terça-feira, 8 de setembro de 2009

PALAVRAS ESTÚPIDAS 72

Don't Stop 'Til You Get Enough
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Redescobri Michael Jackson. Há uns 20 anos que não o ouvia tanto, é verdade. É curioso que a morte dele tenha tido este efeito em muita gente, em cujo grupo não me envergonho de me incluir. O ser humano é estranho, paradoxal, impiedoso e sem sentido, muitas vezes. Até há poucos meses atrás Michael era um artista esquecido, perseguido por fantasmas de acusações de pedofilia e renegado para o canto das velhas estrelas caídas em desgraça e votadas ao pó da memória de tempos gloriosos idos.
Subitamente, Michael morre, o mundo esquece os podres do homem e volta a descobri-lo e neste sentido, acaba por se fazer a devida justiça ao artista, se não ao homem.
Fui fanática de Michael Jackson até aos 17 anos. Era compreensível, por dois motivos fortes. Eu era uma miúda e dançava muito. Michael era um miúdo um pouco mais velho que eu e dançava muito. Não só dançava muito como era muito bom a fazê-lo. Michael respirava música por todos os poros, tendo nascido para o palco e tendo crescido e vivido literalmente em cima de um palco desde os 5 anos de idade. Boa, má, razoável ou duvidosa, a sua música nascia-lhe na alma e desenrolava-se por todo o seu corpo como uma extensão natural do ser humano que ele era.
São incontáveis as horas que passei a dançar ao som de Michael Jackson. As suas músicas, qualquer pessoa que tenha praticado dança sabe-o, são um sonho de ritmo, irresistíveis. E o próprio Michael era um veículo fabuloso de inspiração para copiar passos e "moves" únicos. Basta olhar para ele quando dança junto de outros bailarinos profissionais - estes podem ter a técnica fabulosa, mas Michael tem a alma e isso não se aprende, nasce no corpo.
Foi então que apareceu o álbum Bad. Michael começou a deixar crescer o cabelo e a piroseira. Eu cresci e descobri outros artistas, mais complexos, mais intensos, mais maduros, mais sexuados. Deixei Michael para trás e apenas o consultava para uma ou outra música que me despertava a atenção. As letras melosas sobre "salvem o planeta terra e as criancinhas" tornaram-se uma constante na sua carreira, os gritinhos que antes eram cool começaram a soar enjoativos, as excentricidades e as operações plásticas aumentaram com a fama e tudo aquilo começou a parecer demasiado esquisito para o meu gosto. Até a dança começou a ficar demasiado repetitiva e amorfa, com uma expulsão de pulsões recalcadas ridícula e imberbe - tenho a certeza que qualquer psiquiatra concordará comigo quando afirmo que Michael Jackson transportava grande parte da sua nulidade sexual para a dança, com todos aqueles gritos desesperados de pseudo-masculinidade e gestos sexuais exagerados mas totalmente desprovidos de naturalidade.
Se Michael Jackson tivesse sido um tipo normal, teria sido um tipo muitíssimo cool. Mas Michael Jackson não era um tipo normal. Ainda assim, os seus pés e o seu corpo eram absolutamente mágicos e isso permanece. E é isso que grande parte do planeta se lembrou de celebrar, quando o artista morreu. A dança. A incrível magia da sua dança. E a energia da sua música. E Deus sabe como este planeta precisa de dançar ...
Por isso, Michael, não vou parar enquanto não me fartar de ti outra vez. E vou aprender a coreografia do Thriller, desta vez vou mesmo. É garantido.
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