domingo, 27 de setembro de 2009

PALAVRAS ESTÚPIDAS 73

Daniel
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Pasmo sempre quando as pessoas não entendem que uma das principais características de um bom actor é a versatilidade. O actor usa o seu corpo e a sua voz para incorporar personagens completamente díspares. Deve, por isso, tentar, na medida das suas possibilidades, transformar não apenas a sua personalidade por via do que transmite verbalmente, não apenas a sua aparência por via do guarda-roupa que lhe é fornecido, mas também todos os gestos, todos os tiques, todas as inflexões de voz que lhe são características e que devem desaparecer para dar lugar às do personagem que encarna.
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Pasmo, por isso, quando vejo Al Pacino, por exemplo (para pegar num exemplo que é consensualmente considerado excepcional pela maioria) fazer sempre de si próprio, com os seus gritos zurrados e a sua linguagem corporal semelhante de personagem para personagem. É um grande actor, diz o mundo. Eu franzo o sobrolho e digo que não me satisfaz completamente. Dirão que sou doida. Demasiado exigente. Mas como posso sê-lo quando vejo outros fazerem-no tão bem que me interrogo sobre a inteligência, perspicácia e sensibilidade dos que assim apelidam actores medianos de grandes actores?
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Poucos, muitos poucos se transformavam desta forma. O maior deles era Marlon Brando, cuja subtileza emprestada milimetricamente a cada papel interpretado é lendária. E, por isso, ele era o Maior. Houve outros. Richard Burton. Paul Newman. Ocupam o degrau abaixo. Intensos. Perfeitos. Precisos. Bette Davies. Extraordinária. A seguir Meryl Streep e Juliette Binoche. Magníficas. Camaleónicas. Subtis.
A nova geração tem 6 actores que, a meu ver, serão dignos sucessores. Sean Penn. Johnny Depp. Gael García Bernal. Nicole Kidman. Cate Blanchett. O primeiro é um furacão de talento. O segundo um pote de surpresas extraordinárias. O terceiro é um maravilhoso livro aberto ambulante. A quarta tem apurado com a idade como um bom e belo vinho. A quinta é capaz de fazer qualquer coisa de forma tão autêntica, até de homem, que até mete impressão.
Falta o sexto. O sexto dá comigo em doida. Chama-se Daniel Day-Lewis e não encontro adjectivos para o descrever. Como Brando, aparece pouco, mas quando aparece cria um Big Bang de representação. É explosivo, quase doentio na forma como assimila os personagens que lhe cabem, obssessivo e arrepiante. Vê-lo é um carrossel de emoções tão perturbador como fascinante. Porque os melhores actores nos fazem olhar para nós próprios e descobrir verdades humanas inquietantes. E Daniel, verdade seja dita, é quase ... quase ... quase ... tão bom quanto Marlon.
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