Senna
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"When he died, I said, that I felt a part of me had died also, because our careers had been so bound together. And I really meant it, but I know some people thought it was not sincere. Well, all I can do is try to be as honest as possible." - Alain Prost
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Nunca gostei de Ayrton Senna. O meu herói na Fórmula 1 era e sempre será Alain Prost - Le Professeur. Para mim, Ayrton Senna era louco e imprudente, sem medo, sim, sem limites, sim, mas também imaturo, sem olhar a meios para atingir a vitória e quase naïve na forma como conduzia e como conduzia a sua vida dentro dos autódromos. Ao contrário do que pensa o grande Niki Lauda, ele não foi para mim o melhor piloto de todos os tempos. Foi, sim, o mais apaixonado de todos. Mas a paixão, como todos sabemos, pode ferir irremediavelmente.
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Vaticinei-lhe a morte, 1 ano antes de acontecer. Depois, quando o vi imóvel, a cabeça tombada para um lado, enfiado no cockpit do seu Williams que acabara de embater a 218 quilómetros por hora numa barreira de cimento, senti remorsos do que tinha predito - "Este tipo um dia mata-se."
Aconteceu. É claro que a teoria mais defendida hoje em dia é a de que havia um grave problema com o carro e que Ayrton não conseguiu controlar a máquina, ele que as conhecia como mais ninguém. Com ou sem avaria mecânica, não importa, Ayrton morreu onde "deveria" ter morrido, porque ele conduziu o seu destino até àquele momento no tempo e no espaço. Se lhe perguntássemos onde gostaria de terminar os seus dias, talvez ele tivesse respondido na pista, a voar dentro de um Fórmula 1.
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Essa, a Fórmula 1, acabou para mim e para muitas outras pessoas, quando Ayrton morreu. E quando Prost se reformou. E quando Mansel abandonou. E quando Shumacher começou o seu reinado frio e calculista. E quando a segurança, depois do que aconteceu naquele fatídico Grande Prémio de San Marino, foi reforçada num dos desportos mais perigosos do mundo, retirando-lhe grande parte da emoção que nos tinha oferecido durante décadas.
Porque não eram as máquinas que nos moviam. Eram as emoções das pessoas que as conduziam. A rivalidade mítica entre os dois melhores pilotos do mundo naquela época alimentava todos os Domingos uma multidão ávida. Prost e Senna, dois lados de uma mesma moeda, digladiavam-se todas as semanas nos circuitos mundiais a velocidades incríveis, mantendo-nos colados ao écran. Um, jovem, apaixonado, rápido e sedento de vitórias, o outro, maduro, experiente, racional, contido, jogador dentro e fora da pista. Duas formas de pensar e de agir totalmente opostas, ambas puras e viscerais. Recordo outras palavras do mesmo Niki Lauda, que se ajustam na perfeição a estes dois senhores: "Há pilotos puramente egoístas, como foi o meu caso, que só pensam em ser o melhor do Mundo, e há pilotos que fazem política para fortalecer a sua posição na equipa."
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Este documentário sobre a carreira de Ayrton Senna transportou-me de volta a essa década gloriosa da Fórmula 1 e reavivou todas as emoções adormecidas na minha memória e que descobri ainda estarem muito presentes. Porque "Senna" não é apenas sobre Senna. É também sobre "o tempo de Senna". E é sobre a nemesis de Senna - Prost. É sobre a melhor época da Fórmula 1 e sobre uma parte das nossas próprias vidas, os que estávamos lá a assistir a tudo. E é sobre dois homens, que (sempre tive essa convicção e o documentário serviu para a reforçar) se respeitavam profundamente e se admiravam secretamente.
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Eu nunca gostei de Ayrton Senna. Mas a Fórmula 1 nunca mais foi a mesma sem ele. Senna não foi o melhor piloto do mundo, mas foi sem sombra de dúvida o mais apaixonado de todos. E Senna nunca teria sido Aquele Senna se Prost não existisse.