segunda-feira, 5 de outubro de 2009

PALAVRAS ESTÚPIDAS 74


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"Ele disse que gostava de mim tal e qual como eu sou."
"E essa pessoa é alguém que tu odeias?"
"Sim."
O Diário Bridget Jones
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Gosto quando começo por odiar as coisas e depois acabo por as amar. Tal e qual as coisas que adoro de imediato, as que começo por odiar tornam-se amores eternos, se sofrerem essa transformação do ódio para o amor.
Assim de repente lembro-me de três ódios de estimação que se transformaram em paixões ou motivos de respeito e admiração: James Joyce, Jackson Pollock, Nicole Kidman.
Quando li Joyce pela primeira vez, fechei o livro e só o abri de novo passados 15 anos, para descobrir um diamante. Pollock venceu-me depois de me ter feito viajar por toda a história da pintura de propósito apenas para o poder compreender - no fim ofereceu-me uma das maiores epifanias que já experimentei na vida. Kidman foi-me conquistando ao longo dos anos, devagarinho, com o seu incrível e persistente talento.
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Porque será que o ódio e o amor estão tão próximos? Talvez porque ambos arranquem de nós paixão, necessária para os atear. Talvez porque ambos comecem por um sentimento de incompreensão, surpresa, negação - como pode aquilo afectar-me deste modo? que mecanismos, que propriedades, que mistérios possui aquilo para nos transtornar desta forma?
Quando nos sentimos maravilhados, o amor tem a primeira e única palavra.
Talvez eu tenha começado por odiar Joyce porque quando o li aos 16 anos queria muito escrever bem e este tipo era tão bom, mas tão bom que me irritou profundamente.
Talvez eu tenha começado por não gostar de Pollock porque achei que aqueles riscos podia eu fazer quando tinha 5 anos e ali estava este tipo com aquilo que eu pensava serem apenas uns riscos a expôr no MOMA!
Talvez eu tenha começado por detestar Kidman porque ela era tão bonita e ao mesmo tempo tão competente que isso me despertou uma inveja irracional inconsciente.
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E talvez haja coisas que começam pelo ódio porque são o nosso exacto oposto e nos parecem desafiar e talvez haja coisas que comecem pelo amor porque nos estão mais próximas da nossa essência, pertencem ao mesmo tom do espectro de luz em que nos movemos.
Quando vi Brando pela primeira vez, amei-o, estupefacta mas maravilhada. Quando ouvi Bird. Quando li Gabriel Garcia Marquez.
E talvez as coisas que odiamos primeiro venhamos a amar com mais força do que as que amamos primeiro, porque nos obrigam a descobrir-lhes virtudes onde só viamos defeitos.
Não sei. Sei que estas coisas são assim e sempre foram.
Sei que devagar ou num repente, gosto de ser assim conquistada.

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