domingo, 20 de junho de 2010

MURMÚRIOS DE LISBOA XCIV

Celeste e o Banco de Jardim
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Celeste senta-se no banco todas as tardes. Nem sempre é o mesmo banco, mas sempre que pode e está vazio, é aquele que ela escolhe porque está num cantinho do jardim, ligeiramente afastado do bulício da zona central por onde toda a gente decide cortar caminho.
Ali há sempre sombra ou sol, consoante o que se preferir, e é possível ver sem ser visto.
Celeste arruma o casaco de malha nas costas e estende as pernas escuras para as expôr a uma nesga de sol que espreita por entre os ramos das árvores. Os chinelos estão gastos, repara. Mas vamos já a meio do mês e ela não pode comprar outros ainda. Puxa a bata mais para baixo, para tapar o fim de uma nódoa negra que teima em aparecer um pouco acima do joelho.
Celeste senta-se no banco todas as tardes, para ter um pouco de paz. Fica uns quinze minutos. Não mais que isso, porque não pode. São os quinze minutos mais preciosos dos seus dias, das suas noites, da sua vida. Ali no banco, ela esquece as nódoas negras por uns instantes. Esquece os gritos, as bebedeiras, a força da mão dele no seu rosto, nas suas costas, nas suas coxas, onde calhar.
Celeste senta-se no banco todas as tardes e ali, rodeada de pétalas de lilazes esguias caídas no chão e banhada pela luz dourada do sol, ela ainda consegue acreditar que a vida pode ser uma coisa boa.

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