sexta-feira, 6 de julho de 2007

MURMÚRIOS DE LISBOA XL

Pessoas
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Caminho de pedra - Jardim Parque das Nações
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O António tinha por hábito (não sei se ainda tem) ir para os terminais de autocarros observar as pessoas.
Marlon costumava percorrer a sua cidade de metro para observar as pessoas.
Ernest vivia com e como as suas pessoas para as conhecer bem e dizia: "Façam pessoas. Não façam personagens. As personagens são caricaturas.”
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Quando escrevi o primeiro texto inspirado num homem que ia sentado ao meu lado no autocarro, não me lembrei sequer disto. Nem me lembrei de que já por diversas vezes tinha lido e pensado que devia fazer observação de pessoas reais.
Porque eu gostava mais dos meus personagens. Eu estava mergulhada dentro de mim mesma, a criar os meus personagens belos e fascinantes, totalmente inventados por mim, perfeitos nas suas mais detalhadas imperfeições. Porque eram as minhas imperfeições.
Eu era uma deusa sentada no Olimpo do meu próprio umbigo, libertando elixires inebriantes cujas origens, vontades, sonhos e desejos fascinantes só eu própria poderia realmente compreender.
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Um dia saí de mim. Para descrever um homem sentado ao meu lado que se tornaria no meu primeiro anjo - chamei-lhe As Asas da Saudade.
Depois deste anjo, outros começaram a aparecer. Já lá estavam, mas eu nunca os tinha visto, porque estava cega com os vapores que emanavam do meu egocentrismo narcísico imberbe.
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Passados uns tempos lembrei-me do António, do Marlon e do Ernest.
Mas não era preciso. Já estava viciada. Viciada em pessoas, com todas as suas idiossincracias deliciosas, todas as suas diferenças estonteantes, todas as suas fealdades desconcertantes e as suas belezas estarrecedoras.
São tão mais interessantes do que todos os personagens que criei desde criança.
Escrevo desde os 8. Mas só pelos 30 aprendi realmente o que é escrever. Possivelmente demorarei mais uns 20 anos para o fazer apenas suficientemente bem.
É a viagem que menos me assusta :)
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Os Murmúrios de Lisboa despedem-se mais uma vez por uns tempos.
Mas voltarão em breve. Há demasiado material angélico por aí para ser desperdiçado ... :)
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To be continued ...

2 comentários:

Dry-Martini disse...

Talvez tenha sido essa a razão de gostar tanto destes posts logo que os descobri.
A sua capacidade observadora, duma leveza minuciosa ou cirurgia dissecante, quase criminosa, não falam apenas de pessoas reais, mesmo que em formas de anjos. Falam muito de si. Muito.

Voltem breve .)

PS: Já esscreve muito bem, pode arranjar outra meta

Andrómeda disse...

Obrigada, senhor mágico das palavras :)