quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Paradise - Day 4

Enquanto uns permanecem de pedra e cal, outros há que desaparecem surpreendemente deste mundo, até no Paraíso, que parece tudo conservar eternamente. Em qualquer parte do mundo, até no Paraíso, há sempre um bar irlandês. Isto diz muito, quer dos irlandeses, quer do resto do mundo. Que os irlandeses gostam de toda a gente e toda a gente gosta de irlandeses. Existe mesmo um ditado irlandês que reza assim: “Um estranho é só um amigo que ainda não se conhece.”
O bar irlandês do Paraíso morreu. Fechou portas. Desapareceu. Ou antes, ainda lá estão os cacos, os ossos, o esqueleto em declínio composto pelas paredes encarcomidas, a tabuleta desengonçada e o néon apagado e partido. Foi-se. Caput. Provavelmente engolido pela crise que, curiosamente, viajou de lá para cá.
Tinha uma pedra cá fora, encostada ao muro da esplanada denominada Weather Stone, que listava os vários tipos meteorológicos consoante a sombra do sol ou outros elementos a atingiam. Sei que copiei essa lista para algures há uns anos atrás, mas não faço ideia onde se esconda. De qualquer forma, suponho que bastará googlear para aparecer qualquer coisa semelhante.
Recordo grandes noitadas de karaoke passadas no bar irlandês em que eu, acompanhada do meu melhor amigo e três vodkas inteiras, era capaz de cantar o What a Feeling da Irene Cara com tanta garra ou mais garra do que ela. Bons tempos ...
E perguntei-me subitamente, ou antes, afirmei – se o Paraíso um dia acabasse por qualquer desígnio perturbador da natureza (tsunamis, terramotos, tudo é possível nos dias que correm) eu morreria certamente. Inexoravelmente. Morreria.
Quem, pelo contrário e também inacreditavelmente, permanece de pedra e cal é o pederasta do Paraíso, que continua a vir passear os seus rafeiros na praia a meio da tarde. Como desculpa para vir espreitar corpos femininos alheios. Anda cada vez mais devagar e curvado e traz cada vez mais cães consigo. O ano passado eram dois, este ano já são três. Presume-se que a sua solidão seja proporcional ao séquito de cães que o acompanha.
 
Sim, morreria certamente. Mesmo com pederastas. Morreria.

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