sábado, 4 de dezembro de 2010

Here I Go Again On My Own

Júpiter, Saturno, Urano e Neptuno II
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Macro Casca Cebola
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Preparou-se. Artilhou-se com o que podia e sabia. Felizmente que nunca tinha feito upgrades, ou isso poderia tornar-lhe a vida muito difícil agora. Quanto mais simples, melhor. Mais facilmente passaria despercebido e, mais importante do que isso, menos facilmente seria considerado uma ameaça. Dormiu uma semana inteira em modo REM, porque sabia que não iria poder dormir durante muito tempo, depois disso. Desenvencilhou-se de tudo o que era supérfluo, e partiu.
Embrenhou-se nos meandros da rede, por onde nenhum ARLI jamais se aventurara antes. Zonas negras, perdidas, esquecidas, sem protocolos ou com regras desconhecidas. Redutos secretos, nichos ocultos, onde o sistema dificilmente poderia chegar e onde nem sequer a Resistência deambulava. Os bastidores dos bastidores.
Vagueou lentamente por esses recantos obscuros. Demorou a conseguir concentrar-se para poder fazê-lo de forma natural. Habituado há duzentos anos a deslocar-se a velocidades super-sónicas, custou-lhe abrandar o ritmo. Mas tinha de o fazer, para encontrar o que queria.
E o que queria? Tropas. Aliados. Insuspeitos. Para isso precisava de procurar onde tinha a certeza de não poder haver agentes duplos, enviados pelo Krueg para lhe lixarem a vida. Claro que a desvantagem era que se habilitava a encontrar a nata da loucura.
Precisava também de observar os movimentos à tona e tentar arranjar provas da traição do Krueg, antes que fosse demasiado tarde. Mas isso era um mal inevitável, que ele tinha quase a certeza de não conseguir evitar. Sabia que o Krueg atacaria brevemente. Não era preciso ser muito inteligente para perceber que, quaisquer que tivessem sido os seus planos iniciais, a partir do momento em que saira, abrira a porta para precipitar os acontecimentos. O Krueg não iria arriscar perder muito tempo à espera que ele arranjasse maneira de contra-atacar. Confiava no Devil para lhe empatar a estratégia durante um tempo, mas não seria muito.
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A rede estava organizada como uma espécie de teia intercruzada de biliões de estreitas e longas vias de comunicação entre todos os pontos. Esta era a zona interdita, à superfície, onde o sistema funcionava. Por baixo, como uma cebola, havia múltiplas camadas frágeis que desciam até ao infinito. Nunca ninguém chegara ao fundo. As primeiras camadas da cebola guardavam os “armazéns” de operacionalidade da camada superior, com os diversos protocolos de funcionamento, códigos de sistema e zonas de lixo informático. Entre estas camadas e as usadas pelos ARLIs, havia camadas de protecção do sistema, artilhadas até à medula de firewalls inexpugnáveis, patrulhadas constantemente pelos sistemas de vigilância e de detecção. Jorge fora o único ARLI que conseguira ultrapassar estas camadas e chegar à fonte, mas escapara por pouco. Por baixo das camadas onde os ARLIs haviam estabelecido o seu quartel-general de operações, distribuía-se uma escadaria interminável de mais degraus, raramente visitados pelos membros da Resistência. Era aí que os solitários deambulavam. Era para aí que outras formas de vida desconhecidas se haviam deslocado, ou surgido espontaneamente.
Havia os ARLIs, como ele, seres humanos que haviam decidido transferir o conteúdo do seu cérebro para cápsulas de vida artificial, abandonando o corpo físico para tentarem escapar ao horror da Guerra que destruíra o mundo. Havia os Suzies, avatares abandonados pelos seus donos. Havia os ARLIs flipados, que haviam decidido, por inúmeras razões, desassociarem-se da Resistência, e que sobreviviam completamente sozinhos ou em pequenos grupos dissidentes.
Depois havia boatos sobre algumas outras formas de vida obscuras que tinham nascido no sistema, mas de cuja existência não havia provas. Entre elas, vírus informáticos autónomos, bugs de programação dotados de vida própria e uma série de outras aberrações da natureza informática. Como no caso da lenda de Adamastor, a imaginação proliferava e era suficientemente criativa para assustar os mais cépticos.

Parou de pensar. Ao longe conseguia ouvir as ténues sirenes da Brigada Néon, algumas camadas acima daquela onde se encontrava. Como ondas de choque propagadas pela corrente de ligações da teia, os sons chegavam-lhe ao sistema acompanhados de pequenos e breves clarões de luz colorida. Sorriu. A Brigada Néon não costumava fazer aquele barulho. Seria uma tentativa desesperada de Jorge para o encontrar. Sorriu novamente. E teria de ter exigido um enorme esforço da parte de Jorge para pedir ao Comandante dos Néons que o procurasse. Slivex não abria facilmente mão das suas regras. Só assim se explicava que tivesse conseguido desempenhar tão eficientemente o seu papel de salvador da pátria durante tanto tempo. A Brigada era responsável por milhares de salvamentos ao longo de décadas. E mesmo assim, não conseguiam fazer milagres. Slivex teria exigido uma grande dose de lambidelas-botais para se dispor a alocar recursos à procura dum dissidente.

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