segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Here I Go Again On My Own

Júpiter, Saturno, Urano e Neptuno XIV
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Macro CD
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"Quando as coisas começaram a ficar realmente negras, houve uns poucos de crâneos espalhados pelo mundo que tiveram a mesma ideia. Alguns sabiam o que era preciso para se fazer aquilo que há décadas era apenas uma espécie de utupia tecnológica - viver sem corpo físico. Chama-se 'esvaziamento sináptico' à operação de transferir todo o conteúdo cerebral para uma bolsa digital que funciona autonomamente, não necessitando de corpo. Aquilo que era ficção científica, tornou-se possível há 200 anos atrás. Presume-se que a Guerra tenha acelerado as coisas e que, colocadas entre a espada e a parede, algumas mentes brilhantes tenham finalmente conseguido realizar este truque mágico. Claro que houve alguns casos que correram mal. Houve pessoas que foram encontradas junto dos seus computadores, perdidas num vazio de loucura ou num estado vegetativo irrecuperável. A transmissão não tinha funcionado ou então fora interrompida ou pura e simplesmente tinha retrocedido, duplicando o conteúdo de informação neuronal no seu hospedeiro. Enfim, uma trapalhada, quando corria mal."
Sheila torceu o nariz e abanou a cabeça, como se quisesse exorcizar memórias desagradáveis.
"Também houve bolsas meio formadas que ficaram a vaguear no sistema, sem destino, completamente desorientadas, mas com uma parte da mente de alguém. Vocês não quiseram saber delas e nós guardá-mo-las."
"Guardaram-nas?", C. estava a ficar algo enjoado com aquela conversa.
"Sim ... durante algum tempo tentámos fazer alguma coisa por elas, recuperar esses pedaços da alma de alguém. Parecia-nos uma barbaridade abandonar assim entidades que continham alguma forma de vida, sem as tentar ajudar. Mas rapidamente nos apercebemos que não era possível fazer nada e fizémos o que tinha de ser feito ...", a voz de Sheila baixou para um tom quase inaudível, ao mesmo tempo que a sua cabeça, "Foi rápido e cremos que indolor. Foi melhor assim."
Levantou a cabeça. Havia uma lágrima a luzir no canto do seu olho.
"Mas o que nos interessa agora são os casos que resultaram.", sorriu e a sua voz animou-se de novo, "Como o teu e o de todos os teus companheiros. São muitos. Não sei exactamente quantos mas há alguns milhares de ARLIs no sistema. Conseguiram transferir toda a sua essência, isto é, a sua personalidade mental juntamente com os seus conhecimentos memorizados, para as tais cápsulas digitais e é assim que sobrevivem aqui dentro, alguns andam também artilhados com uma série de outros periféricos, enfim, há ARLIs para todos os gostos.", soltou uma gargalhada, "A grande maioria aliou-se para formar a Resistência. Já lá iremos. Mas também há ARLIs solitários, que vagueiam por aí sem eira nem beira, sempre muito independentes. Às vezes visitam-nos mas nunca os conseguimos reter por muito tempo."
"Reter?"
"Oh é apenas uma força de expressão. Não prendemos ninguém, muito menos ARLIs. De vez em quando passam aqui uns tempos mas não ficam, para desgosto das meninas de Sheiland. É a vida.", sorriu e encolheu os ombros.
"Mas porquê?"
"Ora, porque os ARLIs são assim uma espécie de heróis de guerra cobiçados. O problema é que a grande maioria de vocês não se sente muito atraído por corpos fictícios e portanto preferem manter-se nas vossas bolsas digitais, sem corpo e consideram tudo isto uma infantilidade passageira. É claro que toda esta veneração das avatares pelos ARLIs é um pau de dois bicos para elas próprias porque se os seus heróis conseguissem o que pretendem, este mundo, eu, todos os avatares e todas as outras formas de vida artificial desapareceriam, provavelmente."
"Porquê?"
"Bom, porque é precisamente contra tudo isto em geral que vocês lutam há 200 anos. Contra "a" máquina.", e Sheila fez o sinal de aspas com ambos os dedos indicador e médio, os braços levantados no ar.
"Antes de te explicar como funciona a Resistência, quero-te apresentar alguém."
"Quem?"
"Já verás. Vem. Vamos fazer um intervalo e sair daqui.", e abriu as asas, preparando-se para voar.

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