domingo, 27 de novembro de 2011

MURMÚRIOS DE LISBOA CI

Hospitais
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Hospital S. José

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Tinha terror de hospitais. Todos. Qualquer um deles. Qualquer hospital pertencia a essa entidade invisível, monstruosa, que pairava como uma nuvem negra sobre o horizonte constituído pelos seus piores pesadelos. Ou, deveria antes dizer, temores. O pesadelo é algo que já foi experimentado. O temor pertence ao universo do desconhecido.

Talvez porque o seu pai era médico e sempre a aterrorizara desde a mais tenra infância. O seu inconsciente deveria ter concebido um qualquer antro de onde eram expelidos, onde viviam e se multiplicavam todos os seres odiosos deste mundo, como ratos dos esgotos. Se os seres odiosos deste mundo eram parecidos com o pai e, por consequência, médicos, esse antro só poderia ser o Hospital, qualquer hospital, todos os hospitais.

Costumava desejar ardentemente nunca ter de ir parar a algum. Claro que esse desejo era mais uma certeza alimentada pelo facto de nunca ter tido necessidade de frequentar nenhum. Não sabia o que era ir a correr para as urgências a meio da noite. Desconhecia ficar aflita com qualquer doença passageira. Ignorava confusões sobre ou com quaisquer medicamentos. Aprendera, sobretudo, a evitá-los.

Até que um dia tudo mudou. Foi parar a um hospital. Acabou por os conhecer quase todos. A operação, a quimioterapia, os exames e as consultas de oncologia foram nos Capuchos. Havia mais consultas e mais exames no São José. A radioterapia era no Santa Maria. A consulta de genética no D. Estefânia.

Agora conhece-lhes os corredores. Os recantos. Os atalhos. Conhece as batas brancas e azuis. Conhece as esperas, os papéis, os trâmites, as rotinas. Conhece as consultas, os exames, os tratamentos, a sala de operações e o recobro. Deixaram de ser um mistério. E, por consequência, um terror. Foi bem tratada, não esperava.

Agora sente-se em casa. Entra e sai e deambula pelos seus vastos corredores como se de uma segunda casa se tratassem. Não esperava.

Quanto aos médicos, esses, a maioria continua a fazer parte dos seus pesadelos, salvo algumas honrosas excepções. Deve ser da classe ...

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