The Show Must Go On
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Porque é que o espectáculo tem de continuar, sempre?
Quer dizer, eu percebo e apoio incondicionalmente que o espectáculo tenha de continuar quando se trata de um espectáculo a sério, com artistas a sério que estão ali a trabalhar. Há incontáveis relatos de actores, cantores, performers de toda a espécie, feitio e formato que têm histórias trágicas de mortes na família, desastres físicos e psicológicos e que tiveram de esquecer tudo isso e actuar logo a seguir. Aplaudo. Só me faz respeitá-los ainda mais.
Mas na vida real, folks?
Porque é que na vida real anda sempre toda a gente tão preocupada em representar bem 24 horas por dia, 7 dias por semana, 365 dias por ano? Isso não é possível e, francamente, nem sei se seria muito saudável ou desejável ou sequer produtivo.
Não é possível estar-se sempre bem! A vida é sofrimento, dizia Thomas Moore, um dos meus heróis maiores. Ele sabia do que falava. Foi mandado decapitar pelo seu amigo, o rei, apenas porque se recusou a reconhecê-lo como chefe supremo da sua Igreja. Morreu lucidamente, com a constatação de que a vida não é sempre justa, nem bela, nem um espectáculo natural maravilhoso de pirotecnia. Seria, se não existissem humanos, se não existisse ninguém. E mesmo assim ...
A vida é sórdida, triste, vil, depressiva e desesperante, egoísta, cínica e sádica também. E quem pensa o contrário é idiota. Claro que a vida também é beleza, honestidade, inteligência, bondade, altruismo, dignidade, integridade. Também, não apenas.
Por vezes o espectáculo não tem de continuar. Por vezes temos de fechar as nossas cortinas, mandar o público embora, devolver o dinheiro dos bilhetes e adiar a performance porque pura e simplesmente não somos capazes, ou seríamos todos super-heróis e até esses têm os seus dias-não. Por vezes temos mesmo que deixar que nos cortem a cabeça, pois isso pode ajudar-nos e ensinar-nos a renascer de formas que nunca julgáramos possível. O sofrimento é a única coisa que forma carácter. Talvez porque nos ensine a reconhecer e valorizar a efemeridade da vida.
A questão não é ser mártir, mas ser realista e aceitar que os momentos maus hão-de vir, inevitavelmente, de novo e de novo e de novo. A questão é admitir uma panóplia de sentimentos que fazem parte de nós e não podemos ignorar.
Porque não somos actores. Para isso já existem os verdadeiros, os profissionais, que são treinados para continuarem o espectáculo, sempre.
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