quarta-feira, 24 de junho de 2009

MURMÚRIOS DE AVALON XIX

A Leitora Chata - Parte III
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A Leitora pousou os óculos de aros castanhos à intelectualóide dos anos 60, no braço do cadeirão onde estava enroscada a ler ou tentar ler aquele capítulo e exclamou:
"Um momento! Não estou a perceber nada disto. Mesmo nada!"
"Outra vez?! Você é chata como o caraças, pá!"
"Desculpe lá maçá-lo com estas dúvidas pertinentes, mas eu sinceramente ... um pintor que está farto de pintar e depois um escritor que vai lá ter com ele e lhe faz uns rabiscos na obra-prima??!! Isto não faz sentido nenhum!"
"Ouça, menina ..."
"Não me chame menina, que nem faz ideia como isso me irrita!"
"Então, ouça, mulher, senhora, seja lá o que você for", o sobrolho do escritor estava de tal forma carregado num "v" escuro e denso, que se a leitora o pudesse ver ter-se-ia assustado e desistido de prosseguir aquele diálogo insistente, "Eu estou pouco me lixando, não sei se você já se apercebeu disso, mas se não se apercebeu deveria trabalhar mais essa perspicácia de que tanto se orgulha, estou pouco me lixando se você acha que isto não faz sentido nenhum ou se merece o raio do Prémio Nobel da Literatura e da Paz juntos, percebeu??!!"
"Irra, que você é positivamente intragável!", a leitora sorriu imperceptivelmente com aquele furto propositado à palavra do título do capítulo que era agora objecto desta pequena e acalorada discussão.
"E você é positivamente uma melga irritante, daquelas que dá vontade de esborrachar contra a parede e girar o sapato várias vezes em ambas as direcções para nos certificarmos que ela sofre no processo!"
"Não o sabia intragável e, ainda por cima, com tendêndias assassinas."
"A men ... senhorita não faz ideia das tendências com que eu estou agora e francamente aconselho-a a nem sequer tentar descobrir. Irra!"
Mas, em vez de irritada, ela parecia divertida e prosseguiu o seu interrogatório:
"Mas isto é uma coisa surrealista ou quê? Daquelas coisas intragáveis que uma pessoa precisa de ter 200 anos de estudos filosóficos e psico-não-sei-das-quantas mais as carregadas de escitores existencialistas e expressionistas e outros istas para tentar perceber sequer um parágrafo do que aqui está escrito?"
O Escritor apercebeu-se do seu tom de voz luminoso e irritantemente irónico e sorriu também, o "v" a aligeirar-se na testa. Esta menina, bem vistas as coisas, acabava por constituir um interlúdio nas suas divagações pela escrita, que lhe poderia ser mais útil do que pensara à partida.
"Nem queira saber o que a espera. Aguarde o próximo capítulo e os seus olhos vão-lhe sair das órbitas."
"Hmmpf!"
E com esta, ela calou-se de vez e voltou a pegar nos óculos para os encavalitar no nariz relutantemente, mas ao mesmo tempo com uma certa curiosidade mórbida, como todos os leitores que se prezem.

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