Gaivotas
Descobri que é possível dar de
comer às gaivotas em pleno ar. Algumas são exímias a apanhar bocadinhos de pão
desta forma, normalmente machos mais velhos e experientes.
Que há fêmeas tão ou mais
agressivas do que os machos alfa, que gritam estridentemente para afuguentar
até outros machos interpostos entre si e a comida. Provavelmente são fêmeas
mais velhas, companheiras preferidas dos machos alfa.
Que há gaivotas que conseguem
funcionar perfeitamente com uma perna apenas, pousando no chão tão
graciosamente como se o par estivesse intacto.
Que o troféu supremo é um peixe
inteiro e a sua caçadora é perseguida furiosamente pelo resto do bando, que se
digladia em pleno ar pela conquista do acepipe, roubando-se consecutiva e
descaradamente o peixe. Este é passado de bico em bico, cai na areia, é apanhado
em pleno ar, até que finalmente consegue ser definitivamente conquistado por um
membro do grupo.
Que há gaivotas tímidas,
medrosas, afoitas, corajosas, chatas, persistentes, teimosas, mázinhas,
egoístas ou sábias, tal e qual como os seres humanos.
E depois cismei. Terão as
gaivotas memória? Capaz de recordar alguém de ano para ano. Reconhecerão elas
cada pescador, como cada pescador reconhece cada uma delas? Ou pelo contrário,
de cada vez que vêem alguém é como se fosse a primeira vez, tal e qual como quando
se despedem do sol todos os dias, fitando-o serena e intensamente, pousadas em
grupo na areia, à hora do ocaso?
A eternidade é isso. Memória de
quem fica por quem parte.
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