficou negro à sua volta.
No dia seguinte, a câmara pediu à polícia para emitir um comunicado pela cidade: "Desapareceu ontem, dia 28 de Fevereiro de 2008, Leonardo Da Vinci, Mestre renascentista. Veste longa túnica de seda carmim, calças amarelo mostarda e capa azul cobalto. Tem uma longa barba branca e olhos inteligentes e vivos. Pede-se a todos os que o possam ter avistado, que entrem imediatamente em contacto com as autoridades. Perigoso. É possível que tenha procurado refúgio junto de graffiters."

P.S. Este post é dedicado a todos os graffiters de Lisboa, em especial ao João, aka Doom, que anda por aí a criar arte pelos muros da cidade.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

GEOLÂNDIA 4

BIPOLAR
LGKÇLFKG
LKGFÇLK

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Passo os dedos pelo dicionário ao acaso e aterro em ...

GÁS
çdlfºçdf

çdlkçfld
But it's all right, I'm Jumpin' Jack Flash,
It's a Gas! Gas! Gas!

sºçlsdºç
"´Tás com um gás, que ninguém te pára!", costuma dizer-se daqueles que andam mais acordados para a vida do que é costume.
ºdfçlçdf
Quem tem gás, está com a pica toda, está em cima, anda sempre a abrir, ninguém o pára, anda com os sentidos todos alerta, sai-se com ideias brilhantes numa sucessão ininterrupta e invejável, parece que bebeu 30 cafés seguidos ou que anda a snifar cocaína regularmente, apesar de não ter tocado em nenhum destes excitantes.
Quem tem gás, ou é sempre divertido, ou anda sempre a correr de um lado para o outro, ou é um "homem" dos 7 instrumentos ou tem uma estâmina física e psicológica invejável.
Ter gás é, portanto, estar mais vivo do que é habitual ou estar vivo de um modo diferente do que é habitual na maioria dos representantes desta nossa espécie.
fkçlkdf
Há aqueles que têm gás constantemente e, ou são olhados com inveja ou com desprezo, consoante os casos. Diria que um muito bom exemplo deste tipo será Mick Jagger que, aos 64 anos, continua com um nível de gás verdadeiramente fascinante, arrumando a um canto muitos jovenzitos de 20 e tal. Um outro muito bom exemplo nacional é o Professor Marcelo, cuja mente e cujo corpo parecem movidos a propulsão espacial.
çlfkdçlkf
Há os que têm gás ocasionalmente, como se ligassem e desligassem uma ficha secreta voluntária ou involuntariamente. São fases e todos as temos. A maioria de nós encaichará nesta categoria, provavelmente, com níveis e frequências diferentes. Os casos de doença bipolar (ou maníaco-depressão) são disto o exemplo mais extremado. Ora estão lá em cima com o gás todo, explodindo constantemente numa conquista do mundo imparável, ora caem a pique por ali abaixo, resvalando no extremo oposto, a depressão assustadora e desoladora.
kdjfkldjf
E depois há os casos extremos. Os que nunca têm gás e que parecem completamente amorfos, apagados ou demasiado calmos (desconfio sempre de quem nunca rebenta - ou está a fingir, ou acumula tudo, o que se torna perigoso). E os que têm gás a mais, parece que estão sempre ligados à ficha, algo assustador e cansativo.
djfkl
Como em tudo na vida e exactamente como o esquentador lá em casa, o gás deve ser controlado para níveis aceitáveis, para nós e para os outros. Senão, não passaremos ou de uma botija prestes a explodir, ou de uma botija a precisar de ser substituída urgentemente.
kjfldkjf
P.S. Há também os gases, no plural. Estes são sempre saudáveis de largar e nunca devem ser guardados (a não ser em jantares de gala com a rainha de Inglaterra, bem visto). Ou, como dizia a minha Abuelita chilena: "Los presos tienen que salir." :)

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

EM MINHA CASA, NA PONTA DOS PÉS 30 (cont.)

Capítulo 8. UM DESSES LONGOS E MISTERIOSOS CONCILIÁBULOS

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Pensou e repensou no que ele lhe dissera, sem perceber se fora uma advertência ou uma espécie de ameaça. Aquilo fora dito no seu habitual tom paternalista e sarcástico e Emily nunca conseguia perceber, a não ser a posteriori, se ele estava a falar a sério ou se lançava aquelas frases à toa, só para a picar.
À hora do almoço, esperou que todos saíssem e regressou à sua pesquisa no computador da biblioteca, desta vez para procurar saber mais informações sobre Charlotte Brontë. Claro que acabou por se embrenhar em todas as irmãs Brontë e quando deu por si, tinha de novo o professor inclinado sobre o seu ombro, hoje ainda mais próximo do seu rosto do que no dia anterior.
Ele sorria-lhe, um sorriso que lhe erguia as maçãs do rosto até lá acima, vincando-lhe os papos dos olhos em socalcos ainda mais profundos e franzindo-lhe o nariz abatatado. Reparou também que cheirava um pouco a álcool e que estava bastante comunicativo, enquanto se dirigiam para um dos cafés da universidade, em frente da biblioteca, do outro lado da praça rectangular. Contornaram o quadrado verde de relva bem aparada e entraram no café, ainda cheio de alunos. Emily reparou que muitas cabeças se viraram discretamente, enquanto os dois tomavam os seus lugares numa mesa junto da janela, observando-os com curiosidade. Não se dava com ninguém, para além do pessoal da biblioteca e de um ou outro aluno mais marrão, por isso, sabia que aqueles olhares significavam que os seus observadores se interrogavam sobre quem seria a jovem que acompanhava o professor. Mas não se importou muito com eles, precisamente porque não conhecia ninguém. Quanto ao professor, parecia-lhe absolutamente abstraído do resto do mundo, enquanto dissertava sobre Joyce e o seu Wake.
Prestou pouca atenção ao que ele dizia. As suas palavras não eram simples, como as de John, nem a sua voz exercia sobre ela o mesmo efeito hipnotizador que a voz dele conseguia, provavelmente porque, ao contrário de John, Hesse falava demasiado, contorcendo-se em espirais de frases rebuscadas compostas por palavras demasiado complicadas para a sua compreensão. Limitou-se a sorrir e abanar a cabeça, enrolando por vezes uma madeixa de cabelo num dedo e mais preocupada em discernir através da sua visão periférica os olhares que provocava no café, do que em tentar perceber em que direcção esvoaçavam as ridículas moscas varejeiras dentro daquele frasco de compota enjoativo.
Felizmente que aquele breve interlúdio passou rapidamente e ela teve que desculpar-se com o regresso ao trabalho. Hesse, no entanto, não desistiu e acompanhou-a de novo até à biblioteca, não interrompendo nem por um segundo a sua incessante verborreia e prolongando-a mesmo quando Emily já se sentara no seu lugar, desejosa de voltar às suas aborrecidas mas silenciosas fichas de leitura. Despediu-se, finalmente, quando Amanda os interrompeu para colocar uma questão a Emily, e ela nunca abençoou tanto a presença da tonta companheira como nessa tarde.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

MAGIC MOMENTS 27

Beijo #4 - O Beijo Assolapado
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Em noite de Oscares, um beijo selvagem, louco e inesperado do fantástico Nicholas Cage à magnífica Cher, no fabuloso "O Feitiço da Lua".
dkçlkd
O beijo vem mesmo no final do clip, mas vale a pena ver todo o diálogo que conduz até à sua inevitabilidade :)
E depois, no dia seguinte, ele diz que a ama e ela dá-lhe um valente estalo e responde-lhe o famoso "Snap out of it!" que, traduzido para português, fica algo como "Acorda para a vida!".

sábado, 23 de fevereiro de 2008

OS ANIMAIS DE ANDRÓMEDA

SURICATA
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gçlfkg
Estes animais gregários são frequentemente vistos em grupo e, como os humanos, podem inclusivé existir comunidades grandes de suricatas constituídas por várias famílias que vivem juntas. As suricatas, do tamanho de esquilos, são famosas pela sua postura vertical, algo cómica. Erguem-se frequentemente sobre as patas traseiras e observam de olhar esgazeado o horizonte, nas planícies sul-africanas, onde habitam. As mães conseguem até dar de mamar às crias, enquanto estão nesta posição.
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As suricatas trabalham em conjunto, dividindo-se por grupos. Um grupo servirá de vigia, observando os céus para avistar aves de rapina, como falcões e águias, que podem agarrá-las em pleno vôo. Um grito agudo e cortante constitui o sinal para que todas se resguardem. Enquanto este grupo fica de guarda, as restantes suricatas ocupam-se da alimentação. As suricatas alimentam-se de insectos, lagartos, pássaros e fruta. Quando caçam presas pequenas, trabalham em conjunto e comunicam através de ronronares. As suricatas são excelentes caçadoras e são muitas vezes domesticadas para servirem de caçadoras de roedores.
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Os grupos de suricatas utilizam diferentes tocas e deslocam-se de umas para outras. Cada toca constitui um sistema extenso de túneis e cavidades que permanece fresco mesmo debaixo do sol abrasador africano. As fêmeas procriam de 2 a 4 crias por ano. Os pais e os parentes mais próximos ajudam a cuidar das crias, ensinando-as a brincar, a alimentarem-se e a protegerem-se da ameaça aérea constante. As jovens suricatas têm tanto medo das aves predadoras que até os aviões têm como condão fazê-las escapulirem-se como relâmpagos para os seus refúgios.
kfçlkg
Aiaiaiaiaiai .... Pareceu-me ver ... Espera .... Não! Afinal não é! Espera ... Espera! Será? É mesmo! Socorroooooooooooo!!!!!! Fujam!!!!!!!!! Falcão à vista!!!!! Falcão à vista!!!!! Alarme!!!!!! Alarme!!!!!! Alarme!!!!! Aos abrigos, malta!!!! Alarme!!!! Alarme!!!! Alarme!!!!! Ufa ... ufa ... ufa ... depressa ... depressa ... Para ... a ... toca ... (arf! arf! arf! arf! arf!) Safei-me ... fuiuuuuuuu .... Desta foi por pouco ... Xiiçaaaa ...
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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

EM BUSCA DE PALAVRAS 12

AVISO: Este post é de leitura interdita a menores de 18 anos ou a pessoas sem o mínimo de bom senso ou senso de humor dentro da tola
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A Melhor Amiga de Um Sniper – Parte X
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A minha casa parece uma zona de guerra. Quem estiver a ouvir do lado de lá da parede julgará que a 3ª Guerra Mundial estalou no apartamento ao lado. Já ouvi mais tiros em três meses de pesquisa do que imaginaria ouvir em toda a minha vida. E certamente já disparei mais tiros de pressão de ar do que jamais julgaria possível (mas isso fica para outro capítulo).
No meu computador guardo um verdadeiro arsenal de informação suspeita: sites sobre as 100 melhores espingardas do mundo, newsgroups sobre sniper gear, homepages israelitas sobre manuais de combate, dicas da National Rifle Association e uma lista infindável de dados dispersos sobre o comportamento de snipers em teatros de guerra, guerrilha, biografias de snipers lendários, atiradores furtivos psicopatas e sociopatas, para não falar das dezenas de fotografias de pistolas, revólveres, espingardas e balas que tirei e recolhi.
Uma rápida vista de olhos pela sala revela revistas de armas e fotocópias de artigos sobre armas espalhados pela mesa da sala, uma catraifada de DVD’s comprados e emprestados sobre guerras, criminosos e assassinos e uma pistola daquelas de montar que se compram em lojas de kits, que parece verdadeira e que anda comigo entre a sala, a cozinha e o quarto – sempre que tenho de me deslocar dentro de casa, agora faço-o à polícia, deslizando através das paredes e cobrindo cantos de pistola em riste e gatilho preparado para disparar – estou a ficar treinada.
Matar ou morrer, eis a questão.
dçldºç
Em contrapartida, e mesmo que acabe surda com tanto tiro ou vesga de tanto rebobinar DVD’s para ver um sniper disparar o mesmo tiro 50 vezes seguidas, estou a ficar verdadeiramente versada e fascinada em matéria de snipers. Já dou por mim a andar na rua a olhar para os topos dos prédios e decidir se aquele é um bom sítio para posicionar um sniper. Ou seja, se não ficar surda nem vesga, corro o risco de morrer atropelada. Por isso, se um dia alguém chocar consigo na rua, não se preocupe, não é Impulse, sou só eu a fazer scouting de pontos de atirador.
dklçlk
Só tenho uma dúvidazinha ... de todos os personagens que me poderiam ter assaltado o espírito, tinha logo que ser um assassino profissional, ainda por cima sniper???!!!! Com tanta profissão que há para aí, meu deus ... Eu sei lá, um jardineiro, um porteiro, ou mesmo um ladrilhador, quiçá um gajo que não fizesse a ponta dum chavo (pois ... a verdade é que eu já escrevi sobre um gajo que não fazia a ponta dum chavo ...)
É que, e vou ser absolutamente franca, eu não gosto de armas, as guerras assustam-me, tenho medo da morte e o mundo do crime e das armas é feio, absurdo, violento, denso e pesado.
Mas schiuuuuuu... eu não disse isto .... porque se ele me ouve, tou tramada.
E a resposta é: Sim, os personagens têm destas coisas e é um assunto que não está aberto a discussões, sequer. Quando estão a sair e exigem ser escritos, pode cair o Carmo e a Trindade, é que não vale mesmo a pena barafustar. Ponto final. Não tenho, portanto, outro remédio senão continuar ... a ouvir tiros ...
dºçklºçd
Hasta la vista ... baby ... (Suspiro)

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

GEOLÂNDIA 3

SEGREDO
SDKFÇLDSK
ºKFDÇLSK

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

EM MINHA CASA, NA PONTA DOS PÉS 29 (cont.)

Capítulo 8. UM DESSES LONGOS E MISTERIOSOS CONCILIÁBULOS
fkºkg
“Fausto:
E agora, aonde vamos?”
Mefistófeles:
- Aonde quiseres,
Para o pequeno e o grande mundo veres.
Ah, que alegria e que proveito
Não tirarás do curso, à borla feito!” (41)

flºçflg
Fitou-o, apanhada de surpresa, e desejou que ele terminasse o raciocínio, mas ele virou o rosto para a escuridão da janela, encerrando o assunto por ali.
kfgkfg
Nessa noite sentiu-se a desejar ardentemente poder recuperar a visão. Apenas um segundo, pensou e repensou milhentas vezes, repetindo esse pensamento interminavelmente, como uma espécie de oração mágica. Não para vê-la a ela. Não precisava já de a ver. Mas para vê-lo a ele. O professor de literatura. E logo deu por si a pensar em inúmeras outras coisas que nunca considerara e a julgar-se profundamente idiota por nunca as ter pensado e por ter começado a pensá-las nesse momento.
Certamente que a rapariga tinha uma vida, para além daqueles finais de tarde que passava consigo. Apesar de ter quase a certeza que não haveria nada digno de nota, nenhum momento grandioso, nenhum acontecimento terrivelmente marcante, nenhuma decisão, nenhuma visão, nenhum golpe de génio, apesar disso, ela teria uma vida. E por mais insignificante que fosse, não deixava de ser a sua vida, única, irrepetível, exclusivamente dela. A vida de Emily.
Nunca lhe passara pela cabeça que ela poderia ter um namorado, por exemplo. Ou um marido. O seu estado civil era descrito no curriculum como solteira, mas ela podia ter mentido, apesar de lhe parecer que não haveria necessidade nenhuma para o fazer. Mesmo assim, ele não poderia assegurar-se disso sem fazer uma investigação concreta, porque não a conhecia de lado nenhum. Na sua maioria, as pessoas não guardavam muitas surpresas, mas quando isso acontecia os fantasmas escondidos nos sótãos privados de cada um podiam revelar-se surpreendentes. Ele sabia isso por experiência própria, quando trabalhara como advogado. E normalmente era com as menos óbvias que isso acontecia. A vida ensinara-lhe que muito raramente aquilo que parecia correspondia, de facto, à realidade.
Portanto, havia um professor. Que sabia que ela estava a pesquisar Joyce. Teria a criaturazinha recorrido aos seus préstimos para a ajudar a decifrar o embróglio do irlandês? Ou ter-se-ia ele oferecido para essa tarefa, na esperança de receber algo em troca? John também sabia que muito raramente as pessoas se prestavam a ajudar alguém, sem que houvesse uma retribuição em mente, fosse ela qual fosse.
Isto acicatou-lhe de novo a curiosidade em conhecer a sua aparência física. Debateu-se com ela boa parte da noite, caindo várias vezes na estupidez de imaginar uma possível conversa com Clara, em que tentaria dissimuladamente levá-la a descrever a rapariga mas, de todas as vezes que chegava ao fim desse exercício, soltava uma exclamação sussurrada de impotência, concluindo que nunca conseguiria enganar Clara dessa forma.
Portanto, havia um professor. De literatura. Nas suas palavras não houvera qualquer indício que o pudesse ajudar a decifrar-lhe a idade. E, embora qualquer conjectura que pudesse fazer fosse absolutamente inútil, de cada vez que pensava nele, imaginava-o da sua idade, no auge da vida, portanto, cheio de força e vigor, inteligente e dedicado e interessado na sua nova aluna, disposto a entusiasmá-la na leitura de um dos escritores mais interessantes da história.
Dormiu pouco nessa noite. E, quando acordou na manhã seguinte, chamou imediatamente Takemis, o motorista, ao seu quarto, mesmo antes de se vestir. Takemis saiu logo a seguir à conversa com o patrão e só regressou à hora do almoço.
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Claro que quando lhe diziam para ter cuidado com alguma coisa, era quando ela fazia precisamente o contrário. Por isso, aceitou o convite.
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(41) Fausto – Johann W. Goethe

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

MAGIC MOMENTS 26

Beijo #3 – O Beijo Canibal
glkfçklg
Mais sensual que isto? É difícil ... :)
çgklçfg


lfkg
çlfkggkfkgçkl
By the way, este foi o beijo que não foi incluído na montagem final do filme "Hannibal".
E agora, como diria o próprio, vou andando, ta ta ...

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Passo os dedos pelo dicionário ao acaso e aterro em ...

ASSOMO
fldklçk

çlfddºçlfLKÇLDFK
A vida é feita de assomos, mais do que de aparições repentinas. Os assomos são a poesia de que todos nós somos capazes, mesmo os que dela nada entendem ou dizem não apreciar. çlkfçld
Assomamos à beira das vaginas das nossas mães. Assomamos no rebordo de portas entreabertas em contra-luz, espreitando assomos de outros que se esgueiram e nos assustam ou fascinam. Assomamos no rebordo de beijos, de manjares, de carícias, de páginas de livros, de jornais, de pedaços de anúncios, de primeiros acordes de músicas que adivinhamos porque já são nossas há muito tempo.
Os assomos provocam-nos esgares de espanto, de terror, fazem-nos cócegas na imaginação, despertam-nos os sentidos, provocam-nos taquicardias inesperadas, fazem-nos sonhar.
çlflkf
Assomamos na vida de alguém, pé ante pé, devagarinho, tacteando terrenos desconhecidos, ou assomamos na nossa própria vida, experimentando, aprendendo, criando hábitos, ganhando coragem, perdendo medos.
Tudo começa sempre por um assomo. E quando não é assim, algo está errado ou faz-nos recuar, aguardar em expectativa, desconfiar, assustar.
Colocar o pé na água, tacteando terreno, assomando, ou entrar de chapão?
kdjfkld
Sempre que somos um assomo, desenhamos um verso no mundo que poderá ou não ser continuado, partilhado, construído em conjunto, para formar um poema inteiro.
Os poemas começam assim, por assomos sucessivos, intercalados, cada vez mais descarados.
Mas ... alguma vez deixaremos de ser apenas cascatas traquinas e inesperadas de contínuos assomos?

domingo, 17 de fevereiro de 2008

OS ANIMAIS DE ANDRÓMEDA

RAPOSA
FKLÇLFKJ

LFKÇLFK
As raposas vermelhas habitam numa grande diversidade de lugares, incluindo florestas, montanhas e desertos. Também se adaptaram bem a ambientes humanos, como quintas, áreas suburbanas e até grandes comunidades. As suas capacidades de sobrevivência - a sua inteligência e o facto de serem muito matreiras - tornaram a sua reputação lendária.
JFKJFDL
As raposas vermelhas são caçadoras solitárias que se alimentam de roedores, coelhos, pássaros e outros animais de pequeno porte – mas a sua dieta pode ser tão flexível quanto o seu habitat. As raposas alimentam-se também de fruta e vegetais, peixe, rãs e até minhocas. Se viverem próximo de humanos, as raposas aproveitam-se de lixo e da comida de animais domésticos.
FKJLKF
Como acontece com os gatos, a cauda grossa da raposa serve para lhe fornecer equilíbrio, mas também tem outras funções, como mantê-la quente em climas frios, se enrolada à volta do corpo, e como uma espécie de bandeira para comunicar com outras raposas. As raposas também comunicam entre si utilizando marcas de cheiro – urinando em troncos de árvores ou rochas para anunciar a sua presença.
ÇKÇFKLF
No Inverno as raposas encontram-se para procriar. A fêmea dá à luz normalmente uma ninhada de 2 a 12 crias. Estas nascem com pêlo castanho ou cinzento. Uma nova capa de pêlo vermelho crescerá no final do primeiro mês de vida, mas algumas raposas vermelhas são douradas, vermelho-acastanhadas, cinzentas ou mesmo negras. Ambos os progenitores cuidam da sua ninhada até ao Verão e, por alturas do Outono, já as crias estão suficientemente crescidas para conseguirem sobreviver sozinhas.
GKJKLG
As raposas vermelhas ainda são caçadas por desporto e são muitas vezes mortas por serem irritantemente destruídoras ou portadoras de raiva.

FKLÇLFK
"- Por favor, prende-me a ti! - acabou finalmente por dizer.
- Eu bem gostava . respondeu o principezinho - mas não tenho muito tempo. Tenho amigos para descobrir e uma data de coisas para conhecer ...
- Só conhecemos as coisas que prendemos a nós - disse a raposa - Os homens, agora, já não têm tempo para conhecer nada. Compram as coisas já feitas nos vendedores. Mas como não há vendedores de amigos, os homens já não têm amigos. Se queres um amigo, prende-me a ti!
- E o que é que é preciso fazer? - perguntou o principezinho.
- É preciso teres muita paciência. Primeiro, sentas-te um bocadinho afastado de mim, assim, em cima da relva. Eu olho para ti pelo canto do olho e tu não dizes nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas todos os dias te podes sentar um bocadinho mais perto ...
O principezinho voltou no dia seguinte.
- Era melhor teres vindo à mesma hora - disse a raposa. Se vieres, por exemplo, às quatro horas, às três, já eu começo a ser feliz. E quanto mais perto for da hora, mais feliz me sentirei. Às quatro em ponto já hei-de estar toda agitada e inquieta; é o preço da felicidade! Mas se chegares a uma hora qualquer, eu nunca saberei a que horas é que hei-de começar a arranjar o meu coração, a vesti-lo, a pô-lo bonito ... São precisos rituais.
(...)
E então voltou para o pé da raposa e disse:
- Adeus ...
- Adeus - disse a raposa - Vou-te contar o tal segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos ..."
- O essencial é invisível para os olhos - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.
- Foi o tempo que tu perdeste com a tua rosa que tornou a tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa ... - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.
- Os homens já se esqueceram desta verdade - disse a raposa - Mas tu não te deves esquecer dela. Ficas responsável para todo o sempre por aquilo que está preso a ti."
O Principezinho - Antoine de Saint-Exupéry
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sábado, 16 de fevereiro de 2008

EM MINHA CASA, NA PONTA DOS PÉS 28 (cont.)

Capítulo 8. UM DESSES LONGOS E MISTERIOSOS CONCILIÁBULOS
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“Bem … todos os artistas são assim … obcecados com qualquer coisa. Não me faz confusão nenhuma que ele tenha desperdiçado dezassete anos de vida num livro. O Tolstoi não demorou dez a escrever Guerra e Paz?”
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“A sala de Ana Pavlova enchia gradualmente. A nata de Petersburgo chegava, pessoas muito diferentes em idade e carácter mas semelhantes pelo facto de pertencerem à mesma classe da sociedade. A filha do Príncipe Vasili, a formosa Hélène, veio buscar o seu pai para a festa do embaixador. Envergava um vestido de baile e o seu emblema de dama de honor. Depois havia a jovem pequena Princesa Bolkonsky, conhecida com la femme la plus séduisante de Pétersbourg. Tinha-se casado no passado Inverno, e agora, devido à sua condição, tinha deixado de aparecer em grandes eventos mas ainda frequentava pequenas recepções. O filho do Príncipe Vasili, Príncipe Hippolyte, chegou com Mortemart, que apresentou a todos. O Abade Morio e muitos outros também compareceram.” (40)
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“Sim, Emily, mas repare – Guerra e Paz é um romance que toda a gente consegue ler. É um grande clássico, complexo, histórico, profundo, mas continua a ser uma história contada por alguém que sabe contar histórias. Enquanto que o Wake é uma coisa impossível de entender.”
“Bem, mas a culpa não é dele, não é verdade? Que culpa tem ele que nós não consigamos ser suficientemente inteligentes para entendê-lo? O problema é nosso.”
John soltou uma suave gargalhada.
“Realmente … você agora fez-me pensar no Einstein.”
“O que tem o Einstein?”, remexeu-se na cadeira porque ciência não era com ela.
“Se Einstein pensasse como eu penso, nunca teria formulado a sua Teoria da Relatividade Restrita e tudo quanto lhe sucedeu, porque na altura os seus conceitos de espaço e tempo eram absolutamente revolucionários. Ainda o são, hoje em dia. Nem sequer se ensinam essas coisas no liceu. A teoria predominante continua a ser a clássica, ou de Newton.”
“Ora aí tem. Um belo exemplo. E isso não significa que ele não esteja certo, pois não? Nós é que somos demasiado burros para o compreender. Talvez se passe o mesmo com Joyce. Talvez ele tenha escrito algo demasiado avançado para o seu tempo, mas que na sua cabeça fosse relativamente simples, ou pelo menos muito mais simples do que para nós.”
Durante um longo momento, John não disse nada, depois acrescentou:
“Ou talvez os críticos tenham razão e seja mesmo uma colossal partida, apenas.”
“Duvido que um homem inteligente perdesse dezassete anos de vida a tentar pregar a partida perfeita. Qual seria o objectivo?”, teimou.
“Os génios não precisam de objectivos ou, pelo menos, os seus objectivos ou justificações não têm que ser semelhantes aos nossos, não lhe parece?”
“De qualquer das maneiras, não fico convencida. Acho que o Wake foi a sua grande obra-prima. E acho que ele muito provavelmente não morreu satisfeito com o trabalho realizado. E se calhar é por isso que se manteve intragável. Porque não foi aperfeiçoado até onde deveria ter sido. Ou se calhar porque serão precisos tantos anos para compreendê-lo, quantos os que ele gastou a escrevê-lo.”
John farejou-a durante longos momentos, mais uma vez, reflectindo sobre a sua teimosia em persistir na linha de pensamento em que acreditava e não se conseguiu abster de sorrir interiormente. Agradava-lhe esta característica da sua personalidade. Depois apenas disse:
“Acabamos por hoje, Emily.”
“Tenho uma dúvida …”, disse, hesitante.
“Sim, diga.”, ele levantou a cabeça, convidando-a a expôr a sua dúvida.
“O que é um quark?”
John sorriu.
“Às vezes pergunto-me se o mundo inteiro não estará todo interligado, como defendem os budistas. Sabe porquê?”
“Não.”
“Ainda há pouco o Joyce me fez lembrar Einstein e agora você fala-me de quarks.”
Emily não estava a perceber nada.
“Um quark é a partícula mais pequena que os físicos consensualizaram em classificar. Aprendeu o que são átomos no liceu, não aprendeu?”
“Sim …”, odiava física e química e tudo quanto lhe estivesse relacionado.
“Muito bem. E lembra-se de certeza que os átomos são constituídos por electrões, protões e neutrões.”
Sim, lembrava-se vagamente de algo do género.
“Até há uns 40 anos atrás pensava-se que essas eram as partículas mais pequenas da matéria. Que eram indivisíveis, ou seja, que não poderia haver nada mais pequeno do que elas. Mas por volta dos anos 60, vários cientistas começaram a realizar uma série de experiências e chegaram à conclusão que havia partículas ainda mais pequenas. Os quarks são a partícula mais pequena de todas, juntamente com os leptões, apesar de nunca terem sido isolados. Convencionou-se que assim era.”
“Mas … o que é que o Joyce tem a ver com isso tudo?”
“Precisamente porque o nome quark foi retirado do Finnegans Wake pelo físico Gell-Mann para nomear essas partículas. Ele achou graça ao nome. Joyce usou essa palavra na frase ‘Three quarks for Muster Mark’, cantada por um coro de pássaros e provavelmente significa ‘três vivas’ ou gracejos.”
“Percebo.”
“Quem se segue … na pesquisa?”
“Que tal a Charlotte?”
Levantou-se.
“E, Emily …”
“Sim?”
“Cuidado com os professores de Literatura.”
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(40) Guerra e Paz – Leo Tolstoy

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

EM BUSCA DE PALAVRAS 11

AVISO: Este post é de leitura interdita a menores de 18 anos ou a pessoas sem o mínimo de bom senso ou senso de humor dentro da tola

A Melhor Amiga de Um Sniper – Parte IX
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“A guerra educa os sentidos, chama a vontade para a acção, aperfeiçoa a constituição física, desencadeia rápidos e íntimos embates em momentos críticos em que o homem avalia o homem.” - Emerson
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Continuamos em plena Segunda Guerra Mundial, mas desta feita um pouco mais a oeste, numa região chamada Normandia, que ficou famosa no dia 6 de Junho de 1944 - o Dia D.
Do filme "O Resgate do Soldado Ryan" já tudo se disse. A primeira parte é uma recriação soberba, estou em crer, do desembarque das tropas aliadas. Nunca em mais nenhum filme (nem com Platoon, nem mesmo com Apocalipse Now) fiquei com noção tão aproximada do que é um palco de guerra, ou seja, do que é o Inferno Dantesco. As memórias mais marcantes que ficaram do filme na altura da estreia foram 2: um soldado a quem uma explosão tinha arrancado um braço, à procura dele na areia da praia, meio atordoado e em estado de choque, totalmente alheado das balas que continuavam a ziguezaguear em seu redor e um soldado americano com uma grande panca, chamado Jackson, que fazia rir as pessoas nas salas de cinema e que funcionava como um catalizador-descompressor no meio daquele horror brutal que parecia não ter fim.
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E lembrei-me de Jackson novamente, para a minha pesquisa. Porque Jackson era o sniper do grupo que ia em busca do soldado Ryan, o tal que tinha perdido os outros 3 irmãos na mesma guerra.
Jackson tinha 2 características especiais e magnetizantes para as audiências: era um atirador exímio e antes de atirar, recitava trechos do Salmo 166 da Bíblia. Mas Jackson é muito mais do que um sniper com uma grande panca e Spielberg sabia o que fazia quando concebeu este personagem. Brilhantemente interpretado pelo canadiano Barry Pepper, Jackson é aquele tipo de soldado que gosta realmente do que faz, nasceu para aquilo, é o homem certo, no lugar certo, com a perícia certa. Como o próprio diz: "Deus fez de mim uma afinada peça de armamento. Da maneira como eu vejo as coisas, meu sargento, se me pusessem a mim e a esta espingarda de atirador até 1 milha de Adolph Hitler, podiam começar a fazer as malas - esta guerra acabava já."

Jackson é o mais seguro e o menos preocupado de todos os que acompanham Tom Hanks naquela missão quase impossível. Não é por acaso que é também o único que consegue adormecer profundamente sempre que páram para repousar, como um bebé, sem fantasmas. Porque Jackson acredita que tem um escudo protector poderosíssimo - Deus. A quem agradece e honra continuamente, para que Ele não se esqueça de olhar por si e pela sua pontaria. O resultado é um paradoxo brilhante: Jackson beija continuamente o crucifixo que traz pendurado ao pescoço e cita o salmo da Bíblia de cada vez que se prepara para atirar e matar um alemão. Não estamos somente perante um exemplo dos muitos milhares de soldados que certamente terão feito o mesmo na guerra real. Creio que o objectivo de Spielberg era fornecer ao espectador uma justificação plausível para torcermos por ele, esquecendo-nos que está a matar outros seres humanos - mas fá-lo em nome de Deus. Jackson funciona por isso como um descompressor e faz-nos até sorrir. Ele descansa o nosso coração e faz-nos torcer por ele, faz-nos torcer por todos os 7. Faz-nos acreditar. Acreditar naquela missão louca, que nos parece impossível.
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“Mas Tu, Senhor, não Te afastes de mim ...”
Pumba!
“Força minha apressa-te em socorrer-me.”
Pumba!
“Senhor, em Ti confio. Não me deixes envergonhado. Não deixes que os meus inimigos triunfem sobre mim.”
Pumba! Pumba!
“Bendito seja o Senhor, meu rochedo ...”
Pumba!
“O senhor é a minha fortaleza, o meu alto refúgio e o meu Salvador.”
Pumba!
“O meu escudo e Aquele em quem confio.”
Pumba! Pumba! Pumba!
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Quase no final do filme, e antes da sua morte, Spielberg oferece-lhe um requiem absoluto e triunfal. No topo de uma velha igreja em ruínas a câmara dá-nos um grande plano de Jackson, o seu semblante determinado, totalmente focado, enquanto reza e dispara, reza e dispara, sem parar. Ele é o rosto do Aliado, que não desiste, que não soçobra, que jamais fraquejará e que não deixará o inimigo avançar. E continua a disparar até ser atingido pela explosão de um bulldozer. Apercebendo-se que vai morrer, Jackson tem apenas tempo para gritar um aviso ao seu companheiro, antes de ser incinerado.
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O que aprendi?
Que a confiança em si próprio, mais do que a fé, é uma arma com um poder extraordinário.
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E aqui fica uma das cenas mais emblemáticas protagonizadas por Jackson:
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Nos próximos episódios continuamos com snipers, mas avançamos no tempo até ao presente. A diferença é abissal. Os últimos grandes heróis solitários fizeram-se na II Guerra Mundial e no Vietname. Nos palcos de guerra actuais os snipers funcionam em equipas. Já não são homens solitários.
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Hasta la vista, baby.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

MAGIC MOMENTS 25

Beijo #2 - O Beijo Proibido
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Este beijo é absolutamente maravilhoso, por tudo o que "diz", sem palavras.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

EM MINHA CASA, NA PONTA DOS PÉS 27 (cont.)

Capítulo 8. UM DESSES LONGOS E MISTERIOSOS CONCILIÁBULOS
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Aquele tornara-se o sinal rotineiro que significava o fim da leitura todos os dias e Emily sabia que era também uma forma de ele lhe comunicar silenciosamente que sabia estar a ser observado. Havia um acordo tácito – ela sabia que ele sabia e também sabia que ele sabia que ela sabia que ele sabia, mas que como nunca isso seria mencionado por nenhum dos dois, o podia continuar a fazer, desde que não houvesse qualquer indício óbvio de que o fazia.
“Finnegans Wake foi a última obra escrita por James Joyce.”, avançou, antes que ele tivesse tempo de lhe colocar qualquer questão sobre o assunto.
John abanou a cabeça e Emily considerou esse aceno como um elogio. Implicitamente estava a dizer-lhe que não ficara admirado por ela ter correspondido ao seu pedido e ter feito o seu trabalho de casa, apesar de isso, tal como referira no dia anterior, não fazer parte das obrigações dela como sua leitora particular.
Continuou, o melhor que soube, balbuciando um pouco, mas não se sentindo incomodada por isso:
“Ele … tentou fazer uma experiência com a linguagem. Uma coisa inédita para a época e que hoje em dia ainda é considerado revolucionário.”, fez uma pausa para tentar perceber se ele ia fazer algum comentário mas, como se mantivesse em silêncio, prosseguiu: “Achei … interessante a forma como ele quis representar uma história do mundo e para isso usar mitos e lendas, religiões, arte, um sem fim de coisas que fazem parte da … capacidade do homem representar o mundo para …”, e depois parou porque lhe faltaram as palavras e porque se sentia como um papagaio a repetir coisas mal decoradas.
“Muito bem. Óptimo. Já percebeu porque é que teve uma enorme dificuldade em ler aquilo?”
“Sim. Claro. Não sou a única, aparentemente.”
“Claro que não. O sacana do Joyce é intragável, Emily. Daí a partida.”
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"Com a boca cheia, os gémeos entabulam um desses longos e misteriosos conciliábulos na língua secreta que a família baptizou de eólico. O despertar separou-os por um momento, arrancando-os à confusão do sono. Agora, ei-los que recriam a intimidade gemelar, governando o curso dos seus pensamentos e dos seus sentimentos por meio da troca de sons acariciantes onde, conforme se queira, se ouvem palavras, queixumes, risos ou simples sinais." (39)
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Ela sorriu, aliviada com a sua reacção. Temera que ele fosse demasiado exigente, na avaliação da sua pesquisa.
“Sabe que … é curioso …”, adiantou a medo.
“Sim? …”
“É curioso que tenha escolhido precisamente a que é considerada a maior farsa da literatura, para me pregar uma partida.”
Ele sorriu abertamente e abanou a cabeça.
“Também cheguei à mesma conclusão. Não foi pensado dessa forma, foi apenas a primeira coisa que me lembrei. Mas tem razão. Uma coincidência engraçada, de facto.”
“Já leu o Wake todo?”, referiu-se à obra intencionalmente pelo nome que aprendera ser o seu diminutivo habitual nos círculos literários, para o impressionar.
“Não. Li o suficiente para perceber a forma e algum do conteúdo. Li muitas análises sobre a obra, mas é, como já deve ter percebido pela pesquisa que fez, um livro repleto de milhentos significados, muitos deles obscuros, outros que só um entendimento das matérias que lhe serviram de inspiração pode ajudar a descodificar. É um trabalho hercúleo. Duvido que alguém sozinho e no tempo de uma única vida consiga decifrá-lo na sua totalidade.”
“Sim … o professor …”, parva, parva, parva.
John farejou-a:
“O professor?”
“Sim. O professor de Literatura na faculdade onde trabalho.”
“E o que tem o professor, Emily?”, pareceu notar-lhe uma ponta de cinismo na voz, ou fora impressão sua?
“Bem, ele diz que …”, não lhe vais dizer que ele se ofereceu para te ajudar, pois não?, “… o Joyce é um verdadeiro génio da literatura.”, improvisou à última da hora.
“E tem toda a razão. Mas isso”, soltou um sorriso sarcástico, não se apercebendo de todo da sua quase gaffe corrigida rapidamente, “ninguém desmente. A questão é outra.”
“Qual?”
“Porquê passar dezassete anos da sua vida a trabalhar numa coisa intragável? Essa é a questão. A grande questão, quanto a mim.”
“Mas não é óbvio?”
“O que é que é óbvio, Emily?”
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(39) Os Meteoros - Michel Tournier

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

MURMÚRIOS DE LISBOA LV

Estepes Nos Teus Olhos - Epílogo

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Lua cheia vista através de binóculos
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Por onde andas, Vladimir? Que é feito de ti? Nunca mais te vi. Não voltas mais? O autocarro mágico sem ti não é a mesma coisa. Tenho saudades tuas. Sinto a falta das tuas estepes, desses olhos semicerrados, intensos e autênticos, a observarem tudo e todos, como se de uma águia se tratassem.


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Morreste envenenado? Emigraste para a tua Rússia mãe? Estás doente? O que te aconteceu, Vladimir? Mudaste de carreira? Agora vais a pé? Já sei, fartaste-te do autocarro e começaste a apanhar o metro. Ou se calhar compraste um carro. É isso! Finalmente conseguiste juntar dinheiro para comprar um carro. Só pode ser isso. E abandonaste-me, trocaste-me por 4 rodas e 2 pares de jantes, tecto de abrir, direcção assistida e estofos em pele, para não falar do leitor de CD’s ... ah! claro, claro que vinha também incluído um sistema GPS e um sistema GPS é imbatível, não é? Fui trocada por um sistema GPS, está visto.
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Enfim, Vladimir, só te quero dizer que caso um dia o teu carrito novo em folha dê o berro e te deixe à beira da estrada com um pneu nas mãos, fumo a sair do capô ou o contador de gasolina no zero, que podes voltar sempre para o autocarro mágico, as portas abrir-se-ão sempre para ti, sabes?
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Pronto, era só isto que te queria dizer. Aparece, um dia destes. Só para dizer olá.
Adeus, Vladimir. So long.
Do svidaniya! Até à vista.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Passo os dedos pelos dicionário ao acaso e aterro em ...

IRRACIONAL
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Girafa no Zoo de Lisboa
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Falamos sempre do irracional em oposição ao racional, como se este último fosse um patamar superiormente elevado, aonde nós, seres bafejados pelo dom de pensar com estrutura e organização, ascendemos naturalmente, por direito próprio e onde acentamos arraiais sem permitir ou sequer admitir qualquer outro ocupante desse vasto reino animal de que nos arvoramos únicos e derradeiros senhores.
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Mas os animais pensam ... apenas não pensam como nós, claro ... logo, pensamos nós, do nosso trono, não devem pensar ...
Que loucura. Que insensatez. Que ridículo, direi ainda. E quando observo um chimpanzé a observar-me a mim através das grades horrendas de um jardim zoológico, pergunto-me sempre: e em que estarás tu a pensar? e que te pareço eu? um ser caminhando desajeitadamente sobre 2 patas e que não é capaz de trepar a uma árvore ... pensarás que sou ridícula? talvez ... pensarás que sou limitada? muito provavelmente ... pensarás que sou desprovida de compaixão? certamente ...
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Que pensou aquele golfinho confrontado com dois humanos alcoolizados que, julgando o acto divertidíssimo, se prontificaram a despejar-lhe cerveja para dentro do orifício de respiração? ... bem, nunca saberemos o que lhe passou pela cabeça, mas o resultado foi a morte de um dos humanos com o "soco" que o golfinho lhe deu.
Quando soube desta história, tive um acesso quiçá considerado irracional por muitos dos meus companheiros de espécie: vociferei "Bem feita, meu grande filho da p ...! Estava a ser divertido, não estava? E agora? É divertido? Hãnnn?!"
Já vos ouço, meus leitores. Ouço-vos pensarem: "Bolas, também não exageres ... Afinal, tratou-se de um dos nossos e o golfinho é apenas um animal ... irracional ... Coitado do homem ... estava bêbedo ..."
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Afinal de contas, o que é ser irracional? A organização das abelhas e das formigas que é até estudada para optimizar métodos humanos parece-vos irracional? A comunicação riquíssima entre golfinhos, baleias, lobos parece-vos irracional? O olhar profundo de um chimpanzé, de um orangotango, de um gorila parece-vos irracional?
A única coisa que nos separa dos outros, dos ditos irracionais, será talvez a hipocrisia do super-ego, esse travão de tanta pulsão. Graças a ele não andamos por aí a disparar a torto e a direito. Retire-se o super-ego da equação e ... bem ... é melhor barricarem-se algures num bunker porque a carnificina não tardaria a começar e, no caso dos humanos, com requintes de sadismo, note-se - somos os únicos seres vivos capazes de provocar sofrimento utilizando esse ingrediente.
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Bem vistas as coisas, sempre prefiro ser apelidada de animal ... irracional ...

sábado, 9 de fevereiro de 2008

EM BUSCA DE PALAVRAS 10

AVISO: Este post é de leitura interdita a menores de 18 anos ou a pessoas sem o mínimo de bom senso ou senso de humor dentro da tola
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A Melhor Amiga de Um Sniper – Parte VIII
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“Não é o lobo que escolhe o terreno da caça ... mas o caçador.”
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“Várias vezes condecorado com a ordem de Lenine, Vassili Zaitsev foi mais tarde elevado à condição de Herói da União Soviética. A sua espingarda encontra-se ainda hoje no Museu de História de Estalinegrado, entre os grandes símbolos da vitória contra a Alemanha nazi.”
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Assim termina “Inimigo às Portas”, o filme baseado num dos mais emblemáticos duelos da história da Segunda Guerra Mundial.
O Ano: 1942. O Terceiro Reich está no auge do seu poder e os exércitos de Hitler atravessam o coração da União Soviética em direcção aos campos petrolíferos da Ásia. Resta um derradeiro obstáculo – Estalinegrado.
O Cenário: Um dos mais terríveis e sangrentos confrontos entre Aliados e Nazis – a batalha de Estalinegrado.
As circunstâncias: Sob um frio tremendo e em condições desumanas (uma espingarda para 2 soldados), o exército vermelho enfrenta o inimigo alemão às portas de Estalinegrado, sob forte pressão do aparelho soviético de Estaline (quem volta para trás e deserta é considerado traidor da pátria e é imediatamente abatido a tiro) e debaixo da mira de um exército muito mais bem apetrechado.
Mas os russos são, como sempre foram, um opositor duro de roer e contam com um herói – Vassili Zaitzev, um sniper exímio que não deixa escapar nenhum alemão que tenha o azar de ser apanhado na mira da sua espingarda. Os alemães vêem-se forçados a enviar um sniper experiente, bastante mais velho que o jovem Vassili, para tentar abatê-lo e incutir novo alento às tropas de Hitler.
E o duelo começa. Um duelo que passa sobretudo pelos olhos destes dois homens, filmados em grandes planos de suspense expectante: os penetrantes, calculistas, frios e sábios olhos azuis de Ed Harris, o actor americano que dá corpo ao Sargento alemão Konig e os profundos, corajosos, apaixonados e inteligentes olhos azuis de Jude Law, o actor inglês que dá vida ao jovem intrépido e lendário Vassili.
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O que aprendi com Vassili e Konig?
- num teatro de guerra pode-se ter que disparar nas posições mais incómodas que se possam imaginar, como deitado no chão de lado, por cima do ombro
- as espingardas são camufladas com panos, sobretudo o cano, para que não sejam avistadas pelo inimigo
- um sniper deve deslocar-se constantemente, ou seja, mudar de posição – quem não o faz ou é muito seguro ou é louco; estas deslocações de posição são extremamente lentas
- matar um alvo em movimento é incrivelmente difícil, normalmente procuram-se alvos fixos
- um sniper é, necessariamente, um soldado especial, por diversos motivos:
- a utilização da mira aproxima-o de tal maneira do alvo, que as mortes provocadas desta forma permanecem muito tempo na sua mente e podem causar sérios problemas a quem não estiver psicologicamente preparado para isso
- existe uma aura quase mítica em torno da figura do sniper, são considerados guerreiros solitários em teatros caóticos de guerra, espera-se que sejam homens de acção através da imobilização, um paradoxo interessante
- a espingarda passa a ser uma extensão do seu corpo, de si próprios, porque os acompanha a todo o lado e é desenvolvida uma relação quase pessoal com esse objecto que lhes protege a vida e ao mesmo tempo tira a vida a outros
- paciência, tranquilidade e capacidade de imobilização e, por outro lado, capacidade rápida de decisão na escolha do momento a disparar são qualidades indispensáveis a um sniper
- mas a lição mais valiosa foi a da importância do olhar – um sniper observa muito e observa através de um campo de visão concentrado, diminuto e muito aproximado; o olhar toma um protagonismo fulcral.
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E quem venceu o duelo? Veja o filme e descubra :)
No próximo episódio, prosseguimos em teatro de guerra, ainda na II Guerra Mundial, com um sniper muito sui generis e católico, no filme “O Resgate do Soldado Ryan”.
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E aqui fica o cheirinho do filme:
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Hasta la vista, baby

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

EM MINHA CASA, NA PONTA DOS PÉS 26 (cont.)

Capítulo 8. UM DESSES LONGOS E MISTERIOSOS CONCILIÁBULOS
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“Muitas vezes ficava ali deitado, noites a fio, sem pregar olho, a esgravatar o couro horas seguidas. Ou então, não se poupando a esforços, empurrava uma cadeira de braços para junto da janela, trepava até ao parapeito e, apoiado na cadeira, encostava-se à vidraça, como que a recordar a sensação de liberdade que costumava sentir quando dantes olhava pela janela. Na verdade, cada vez via pior em cada dia que passava, mesmo os objectos relativamente pouco afastados; já não conseguia distinguir o hospital em frente, que outrora amaldiçoara pela presença obsessiva, e se não soubesse com toda a certeza que morava na Charlottenstrabe, rua sossegada, ainda que com características citadinas, poderia ter sido levado a acreditar que a sua janela dava para um descampado, no qual o céu cinzento e a terra cinzenta se fundiam indistintamente.” (38)
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Sentia-se já suficientemente à vontade para levantar os olhos da leitura e observá-lo. Sabia que tinha que ter um cuidado extremo para o fazer, porque ele perceberia por uma demora de uma fracção de segundo, ou várias fracções de segundo seguidas e consecutivas, o que se passava. Por isso, instintivamente, adoptara uma técnica comum nos locutores de rádio e televisão que surge naturalmente com a prática – lia mentalmente duas ou três palavras adiantadas às que realmente transmitia com a voz, o que lhe permitia desviar os olhos duas vezes em cada parágrafo, enquanto proferia as palavras memorizadas dessa forma. Era preciso que estivesse absolutamente concentrada naquela tarefa, algo que já conseguia fazer facilmente, abstraindo-se de tudo em seu redor – os sons da casa (que se ouviam pouco naquela divisão), os sons da rua (demasiado sossegada para a distrair), os sons do cão (de tal forma incluídos na sua rotina, que só daria por ele caso o animal tivesse alguma reacção bizarra).
Conseguira, deste modo, ao longo dos dias, ir compondo um quadro da sua pessoa. Ele não era atraente, não no sentido comum do termo. Mas também tinha que descontar o acidente e a prolongada invalidez decorrente, que o haviam certamente transformado num fantasma daquilo que fora. Mesmo assim, conseguia perceber como devia ter sido a sua aparência previamente à tragédia.
Era moreno, o cabelo curto bem aparado, o corte masculino mais comum e que qualquer barbeiro faria em qualquer parte do mundo. Na penumbra constante do canto da sala que ocupava sempre, ainda não conseguira perceber se já tinha cabelos brancos. O rosto era comprido, de ossos salientes e um queixo marcadamente pontiagudo. A barba estava sempre feita e cheirava sempre a Old Spice. Ela conhecia aquele cheiro porque o seu pai também sempre fora fiel à velha garrafa branca com o barco à vela azul. De algum modo, achava que aquele cheiro não se lhe adequava, talvez porque o associava sempre a uma idade mais avançada, mas gostava dele porque lhe trazia recordações da sua infância. Sempre que entrava na biblioteca, o cheiro dele invadia-a de memórias agradáveis de menina que a faziam sentir-se num ninho quente e seguro.
Conseguira chegar à conclusão que a sua idade andaria certamente pelos trintas e muitos, talvez tivesse mais uns dez anos que ela, mais coisa menos coisa. As marcas do rosto assim o sugeriam e a sua tranquilidade também. Percebia-se que era uma pessoa vivida, não apenas pelo que a sua condição monetária proporcionava, mas sobretudo pelos anos em cima das costas. Apesar de tudo, havia nele uma constante atitude embirrenta, quase infantil, que ela não conseguia perceber se estivera sempre lá ou se fora consequência do estado em que se encontrava, que o fazia encarar tudo com uma eterna impaciência latente em todas as palavras que proferia e em todos os gestos que executava. Outra pessoa podia ter classificado esse traço da sua personalidade como característico de um nervoso, mas ela já o conhecia o suficiente para ter a certeza que ele não sofria desse mal.
Não, John não era nervoso ou sequer picuinhas, era pura e simplesmente impaciente. Muito provavelmente porque sempre fora habituado a ter tudo quanto queria, como queria e sobretudo quando queria, sem protestos nem impedimentos. Se vivesse num daqueles filmes de época, John seria aquele tipo de reis que estalam os dedos e de imediato se vêem rodeados de uma dúzia de vassalos prontos a satisfazerem-lhe todos os desejos, por mais ridículos que sejam.
Tinha uma boca de lábios muito finos, que quase desapareciam no fundo de pele morena, e um nariz grande e imponente, mas elegantemente desenhado no meio das maçãs do rosto, sem agredir a totalidade do conjunto das suas feições. Em geral, o seu semblante era agradável, embora nele não existisse nada de particularmente atractivo. Quanto aos olhos, nunca os conseguira observar porque se mantinham persistentemente escondidos por trás dos óculos escuros. Muitas vezes se perguntara se haveria neles alguma característica demasiado repulsiva causada pelo acidente que o fizesse escondê-los, mas concluiu que provavelmente o facto de não poder observar quem o observava o levava a resguardar-se daquela forma e que isso era perfeitamente compreensível e ajustado ao seu carácter.

Johann ergueu a mão, num gesto imperial e ela calou-se imediatamente.

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(38) A Metamorfose - Franz Kafka

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

OS ANIMAIS DE ANDRÓMEDA

QUETZAL
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A esplendorosa Quetzal é uma das aves mais belas do mundo. De cores vibrantes, vive nas florestas tropicais montanhosas da América Central, onde se alimenta de frutos, insectos, lagartos e outras criaturas pequenas.
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Durante a época de acasalamento, crescem aos machos um par de penas caudais que formam uma deslumbrante cauda que chega a alcançar um metro de comprimento. As fêmeas não possuem estas longas penas, mas partilham com os seus companheiros os azuis, verdes e encarnados brilhantes da penugem. As cores dos machos tendem a ser mais vibrantes.
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Os casais utilizam os seus bicos poderosos para escavar ninhos em troncos de árvores mortas. Depois incubam à vez 2 ou 3 ovos no interior destes ninhos– as longas caudas dos machos por vezes saem para fora do ninho, quando se encontram no seu interior.
As crias podem voar após 3 semanas, mas os machos só obtêm as suas longas caudas ao fim de 3 anos.
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O Quetzal é o símbolo da Guatemala, que também emprestou o nome à moeda local.
Infelizmente, estas aves esplendorosas encontram-se ameaçadas de extinção na Guatemala e noutros locais. São por vezes apanhadas em ratoeiras com destino ao cativeiro ou mesmo mortas, mas a principal ameaça à sua sobrevivência é o desaparecimento das florestas tropicais que constituem o seu habitat. Em algumas zonas, nomeadamente nas florestas de nuvens da Costa Rica, terrenos protegidos preservam o habitat destas aves e proporcionam aos ecoturistas e a observadores de aves a oportunidade de os poderem observar.
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O Quetzal era sagrado para os Maias e os Aztecas e a realeza destas civilizações ancestrais usava as suas penas durante cerimónias especiais. Um dos principais deuses aztecas chamava-se Quetzalcoatl ou "pássaro serpente" e uma das representações deste deus era um homem branco, barbado e de olhos claros. Esta representação levou os povos indígenas a crer durante a conquista dos espanhóis que Hernán Cortez era Quetzalcóatl. Segundo as lendas mexicanas, essa é a razão pela qual os espanhóis dominaram tão facilmente a América Central.
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"És o pássaro quetzal
Cor do fogo
Que voa através da planície
No reino da morte"
Poema Azteca

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

MAGIC MOMENTS 24

Sem qualquer hierarquia de importância, aqui se irão apresentar alguns beijos cinematográficos inesquecíveis
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Beijo #1 - O Beijo Invertido
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Um beijo de um Homem Aranha, só podia ser um beijo invertido :)
Genial e muito sensual.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

GEOLÂNDIA 1

UPGRADE
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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

EM MINHA CASA, NA PONTA DOS PÉS 25 (cont.)

Capítulo 7. MY SIN, MY SOUL
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“Até quando é que vais persistir neste arrufo sem sentido?”, Clara nem sequer evitou a resposta propositadamente, empenhada de tal forma em concluir a linha de raciocínio que se dispusera a seguir desde que entrara pela porta dentro.
“Até quando me apetecer. Tens medo da concorrência? Fica descansada, nunca me passaria pela cabeça substituir-te por ela. Falta-lhe a tua deliciosa e requintada perversidade.”
E então Clara não conseguiu suportar mais a raiva que andara a conter durante todas aquelas semanas e explodiu:
“Isto é um absurdo! Em vez de perderes tempo com leituras, devias era começar a fazer a fisioterapia. O que é que pensas que estás a fazer?”
“Isso é comigo, querida Clara. Não te preocupes. Obrigaste-me a viver, mas não me podes obrigar a escolher a forma como vivo. Felizmente ainda tenho discernimento suficiente para decidir isso.”
“A única razão por que ela ainda frequenta esta casa, é porque eu quero.”
“Existem mil e uma maneiras de a fazeres desaparecer, eu sei. Mas também existem mil e uma maneiras de eu fazer com que te arrependas disso. Portanto, querida Clara, reza para que ela nunca decida de sua livre vontade abandonar-nos, porque se isso acontecer eu vou partir do princípio que a responsável foste tu.”
“Alguém tem de te fazer voltar à realidade.”
“O que é que chamas a isto, então? Um sonho? Devias ter-me desligado a maldita máquina, Clara! Não percebes? Em toda a tua vida foste absolutamente perfeita. A casa sempre organizada até ao mais ínfimo pormenor, desde o raio da cor dos cortinados que combina com as flores apanhadas no jardim, cujo aroma, por sua vez, não choca jamais com os tempêros dos delicados rissóis de camarão servidos nas festas do raio que o partam! Ah, claro que não podemos esquecer a muito bem coreografada agenda de eventos, cerimónias, reuniões, encontros e férias programados até à exaustão num malabarismo infernal, capaz de rivalizar com os melhores artistas do Cirque du Soleil, ao mesmo tempo que os papás viajam por esse mundo fora. Ao longo da vida perguntei-me muitas vezes qual dos dois te escolheu. Qual deles teve a última palavra? A mamã, sempre tão atenta ao pormenor ou o papá, com o seu ouvido preciso e infalível? Quem foi, querida Clara? Hmmm? Ou terá sido uma decisão tomada em conjunto, harmoniosamente … claro … deve ter sido isso … o duo genial não poderia ter deixado de o ser na sua mais brilhante composição – a engenhosa e precisa ama, funcionando como um relógio atómico, marcando o compasso da vida do precoce e adorado menino de ouro. E depois … depois destes anos todos a nadar na mais engenhosa perfeição, o que é que foste fazer? Uma borrada sem precedentes. Esqueceste-te de desligar o raio da máquina. E a sinfonia terminou, não com um finale em crescendo do triunfal para o suave nocturno, mas com uma tremenda fífia nojenta – EU!”, a sua voz elevou-se num tom que raiava a histeria, “EU NESTA CADEIRA DE RODAS, SEM VER, SEM ME PODER MEXER, SEM SEQUER PODER BATER UMA EM CONDIÇÕES!!!!!”
“Pára …”, Clara falou quase num murmúrio.
John afundou-se na cadeira, parecendo exausto com o esforço a que os seus pulmões haviam forçado o seu debilitado corpo.
“Pensei que talvez ela te pudesse fazer bem. Ao princípio não. Ao princípio tens razão, desprezei-a. Parecia-me a típica caçadora de fortunas. Tive a certeza absoluta que se iria roçar em ti, esfregar-se sempre que tivesse oportunidade para isso, fazer pouco de ti e que tu nem sequer te aperceberias disso. Mas sobrestimei-a a ela e subestimei-te a ti. Não passa de uma coitada, uma pobre rapariga ansiosa por agradar, enfiada num buraco de pudor e contenção ridículos.”
“Ah, quer dizer que se fosse inteligente, teria toda a legitimidade para se roçar e fazer pouco de mim, é isso?”
Mas Clara pareceu nem sequer notar que ele tinha falado, prosseguindo: “E tu … tu ficaste diferente. Ao longo dos dias, via-te iluminares-te como há muito tempo não te via. E comecei a … suportá-la, aos poucos. Fazia-te bem, tal e qual esse ridículo animal de estimação que daria a vida por ti da mesma maneira que a daria por qualquer reles assassino ou depravado, porque não tem em si a capacidade para discernir. Como ela, que te seguiria até ao fim do mundo, mesmo que a tua voz a conduzisse por um túnel aterrador até à morte mais terrível.”
John tinha agora a cabeça inclinada sobre o peito, os seus olhos encontravam-se cemicerrados por trás dos óculos escuros, atento e surpreendido pela candidez de um discurso inusitado.
“De qualquer das maneiras, não importa se ela não conseguir discernir quem segue. Isso não interessa, porque a única coisa que me interessa é que ela te tem mantido vivo.”
E, tão subitamente como havia entrado e começado a falar, Clara calou-se, como se tivesse ido mais longe do que quisera.
Por longos momentos, os dois permaneceram apenas a tecer o silêncio que se estendia entre eles como um mar imenso, ainda mais profundo que a escuridão que os separara.
“Então porque raio é que a queres daqui para fora?”, quase sussurrou John, como se, mais do que querer uma explicação sobre a vontade da ama, quisesse antes que a sua resposta lhe oferecesse a justificação que ele próprio precisava para a necessidade que tinha de a manter ali.
“Porque sei que ela fará tudo o que lhe pedires.”
E Clara virou-se e saiu da biblioteca, deixando-o com um meio sorriso de estupefacção, satisfação e ao mesmo tempo auto-comiseração nos lábios.