quarta-feira, 21 de julho de 2010

Where The Streets Have No Name

Bor I

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Macro Palma da Mão
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Olhou para a tabuleta que designava o código da rua e logo a seguir para o céu. Nesse instante, ocorreram-lhe dois pensamentos:
1º Esquecia-se sempre que agora as ruas não tinham nomes. E que isso era estranho porque ele sempre vivera naquele mundo em que as ruas não tinham nomes. Lembrava-se de ler nos escritos do seu avô que no tempo do avô dele só havia uma cidade em que as ruas eram numeradas - no Continente Americano, no então país Estados Unidos da América, na cidade de Nova Iorque. Lembrava-se de ter achado isso muito engraçado, quase cómico, as ruas terem nomes, como as pessoas. Apesar de que agora as pessoas também não tinham nomes, pelo menos oficialmente, mas entre elas continuavam a tratar-se por nomes próprios.
Para as Mães, não havia Luises, Bertas, Gregs ou Lindas. Só havia códigos. Nem sequer eram números, mas códigos.
2º Que o céu parecia cada vez mais estranho a cada dia que passava. Estava cada vez menos cinzento e cada vez mais com cor de caca castanho-amarelada. O efeito de estufa.
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Cofiou a barba com o indicador e o polegar e depois ajeitou pela milionésima vez naquele dia os óculos no nariz. Continuou a caminhar lentamente pelo túnel envidraçado. Dispensava a passadeira rolante, onde os poucos transeuntes se passeavam àquela hora da madrugada. Uma Mãe-Observadora estacou no ar, zumbindo mesmo à sua frente. A voz feminina que emitiu, era dócil e agradável:
"Código, por favor."
Uma série de ruídos electrónicos acompanharam as suas palavras - blink, bzzz, crip, pritl.
Estendeu o braço e apoiou a mão na pequena plataforma que ela vomitara para fora. Várias luzinhas de múltiplas cores piscaram à volta da mão e depois ouviu-se de novo a voz dócil e agradável:
"Destino?"
"08210040", era o código do seu apartamento.
"Continue, por favor.", blink, bzzz, crip, pritl.
Passou por cima dele a zumbir suavemente. Quando a viu desaparecer na curva do túnel, desviou a vista de novo para cima. Cor de caca castanho-amarelada. Definitivamente. Foi a pensar nisto até casa, sempre no mesmo passo lento e pensativo. Quando chegou, dirigiu-se de imediato à varanda e recebeu a brisa suave e quente nas faces. Nem se lembrou de pôr protector solar. Queria apenas sentir aquilo na pele, sem cremes. Depois voltou para dentro. Sentou-se na única cadeira de metal. Era a que estava sempre junto do computador. Não lhe apetecia fazer comida, mas estava esfomeado. Olhou com cobiça para um pacote de bolachas de milho que se encontrava em cima de uma mesa. Mas não podia. Aquilo pertencia ao raio do stock e já por duas vezes naquele mês tinha roubado (roubado! não sabia o que se passava consigo!) um pacote de batatas congeladas e um frasco de mel e tivera que aldrabar o inventário. Se queria comer, tinha mesmo de levantar-se e ir fritar o ovo da ração da semana no raio da frigideira. E já não tinha leite em pó, o que significava que teria de estrelá-lo, em vez de o mexer, porque se o fizesse mexido sem leite, aquilo saía uma gosma intragável. Só que já sabia o que ia acontecer se o estrelasse - pegava-se todo ao raio da frigideira. Decidiu ficar mais um pouco sentado à frente do PacMaster, a ver se lhe passava a fome.

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