segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Where The Streets Have No Name

Bor IV
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Macro Comprimido
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Aquelas coisas todas eram muito estranhas. E tinham começado a dar-lhe um pouco a volta à cabeça. Já não olhava para a sua vida com os mesmos olhos. Questionava tudo. E começara também ele a ter comportamentos diferentes do habitual. Por exemplo, ficar na ronça. Nunca fizera aquilo. Mas ultimamente, como entretanto já não tinha uma Mãe-Inspectora todo o dia a observá-lo, apetecera-lhe ficar na ronça várias vezes. E de mais a mais, não estava a fazer nada de mal. Era o seu dia de folga do Centro de Investigação BioEspacial. Podia fazer o que lhe apetecesse. Podia inclusivamente ficar na cama o dia todo, se lhe apetecesse. Claro que seria estranho e o Ilac, assim que voltasse, iria bater-lhe imediatamente no vidro para inquirir o que se passava. Mas o máximo que podia acontecer era uma Mãe-Observadora vir bater-lhe à porta para verificar se os seus impulsos vitais estavam nos níveis normais. E depois? E depois, se não estivessem, provavelmente seria recambiado para o Centro de Observação Central para exames psico-biológicos durante uma semana. E depois? E depois, se mesmo assim houvesse algum valor incorrecto, seria desalojado e enviado directamente para a Colónia de Alimentação e Combustível da Europa. E depois? Depois ... não fazia a mínima ideia. De acordo com Ilac, ninuém saía vivo das Colónias de Alimentação e Combustível. Ponto final.
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Levantou-se. Mas ele não queria ficar na ronça. Tinha coisas para fazer. Enfiou o fato metalizado de protecção UV e nem sequer se lembrou de passar primeiro pelo Chuveiro Plasmático. Um dia sem se desinfectar também não trazia mal ao mundo. De mais a mais, não era por se desinfectar todos os dias que o céu deixara de ter aquela cor de caca castanho-amarelada. Olhou para a mesa junto à parede de entrada. Ainda tinha três rações de primeira refeição. Três pílulas coloridas. Uma amarela, com sabor a tutti-frutti. Uma verde, com sabor a mentol. E uma rosa, com sabor a morango. Decidiu-se pela rosa. Engoliu-a sem pensar e saiu de casa.
Caminhou pelo túnel devagar. Os seus passos ressoavam, fazendo eco. Não se via quase ninguém. Naquela Cúpula viviam 100 humanos. As cúpulas maiores encontravam-se na América e na Ásia onde havia até 500 ou 600 habitantes nalgumas delas. De resto, funcionava tudo da mesma forma. Umas 20 cúpulas por Continente. Cada Cúpula com a sua Central, onde se concentravam todos os serviços e onde toda a gente trabalhava. Cada Continente tinha um Centro Regulador onde reportavam todas as Centrais das Cúpulas. O resto das cúpulas era constituído por infindáveis túneis transparentes que se ligavam à Central e a praçetas temáticas. Tanto quanto sabia, era assim em todo o lado.
Dirigiu-se à Praçeta de Informação para saber as Notícias em Foco, antes de fazer qualquer coisa. Claro que podia ter-se informado a partir do seu PacMaster, mas não queria receber nenhuma mensagem do Grug antes de ter reflectido sobre tudo aquilo. Ele pusera-o em contacto com um tal de Lovitz que morava na rua paralela à sua e este por sua vez já tinha estabelecido contacto com uma tal de Rebeca que vivia na sua própria rua, mas cinco casas à esquerda da sua. E agora andava a tentar convencê-lo a encontrar-se pessoalmente com os outros dois. Nem o quisera ler! Era absolutamente interdito confraternizar com alguém que não fosse seu vizinho directo. Só o facto de estarem a contactar através dos PacMasters já era completamente insano, quanto mais pessoalmente. Todas as tardes, quando ligava o seu PacMaster, esperava a explosão. Há semanas que vivia aterrorizado. Não queria explodir. Era uma irresponsabilidade. Mas ao mesmo tempo ... era ... era ... como dizer? como explicar? ... era excitante? ... era um pouco como a cara do Lamba quando lhe mostrava o pénis através do vidro. Causava-lhe espasmos no peito. Que eram agradáveis, até.

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