terça-feira, 12 de maio de 2009

MURMÚRIOS DE AVALON XIV

A Leitora Chata - Parte II
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O Escritor decidiu realizar uma pausa na sua deambulação pela busca da palavra perdida e debruçar-se sobre uma porcaria dum texto que tinha de escrever para uma conferência sobre ... qual era o raio do tema? ... a sua memória começava a ficar emperrada com a idade ... qualquer coisa relacionada com "o escritor e o seu inconsciente", ou algo assim ...
ºfgºf
Eu, portanto.
Sim, tu. Quem mais? Um poço de contradições.
Não, meu caro. A contradição aqui és tu. Sem ti, nada seria contraditório, pensava que já tinhas aprendido isso.
Não discuto. Nunca ganho. Já nem tento, meu velho.
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Desculpe, mas ...
Sim? O que foi agora?
Uma dúvida técnica. Este inconsciente que apareceu agora a falar consigo, trata-se do inconsciente do personagem Escritor ou do seu inconsciente enquanto Escritor desta história?
O que é que acha?
Não sei. Estou baralhada.
Deixo ao seu critério. Um livro é para ser interpretado pelo leitor.
Presumo então que eu também serei um personagem.
Presume mal. Você apareceu aqui do nada. Nem sei quem é. E francamente, duvido que me interesse saber. Talvez seja um bug na programação.
Ha! Ha! Já me chamaram tudo na vida. Bug na programação é uma novidade. Ainda por cima vindo dum escritor.
Novidades dos tempos modernos. Comecei a escrever num portátil. Deve ser por isso.
Pensei que escrevesse à mão.
Na maioria das vezes. Mas por vezes é mais rápido assim. O teclado acompanha melhor a rapidez do pensamento, se eu estiver para aí virado. Depende.
Hmmmm. Não prefere escrever à mão?
Prefiro, sim. Gosto da parte física da escrita. Das cãibras até. Mas fui seduzido, ao contrário de muitos dos meus teimosos e provectos contemporâneos, pela tecnologia sem fios.
E então acha-me um bug na programação do seu portátil?
Talvez. Sei lá. Não sei de onde é que você apareceu. Você sabe?
Não. Mas também pouco me importa. Gostava era de lhe fazer uma pergunta.
E eu gostava que você se calasse um bocadinho e me deixasse escrever. Que tal?
Podemos fazer um acordo.
Detesto acordos. Normalmente saio sempre a perder. Não tenho jeito para negócios. Eu é mais escrever, se é que me entende.
Eu deixo-o escrever em paz, se me for respondendo a algumas perguntas.
Que perguntas? ...
Sobre literatura. Talvez isso até o ajude a encontrar a sua palavra perdida.
Duvido. Mas supondo que eu aceito a sua proposta. O que tenho em contrapartida?
Já lhe disse, deixo-o escrever em paz.
Isso não chega, menina. Tenho que receber algo em troca. Algo seu, íntimo.
A minha inestimável contribuição para o desenvolvimento dos seus personagens.
Nem pensar!
Porquê?
Porque, minha menina, eu não escrevo a 4 mãos. Eu escrevo sozinho. E sobre esse ponto nem sequer existe discussão possível. Mas tenho uma ideia ...
Qual?
Quero conhecê-la. Talvez me possa servir de inspiração.
Conhecer-me?
Sim, a sua vida, os seus desejos, os seus sonhos, enfim, a sua essência. É disso que vivo.
Muito bem ...
Outra coisa. Só respondo a perguntas literárias. A minha vida pessoal não é para aqui chamada. Farto de jornalistas metediços já estou eu, como deve calcular.
Óptimo. Estou-me nas tintas para a sua vida pessoal. Deveria saber que para um verdadeiro leitor, a vida pessoal do seu autor é-lhe perfeitamente indiferente.
Então talvez me possa explicar um enigma que persiste na minha vida há anos - porque é que sou constantemente assediado por jornalistas para falar de tudo, menos do que realmente interessa?
Em primeiro lugar, eu disse "para um verdadeiro leitor". E em segundo lugar, terá de se perguntar se os seus verdadeiros leitores lêem os pasquins que esses pseudo jornalistas representam.
Entendido.
Posso fazer a primeira pergunta?
Você realmente ... Já?
Depois prometo que o deixo em paz durante as próximas 5 páginas.
Que generosa ... Faça lá a pergunta.
Donde é que lhe surgem as ideias?

1 comentário:

Dry-Martini disse...

Fantástico texto Dear Watson.
Tenho saudades suas...

XinXin