"Nenhum estudo afirma que viverás mais anos por beberes Coca-Cola, mas sabemos que a felicidade aumenta a esperança de vida."
E por falar em publicidade ... não podia deixar de referir o mais recente anúncio da Coca-Cola, um clássico exemplo de como se pode tornear as leis do Código da Publicidade, à grande e à americana, obviamente.
No referido anúncio, surge um dinâmico senhor de avançada idade, a correr cheio de alegria e felicidade pelos campos fora, exercitando os músculos e ao mesmo tempo a nossa capacidade de encaixe. Em voz-off, o dito senhor vai descrevendo as maravilhas da ingestão de Coca-Cola, levando-nos a crer que a sua vitalidade se deve ao consumo desse "elixir da juventude".
Ora bem, a Coca-Cola sabe muito bem que jamais haverá algum estudo que diga o que quer que seja em seu abono, até porque a única coisa vantajosa que ela traz, e como o próprio senhor refere, é a utilização em canos enferrujados - uma clara analogia às articulações enferrujadas, ou seja, a uma das principais doenças que afectam a maioria da população envelhecida - artrite reumatóide.
Aliás, os únicos estudos que de facto existem são os que apontam o consumo de bebidas gaseificadas (das quais a Coca-Cola é a mais conhecida) como pernicioso para a saúde (sobretudo das camadas mais jovens, precisamente as maiores consumidoras deste tipo de bebidas), bem como a inclusão de cafeína que como toda a gente sabe, não nos faz nada bem.
Mas como a Coca-Cola também sabe muito bem, se não os podes vencer junta-te a eles, ou seja, utiliza as mesmas armas que os teus inimigos usam para te atacar, mas em sentido inverso - esta é uma técnica de marketing antiga e extremamente eficaz quando bem feita, o que é o caso.
Depois, numa clara colagem às campanhas de muitos medicamentos do foro cardíaco, a Coca-Cola refere que "sabemos que a felicidade aumenta a esperança de vida", utilizando a expressão "aumenta a esperança de vida" propositadamente, conferindo um tom científico e especialista à afirmação.
Relativamente a este ponto tenho duas perguntas:
1. Sabemos? Quem é que sabe? A Coca-Cola? Os cientistas que se dedicam ao estudo dessas matérias?
Não me digam que existem estudos que confirmam sem sombra de dúvidas que a felicidade aumenta a esperança de vida e ainda não apareceram refereciandos em revistas científicas prestigiadas e, essas sim, especialistas na matéria?
2. A resposta é que não existem e por esse motivo a Coca-Cola não pode afirmá-lo, utilizando para isso a expressão "sabemos que", uma clara técnica de marketing que visa a "piscadela de olho" ao consumidor, do género "é um segredo nosso".
Mais uma vez, como profissional da publicidade, vejo-me na obrigação de me sentir indignada relativamente a este atentado à inteligência dos consumidores, entre os quais me incluo.
Não há dúvida que este é um clássico.
Para qualquer publicitário, este anúncio é um clássico exemplo de como se pode "enganar" com classe um público-alvo desprevenido.
Para qualquer publicitário decente, este anúncio é um clássico exemplo de como uma marca com imenso prestígio mundial pode utilizar a notoriedade e confiança do seu público-alvo para veicular mensagens distorcidas, influenciando subliminarmente de forma a levar ao consumo do produto e aumentar as vendas, alargando o seu target a um novo nicho de mercado cada vez mais importante - a população mais idosa, que continua a crescer em todo o mundo, tem um elevado poder económico, uma maior esperança de vida (mas não por causa da Coca-Cola, certamente) e uma maior incidência de artrite reumatóide.
Coca-Cola é que NÃO É!
Sem comentários:
Enviar um comentário