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Macro Vidro Fosco
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Quando chegou a casa sentou-se na cadeira em frente do PacMaster e ficou assim durante muito tempo. Nem deu pelo tempo passar. Quando deu por si, tinha o estômago a dar horas, uma Mãe-Inspectora do lado de fora a zumbir e a tocar um alarme e o Lamba e o Ilac do outro lado do vidro a bater furiosamente e a gritar qualquer coisa muda.
Levantou-se. Piscou os olhos, sem saber muito bem o que fazer. Dirigiu-se instintivamente até à entrada da casa e estendeu o braço. A Mãe-Inspectora zumbiu e piscou luzinhas de todas as cores sem se mexer. O alarme continuava a soar. Depois percebeu. Claro … aquilo era uma Mãe-Inspectora e não uma Mãe-Observadora. As Mães-Inspectoras revistavam as casas. E ele tinha que a deixar passar, carregando no botão verde do interior do seu apartamento, ou ela não poderia passar e a porcaria do alarme ia continuar a tocar ininterruptamente. Se entrasse sem ele accionar o botão verde, curto-circuitar-se-ia instantaneamente. Era uma maçada. Carregou no botão e afastou-se para a deixar passar. A máquina entrou imediatamente a uma velocidade incrível.
Bor ficou a observá-la com os seus pequenos olhos verdes, enquanto ela procedia à sua inspecção minuciosa. O alarme calara-se. Lamba e Ilac ainda estavam do outro lado do vidro, mas tinham parado de bater e gritar. Pelo canto dos olhos conseguiu perceber que acordara a rua toda, porque os ocupantes dos outros apartamentos tinham vindo todos até junto das respectivas paredes de vidro para ver o que se estava a passar.
A Mãe-Inspectora terminou a sua vistoria e voou até junto de si. O écran iluminou-se em néon azul e ele leu o relatório:
“Código 08210040.
Código A21C540.
Início Inspecção: 2200, Inverno, 18.05 GMT
Término Inspecção: 2200, Inverno, 18.17 GMT
Resultado: Zero transgressões
Diagnóstico: 85% Normalizado
15% Desconhecido
Sugestão: Check-Up Geral
Marcação: 2200, Inverno, 08.00 GMT
Local: Centro de Observação Central
Objectivo: Exame Psico-Biológico Total
Com uma série de blips e bzzs a Mãe-Inspectora vomitou uma folha translúcida amarela e Bor apanhou-a antes de ela flutuar até ao chão. Depois saiu. Ficou a olhar para aquilo ainda a piscar os olhos. Lamba e Ilac estavam de volta ao ataque do vidro e às palavras mudas. Ligou o PacMaster. Ilac abandonou o vidro e dirigiu-se ao seu PacMaster. Lamba sentou-se de pernas cruzadas no chão a olhar para ele com um sorriso na cara.
Lá ao fundo conseguia ver o vizinho de Ilac com o nariz pespegado no vidro. E por trás dele a vizinha do vizinho do vizinho de Ilac. Piscou os olhos. Seria a tal de Rebeca …
Caramba! Agora teria de ir ao Centro para um Check-Up. Mas o que é que estivera a fazer? Ouviu a voz de Ilac pelo altifalante:
“O que é que se passa?”
Respondeu através do microfone:
“O que é que eu fiz?”
“Nada. Estavas sentado aí há horas. Parecias estúpido.”
“Pois … não sei …”
Ela ainda tinha o nariz colado ao vidro. Àquela distância conseguia ver apenas uma mancha de cabelos compridos ruivos e uns óculos.
“Vais ser inspeccionado?”
“Vou …”
“Quando?”
“Amanhã. Às 8.”
Ilac suspirou.
“Bom, não deve ser nada. Não te esqueças de comer.”
Ela inclinou a cabeça para o lado esquerdo, direito dela.
“Não …”
Ilac desligou. E ele imitou-o.
Levantou-se, sempre a olhar lá para o fundo, onde ela ainda estava colada ao vidro. Depois ela afastou-se e as luzes apagaram-se no seu apartamento. Enfiou automaticamente a pílula verde na boca e apagou também as luzes. Deitou-se. De barriga para baixo, tendo o cuidado de colocar a mão por baixo do corpo ante de estabelecer contacto com o colchão. Deixou ficar a mão sobre o seu pénis, como que encapsulando-o numa concha. Poucos minutos depois estava a dormir. E a sonhar. Com a vizinha do vizinho do vizinho de Ilac …
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