quinta-feira, 5 de julho de 2007

OS LIVROS DE ANDRÓMEDA - PARTE I


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Ficções
Jorge Luis Borges
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"A Biblioteca de Babel
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By this art you may contemplate the variation of the 23 letters...
The Anatomy of Melancholy, part. 2,
sect. II, mem. IV
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O universo (a que outros chamam a Biblioteca) compõem-se de um número indefinido, e talvez infinito, de galerias hexagonais, com vastos poços de ventilação no meio, cercados por parapeitos baixíssimos. De qualquer hexágono vêem-se os pisos inferiores e superiores: interminavelmente. A distribuição das galerias é invariável. Vinte estantes, a cinco longas estantes por lado, cobrem todos os lados menos dois; a sua altura, que é a dos pisos, mal excede a de um bibliotecário normal. Uma das faces livre dá para um estreito saguão, que vai desembocar noutra galeria, idêntica à primeira e a todas. À esquerda e à direita do saguão há dois gabinetes minúsculos. Um permite dormir de pé; o outro, satisfazer as necessidades finais. Por aí passa a escada em espiral, que se afunda e se eleva a perder de vista. No saguão há um espelho, que fielmente duplica as aparências. Os homens costumam inferir desse espelho que a Biblioteca não é infinita (se o fosse realmente, para que serviria esta duplicação ilusória?); eu prefiro sonhar que as superfícies polidas representam e prometem o infinito... A luz provém de umas frutas esféricas que têm o nome de lâmpadas. Há duas em cada hexágono: transversais. A luz que emitem é insuficiente, incessante.
Tal como todos os homens da Biblioteca, viajei na minha juventude; peregrinei em busca de um livro, se calhar do catálogo dos catálogos; agora que os meus olhos quase não conseguem decifrar o que escrevo, preparo-me para morrer a poucas léguas do hexágono em que nasci. Morto, não faltarão mãos piedosas que me atirem pela balaustrada; a minha sepultura será o ar insondável; o meu corpo precipitar-se-á longamente até se corromper e dissolver no vento gerado pela queda, que é infinita. Eu afirmo que a Biblioteca é interminável. Os idealistas argumentam que as salas hexagonais são uma forma necessária do espaço absoluto, ou pelo menos da nossa intuição do espaço. Consideram que é inconcebível uma sala triangular ou pentagonal. (Os místicos pretendem que o êxtase lhes revela uma câmara circular com um grande livro circular de lombada contínua, que dá toda a volta das paredes; mas o seu testemunho é suspeito; as suas palavras, obscuras. Esse livro cíclico é Deus.) Basta-me por agora repetir a clássica sentença: A Biblioteca é uma esfera cujo centro cabal é qualquer hexágono, e cuja circunferência é inacessível."
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São vários contos, todos estranhos, todos ilusórios, todos provenientes da mente brilhante e inovadora de Jorge Luis Borges, o argentino que marcou a literatura do século XX e influenciou um sem número de outros autores.
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Para sererm lidos e relidos e tornados a reler até à exaustão, como esta biblioteca-universo cujo excerto aqui se cita. Arriscaria dizer que as catedrais de palavras de Borges podem ser análogas ao que Escher fez na pintura. E deixo esta imagem no ar.
ewewe
Pérolas de imaginação sem igual.
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1899 -1986

1 comentário:

Dry-Martini disse...

Simplesmente perfeito.
Nada mais. Tudo o resto seria supérfluo.
Parabéns pela escolha.