terça-feira, 6 de outubro de 2009

EM BUSCA DE PALAVRAS 86

Personagens
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"Os melhores livros são os que nunca foram escritos." - Gabriel García Márquez
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Há personagens que nos acompanham uma vida inteira. Personagens há que nunca nos abandonam e permanecem, sejam quais forem as circunstâncias.
Outros há fugazes, diáfanos, como espíritos da floresta. Que aparecem como um clarão, para logo desvanecerem como névoa matinal.
Há personagens aos quais nos afeiçoamos mais. Porque se os livros, as histórias, se diz serem como filhos que saem a muito custo do nosso ventre, sem que tenhamos reflectido a sua concepção como um todo, já os personagens são criações susceptíveis de balançar a nossa vaidade e orgulho. Por esse motivo, há "filhos" mais amados que outros.
Aileen e Jimmy nunca foram escritos. São irmãos, separados pela violência, para sempre unidos pelo amor.
Johann, o paraplégico filho da mãe, que me obrigou a um esforço acrescido para o tornar detestável, em vez da óbvia compaixão que podia suscitar. Mas que, no processo, se tornou digno e belo, inesquecível para a sua criadora e provavelmente o personagem que até hoje mais me marcou.
Ronaldo, o menino de rua do Rio, que tive de sacrificar para que a história fizesse sentido. Que me fez chorar como se de um verdadeiro menino se tratasse.
Tomás, Cassandra, Penélope e Gilberto, as quatro crianças estranhas, depois adultos famosos, que se perderam e mais tarde se reencontraram.
Outros houve. Andrea, o italiano pescador de almas. Vera, a sua presa. Heitor, o seu apaixonado. Baltasar, o filho de bruxas e anjos, que usava os próprios filhos como cobaias, mas que os amava ferozmente. Emily, a rapariga que conquistou o coração de Johann. David, que vagueava em busca da mulher morta e Sofia, que não sabia que era bonita. Michael, o publicitário romântico. Tripp, o banqueiro que se torna vagabundo em Manhattan. Rafael, a máscara de Veneza ingénua e sonhadora. Petra, Sine e Afonso, que procuravam o amor. Alexander, o hacker grego e nobre. Francis, o espírito atormentado de Jack, o Estripador. Apsara, a bailarina perdida na selva de Banguecoque.
E agora Anna, Galato, Vincent e Vladimir. A suicida, o polícia, o atirador e o assassino.
Conseguirão tornar-se personagens dignos desse estatuto? Conseguirão vencer os obstáculos da folha em branco?
Não sei.
Vezes há em que os melhores personagens são os que não vêem a luz do dia sequer.

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