sábado, 21 de outubro de 2006

SENTIDOS V

















PROVAR
A sua boca
desenhou um rol de desejos no ar,
como uma trepadeira em tinta da china imaginária,
que se desenrolava em espirais artisticamente elegantes,
ao mesmo tempo doces e apaixonadas,
suaves e perigosas.

A sua boca
lançou sopros quentes de lascívia
que o envolveram numa teia
ardente e periclitante,
frágil e insegura.

A sua boca,
que ele podia desenhar
com um dedo trémulo no ar,
mesmo às cegas,
ondulou como uma onda feita de lábios
carnudos e ávidos,
mimados e suplicantes,
mas orgulhosos.

A sua boca
entreaberta
deixava antever uma câmara húmida
de pecados molhados,
escura e mortífera,
pronta a engoli-lo sofregamente
e a aprisioná-lo eternamente.

E foi ao encontro dela,
esqueceu-se de si,
impotente,
desarmado,
absolutamente despojado

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