sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Where The Streets Have No Name

Bor III
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Macro Ovo Estrelado
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Mas ele não percebera a indirecta, nem quisera alongar muito a conversa, porque a sua casa passara a ser vigiada noite e dia por uma Mãe-Inspectora que zumbia ininterruptamente do lado de fora da cúpula envidraçada.
Descobriu a caixa por acaso, porque andou a vasculhar a casa toda à procura de qualquer coisa que o Grug pudesse ter deixado. Gostava de Grug. Fora o seu companheiro desde sempre. Davam-se bem. Grug não era como certos companheiros que fazem a vida negra a uma pessoa. Mantinha-se na dele, a maior parte do tempo. Lamba, o companheiro de Ilac era um inferno ambulante, segundo o que Ilac dizia e segundo o que ele próprio via através da parede de vidro que ligava as duas casas. Aparentemente, passava a vida a perseguir Ilac com insinuações indecentes. Aparecia-lhe nu por todo o lado e já lhe tinha até mostrado a si próprio o pénis umas quantas vezes do outro lado do vidro. O vidro era à prova de som, por isso a única coisa que Bor conseguia perceber era que Lamba era doido, mas de acordo com o que Ilac lhe dizia parecia ser outra coisa distinta.
“Porque é que não te queixas à Mãe-Inspectora do sector?”
“Já me queixei dezenas de vezes. A resposta é sempre a mesma. Continue, por favor. Continue, por favor ... Continue uma merda. Queria ver se ela tivesse que dormir com aquele tarado todos os dias. Espeta-me com o coiso dele debaixo dos sovacos e diz que me ama.”
Piscara os olhos. Desde o desaparecimento de Grug que tudo lhe começara a parecer periclitantemente estranho. Como se estivesse prestes a desabar. Depois descobrira a caixa por acaso. Só que a caixa não o ajudara muito. Pelo contrário. As coisas da caixa explicavam-lhe como era a vida muito tempo antes do seu tempo. Mas não lhe explicavam como é que aquilo se fora transformando nisto. Era quase como se estivessem a descrever universos distintos. E, finalmente, para piorar as coisas, há dois meses atrás começara a receber umas mensagens estranhas no seu PacMaster. Aparentemente eram do próprio Grug, que afinal estivera mesmo na Colónia de Alimentação da Europa, só que conseguira escapar e agora vivia dentro do seu computador. Não era bem dentro do seu computador, porque aparentemente podia circular por todo o mundo, mas de qualquer modo e pelo que conseguira perceber, estava dentro do circuito ou Sistema, como Grug lhe chamava.
Aos poucos, Grug fora-lhe conseguindo explicar uma série de coisas muito, muito estranhas. E agora, ali de pé, à espera que a porcaria do último ovo da ração de seis a que tinha direito por mês, ficasse totalmente colado ao raio da frigideira, decidiu que tinha de fazer alguma coisa porque estava farto de comer ovos pegados, quando agora sabia que um dia tinha havido um mundo em que não havia rações e em que os ovos eram manjares deliciosos porque eram postos por galinhas sãs, criadas por agricultores em quintas ao ar livre, debaixo de céus azuis a perder de vista.
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Naquela manhã tinha folga. Acordou um pouco mais tarde do que o habitual e ficou na ronça, ouvindo o zumbido das Mães lá fora, pela janela aberta.
Olhou o pequeno cubículo transparente. Pelo canto do olhos reparou que Ilac já saíra de casa. Provavelmente tinha ido tratar de algum assunto pessoalmente à Central da Cúpula onde estavam os grandes computadores ordenadores. Ilac era um dos responsáveis pelo Plano de Vida Intraestelar. Trabalhava a partir de casa, como quase toda a gente, mas de vez em quando era preciso introduzir cálculos directamente nos Ordenadores. Felizmente a sua casa fazia esquina e portanto não tinha vizinhos do lado direito. Mas depois lembrou-se que sempre fora assim e que nunca se preocupara muito com isso. Toda a gente vivia em aquários. As Mães tinham de controlar tudo o que se passava no interior dos apartamentos. Claro que o faziam através de sensores e portanto não havia necessidade de existirem paredes transparentes. Mas de acordo com o que Grug lhe dissera, as Máquinas ... as Mães ... Grug referia-se às Mães como Máquinas ... as Mães haviam decidido no princípio da Nova Era que deveriam aproveitar as características do ser humano contra ele próprio e portanto tinham decidido que toda a gente viveria em casas transparentes para que o risco de transgressão diminuisse consideravelmente. Segundo Grug, o ser humano era bisbilhoteiro e delator por natureza, uma vez que pensava em si próprio primeiro e só depois nos outros.

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