9/11
Parece uma imagem de um filme de Hollywood. A muitos que ligaram a televisão nessa manhã de 11 de Setembro de 2001, foi isso mesmo que pareceu. "Pensei que estava a ver um anúncio de um filme americano." A segunda hipótese que as pessoas colocavam, quando se apercebiam que afinal estavam a ver uma coisa real a acontecer em directo, era que deveria ter sido um acidente. Inicialmente pensou-se mesmo que tinha sido uma avioneta.
Estava no Colombo na fila para o almoço de um restaurante mexicano, quando a minha mãe me ligou para me dizer que um avião tinha embatido no World Trade Center. A pessoa que estava comigo, mais conhecedor de política e do mundo, disse-me imediatamente: "É um atentado." Ele sabia que aviões comerciais não costumavam sobrevoar a cidade de Manhattan. Alguns minutos mais tarde a minha mãe ligou-me de novo para me dizer que um segundo avião embatera na outra torre. Ligar-me-ia mais uma vez para me dar a notícia do Pentágono. Nessa altura, o meu companheiro de almoço disse-me: "É guerra." Quando finalmente cheguei perto de uma televisão, foi para assistir, horrorizada, à queda das torres onde tinha estado 6 meses antes a apreciar a vista incrível da cidade. Lembro-me da Estátua da Liberdade, lá ao fundo, pequena e bonita, erguendo a sua tocha com dignidade, dando as boas-vindas ao mundo. Lembro-me do silêncio intenso e de uma sensação qualquer de dejá vu que se repetiu 12 anos depois de lá ter estado a primeira vez. Lembro-me de torcer o pescoço todo cá em baixo, antes de entrar, para olhar o topo das duas sentinelas de um mundo novo, estranho, inatingível.
Não consigo descrever o que senti no momento em que as torres colapsaram sobre si próprias. Ainda hoje não consigo descrever. Era surreal. Era como se estivesse a assistir a um canto do Inferno de Dante, em directo e exclusivo. Era como se nesse dia brindado por um céu azul paradisíaco, quem estivesse a tomar conta do mundo fosse um Deus muito sádico, ridiculamente sádico - um avião não bastou, dois aviões não bastaram, pessoas a lançarem-se dos prédios não bastaram, uma torre cair não bastou, só bastou quando a segunda torre caiu. Uma ferida foi aberta, esgravatada e escavada até à medula nesse dia, no coração de Nova Iorque, de todos os nova-iorquinos, e do resto do mundo.
Nesse dia, o mundo ocidental pós Holocausto, conheceu o Inferno. Cada capítulo que se sucedia naquela tragédia dantesca parecia-nos mais e mais impossível de acreditar. E, ao contrário de tantos outros holocaustos que gerações antes de nós viveram, a nossa geração assistiu em directo ao seu. O mundo mudou nesse dia. Tudo era, agora, possível.
Houve, também, algo de bom que saiu de todo esse Inferno. A imagem que os nova-iorquinos e a cidade tinham para o mundo mudou também. Houve heróis, como os bombeiros ou os passageiros do famigerado vôo 93 da United Airlines, que pouparam os governantes de um país à vergonha de terem de abater um avião cheio de concidadãos. Foi o pior mas também o melhor dia da cidade. Houve voluntários, milhares. Houve uma ordem e um civismo extraordinários, no meio de uma calamidade sem precedentes. Nova Iorque, a calculista, a impessoal, a arrogante, a frenética, a individualista, mostrou ao mundo que não há ninguém que ame mais a sua cidade do que os nova-iorquinos. Nesse dia, Nova Iorque ergueu-se mais alto ainda do que o tamanho das torres que lhe deitaram abaixo, e tocou o céu. E afirmou, alto e bom som, para que o mundo ouvisse: Foi muito, muito, muito, demasiado duro. Mas voltaremos a erguer-nos. Ainda não, daqui a pouco.
Passaram-se 11 anos. Nova Iorque ergueu-se de novo, há muito tempo. Mas a memória deverá permanecer. É importante que não desapareça. Porque não foi só Nova Iorque que foi ferida, mas o mundo. Porque, como afirmou Bush, o 11 de Setembro acabará por ser apenas uma data no calendário, como tantas outras de que apenas ouvimos falar. Para as novas gerações corre o risco de ser apenas isso. Nós, que assistimos em directo e ao vivo, não podemos deixar que o mundo se esqueça. Para que o inenarrável não volte a acontecer.
Estava no Colombo na fila para o almoço de um restaurante mexicano, quando a minha mãe me ligou para me dizer que um avião tinha embatido no World Trade Center. A pessoa que estava comigo, mais conhecedor de política e do mundo, disse-me imediatamente: "É um atentado." Ele sabia que aviões comerciais não costumavam sobrevoar a cidade de Manhattan. Alguns minutos mais tarde a minha mãe ligou-me de novo para me dizer que um segundo avião embatera na outra torre. Ligar-me-ia mais uma vez para me dar a notícia do Pentágono. Nessa altura, o meu companheiro de almoço disse-me: "É guerra." Quando finalmente cheguei perto de uma televisão, foi para assistir, horrorizada, à queda das torres onde tinha estado 6 meses antes a apreciar a vista incrível da cidade. Lembro-me da Estátua da Liberdade, lá ao fundo, pequena e bonita, erguendo a sua tocha com dignidade, dando as boas-vindas ao mundo. Lembro-me do silêncio intenso e de uma sensação qualquer de dejá vu que se repetiu 12 anos depois de lá ter estado a primeira vez. Lembro-me de torcer o pescoço todo cá em baixo, antes de entrar, para olhar o topo das duas sentinelas de um mundo novo, estranho, inatingível.
Não consigo descrever o que senti no momento em que as torres colapsaram sobre si próprias. Ainda hoje não consigo descrever. Era surreal. Era como se estivesse a assistir a um canto do Inferno de Dante, em directo e exclusivo. Era como se nesse dia brindado por um céu azul paradisíaco, quem estivesse a tomar conta do mundo fosse um Deus muito sádico, ridiculamente sádico - um avião não bastou, dois aviões não bastaram, pessoas a lançarem-se dos prédios não bastaram, uma torre cair não bastou, só bastou quando a segunda torre caiu. Uma ferida foi aberta, esgravatada e escavada até à medula nesse dia, no coração de Nova Iorque, de todos os nova-iorquinos, e do resto do mundo.
Nesse dia, o mundo ocidental pós Holocausto, conheceu o Inferno. Cada capítulo que se sucedia naquela tragédia dantesca parecia-nos mais e mais impossível de acreditar. E, ao contrário de tantos outros holocaustos que gerações antes de nós viveram, a nossa geração assistiu em directo ao seu. O mundo mudou nesse dia. Tudo era, agora, possível.
Houve, também, algo de bom que saiu de todo esse Inferno. A imagem que os nova-iorquinos e a cidade tinham para o mundo mudou também. Houve heróis, como os bombeiros ou os passageiros do famigerado vôo 93 da United Airlines, que pouparam os governantes de um país à vergonha de terem de abater um avião cheio de concidadãos. Foi o pior mas também o melhor dia da cidade. Houve voluntários, milhares. Houve uma ordem e um civismo extraordinários, no meio de uma calamidade sem precedentes. Nova Iorque, a calculista, a impessoal, a arrogante, a frenética, a individualista, mostrou ao mundo que não há ninguém que ame mais a sua cidade do que os nova-iorquinos. Nesse dia, Nova Iorque ergueu-se mais alto ainda do que o tamanho das torres que lhe deitaram abaixo, e tocou o céu. E afirmou, alto e bom som, para que o mundo ouvisse: Foi muito, muito, muito, demasiado duro. Mas voltaremos a erguer-nos. Ainda não, daqui a pouco.
Passaram-se 11 anos. Nova Iorque ergueu-se de novo, há muito tempo. Mas a memória deverá permanecer. É importante que não desapareça. Porque não foi só Nova Iorque que foi ferida, mas o mundo. Porque, como afirmou Bush, o 11 de Setembro acabará por ser apenas uma data no calendário, como tantas outras de que apenas ouvimos falar. Para as novas gerações corre o risco de ser apenas isso. Nós, que assistimos em directo e ao vivo, não podemos deixar que o mundo se esqueça. Para que o inenarrável não volte a acontecer.
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