Só hoje, enquanto reflectia sobre a sua morte, é que me apercebi de um pequeno pormenor na única e preciosa história que tenho com o Pantera Negra. Quero partilhá-lo.
Trabalhei com Eusébio para um anúncio estúpido do Totogolo em que participei há mais de 15 anos como copywriter. Relatei já aqui os pormenores dessa saga, mas sempre me falhou um que, curiosamente, fez luz na minha cabeça hoje enquanto me recordava dele.
A certa altura Eusébio refugiou-se para tentar decorar as palavras estúpidas que eu tinha escrito para ele dizer e que lhe estavam a custar a pronunciar direitinhas e sem falhas. Refugiou-se lá em baixo, na base das escadas que dão acesso aos balneários. Fui encontra-lo sentado numa cadeira a tentar decorar as minhas palavras e a repetir para si mesmo "Eu consigo! Eu consigo!". Hoje percebi que sempre vira este episódio da forma errada, ao contrário. Ele não foi refugiar-se para a base das escadas que davam acesso aos balneários, ele foi refugiar-se na base das escadas que vinham do balneário para darem acesso ao relvado! Ou seja, Eusébio procurou o sítio que lhe era mais confortável, a que estava mais habituado e que fazia parte do seu percurso mais habitual. Para Eusébio tudo na vida é "entrar no relvado", como para um actor tudo na vida será "entrar no palco". O relvado era e sempre foi o palco de Eusébio.
Desse dia recordo a sua alegria quase infantil, aos 60 anos, quando tocava numa bola.
E recordo sobretudo a sua profunda, comovente, extraordinária humildade. É essa humildade que transforma os melhores em Gigantes. Eusébio era e será sempre um Gigante do mundo.
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