Bondadezinha
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Porque é que toda a gente anda sempre a tentar ser bonzinho?
Poderão as mulheres não os terem amado,
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Porque é que toda a gente anda sempre a tentar ser bonzinho?
Há uma cultura da bondade de que padecemos há séculos, incutida muito provavelmente pela Igreja Católica, e a que mesmo os que não a aceitam obedecem inconscientemente.
Somos sempre os campeões da virtude. Já lá escreveu Fernando Pessoa no seu poema delicioso "Poema em Linha Recta":
"Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cómico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cómico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humanaNunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó principes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó principes, meus irmãos,
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e erróneo nesta terra?Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza."Álvaro de Campos
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza."Álvaro de Campos
Porque é que persistimos em tentar convencer o mundo que somos um poço de virtudes, quando basta olhar para o mundo para perceber que isso é tudo uma grandessíssima treta?
Se calhar se aceitássemos melhor o lado negro do ser humano, e não fossemos hipócritas, talvez o mundo andasse um pouco melhor.
Hoje apetece-me fazer-te mal e descarregar um bocado das minhas ansiedades em ti. Não te importas, pois não? Vou ali para o corredor dizer mal de ti um bocadinho. Ou, vou ali usar a tua cara como alvo de setas. Queres vir também?
Claro! Tás à vontade! Amanhã é a minha vez. Estou a pensar se te amando uma cuspidela ou te dê um soco no estômago. Traz o colete anti-socos.
Talvez isto resultasse ... Um bocado à semelhança do Fight Club.
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