quinta-feira, 17 de novembro de 2011

PALAVRAS ESTÚPIDAS 152

Capitais
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Fui um dia um monge que desenhava iluminuras e capitais.

Passei a minha vida inteira a iluminar um único livro.
Fiz centenas de letras.
Traçei os seus contornos com um pincel fino, preto.
Colori as suas formas com tintas de todas as cores.
Carmins, lápis-lazuli, verde-esmeralda, amarelo-canário, prateado, dourado.
Demorei horas, dias, por vezes meses a pensar quais desenhos deveriam combinar com aquela letra específica, reflectindo e estudando afincadamente o capítulo, o parágrafo, a frase aos quais pertencia cada letra inicial.
Procurei ser fiel.
Mas também original, imaginativa, surpreendente.
Às vezes, e apesar de arriscar excomunhão, seguia os escritos do mestre Aristóteles e arriscava o humor. Nunca explícito. Sempre subtil, muito subtil. Manifestando-se em pormenores ínfimos, nas entrelinhas dos traços ilustrativos.
Fui profíqua, rápida mas precisa.
Fiquei com as costas arruinadas.
Ganhei um enorme calo no dedo médio da mão esquerda.
No fim da vida, ceguei completamente.
É por esse motivo que ainda escrevo a maioria das coisas à mão.
E que sou miópe.
E que gosto de livros, de preferência usados.
E de cores.
E de ilustrações estranhas, misteriosas, irónicas.
Apesar de não saber desenhar.

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