sábado, 1 de setembro de 2012

MURMÚRIOS DE MANHATTAN IV

Taxi!


É uma experiência interessante apanhar um táxi em Manhattan. Por dois motivos: o próprio acto de os chamar e as características dos indivíduos que os conduzem.

Fazemos a experiência. Basta levantar um braço no ar e logo um bicho amarelo pára perto de nós. Acho que nunca calhou experimentar à chuva em hora de ponta. Talvez não tivesse tanta sorte. Quando percebemos o que acontece sempre que levantamos um braço, pomo-nos a brincar com aquilo, como se de arrumadores nos tratássemos. Claro que os taxistas não acham tanta piada e levamos alguns gritos em americano calão irrepetível. Portanto, não nos podemos queixar com a falta de transporte em Manhattan. Aliás, qualquer doido que tente alugar um carro e conduzir é isso mesmo - doido, só que vai passar a admitir que o é, em vez de apenas ser julgado pelos outros como tal. Aprendei, senhores: em Manhattan nem sequer é de bom tom andar de carro, não é cool ... ou se anda a pé, ou se anda de subway, ou se chama um táxi! Chamar um táxi para ir aqui e ali e acolá, em vez de apenas para trajectos importantes (como ir à ópera) é o máximo da coolada - quem pode, pode.

Outra questão muito diferente são os espécimens que se podem encontrar atrás do volante de um táxi: desde nativos desconfiados, até estrangeiros que não falam inglês e não sabem onde são os sítios para onde queremos ir! Há literalmente de tudo. Aliás, com o andar dos tempos começa a ser difícil encontrar um verdadeiro nativo a conduzir um táxi.
Portanto, se for nativo, ficará calado e aguardará calmamente para ver quem leva atrás de si.  Apenas abrirá a boca se achar conveniente, caso contrário manter-se-á calado que nem um rato e esperará para receber o pagamento do trajecto no final da corrida. Os nova-iorquinos quando querem são absolutamente insondáveis. Mas só quando querem.
Se for estrangeiro, há duas hipóteses. Ou pertence a uma maioria étnica que pulula os cantos da cidade - irish, porto-riquenho, italiano, mexicano, chinoca, japonês, etc. Ou pertence a uma minoria étnica que nem sequer tem poiso ainda certo na cidade. Os da primeira categoria são quase como os nativos, apenas com uma pequena diferença - falam. Aliás, se não falarmos com eles é que ficarão desconfiados. Contar-nos-ão alegremente as últimas da sua cidade, discorrerão sobre o mayor, a criminalidade, os turistas, o Obama, os terroristas, o 9/11 (I'm sure) e tudo o que quisermos. Tudo apimentado com os seus respectivos sotaques americanizados forjados nas ruas dos respectivos bairros a que pertencem - Little Italy, Harlem, Brooklin, Queens, Chinatown, etc.
Os da segunda categoria não falam não porque não queiram, mas porque não sabem. Falar em inglês, isto é. Se souberem o trajecto correcto para o destino que desejamos é uma sorte! Senão, não se importam nada de serem guiados, literalmente, rua a rua, avenida a avenida, número a número. Experimentem fazer isto com um nativo e, se não se mantiver calado, provavelmente expulsar-vos-á do carro. É claro que com outros nativos isto é possível até porque, nativo que é nativo que se preze tem sempre um percurso preferido para ir do ponto A ao ponto B sem apanhar trânsito - "A melhor maneira de ir até X é meter pela Rua nº tal, cortar na Av. Y, seguir até à Rua nº coiso e desembocar em B. Se estiver muito trânsito na Av. Y então abrevie para a Rua nº etcetera e siga pelo rio até B." E o gajo não tem outro remédio senão obedecer. Time is money and you're in the land where time and money have the same value. 
Uff! E pronto. Taxi!!!!!!! To the Empire, please.

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