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Gosto de cicatrizes.
Cicatrizes são selos da vida.
Provas da nossa passagem por este mundo.
Certezas de que não somos anjos, inodoros, incolores, insípidos.
Marcas da nossa substância.
Pinturas de guerra permanentes.
As cicatrizes contam sempre histórias. Irónicas, surpreendentes, dolorosas.
Histórias com princípio, meio e fim.
Cicatrizes despertam curiosidade, fascínio, são mistérios que tentamos desvendar como detectives persistentes.
São motivo de especulações, de incertezas, de boatos.
As cicatrizes fazem de nós guerreiros marcados por batalhas privadas, de que só nós sabemos os pormenores mais escabrosos.
Os anjos não têm cicatrizes, porque os anjos não têm substância. Mas quando as têm, das duas uma, ou cometeram um pecado tão grave que a ira de Deus ultrapassou a barreira da eteriedade imaterial, ou resolveram experimentar os prazeres e as mágoas da carne dos seres imperfeitos. Tornam-se, assim, automaticamente, interessantes.
Cicatrizes são passes para o Céu. "Entra", diz S. Pedro, "Tens uma cicatriz." ou "Não podes entrar. Sem cicatrizes, não temos a certeza de que sejas humano. Podes ser um impostor. Aguarda na sala ao lado, por favor."
Uma cicatriz é um código, um código belo e não de barras, que fala da nossa sobrevivência e, nos piores casos, um raspão, um encontrão com a morte.
Vês?, eu raspei na morte.
E ainda aqui estou.
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