terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

PSICANÁLISE IX

Encruzilhadas
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Charlie,
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Não sei se já te aconteceu (não me lembro de todos os episódios da tua vida que vi na TV).
Mas há momentos, e eu já tive alguns, em que sabemos que vamos (ou não) tomar uma decisão que afectará toda a nossa vida. Literalmente daqueles momentos em que existe uma estrada para a direita e outra para a esquerda e conseguimos visualizá-las. Apenas não sabemos por onde nos levarão, temos uma ideia mas não temos certezas.
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Esses momentos são ao mesmo tempo terríveis e entusiasmantes. Sentimo-los, como se estivéssemos a assistir a um filme da nossa própria vida. Ou então, não nos damos conta deles e só mais tarde nos apercebemos que ali, naquele preciso momento, tomámos uma decisão que mudou o nosso rumo para sempre. Mas normalmente reconhecemo-los.
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E então temos duas opções - ou seguimos a razão ou o coração. Mesmo quando decidimos sem pensar em qual delas estamos a confiar, mais tarde acabamos por perceber qual desses dois órgãos escolhemos ouvir.
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São esses momentos que me fazem duvidar da dúvida sistemática que mantenho há anos sobre a existência de um destino, de um plano para cada um de nós. Ou então, Charlie, então é apenas a necessidade intrinsecamente humana de encontrar padrões reconhecíveis em tudo o que percepciona, que leva a que procuremos significados cósmicos e misteriosos em algo que não passa da manifestação aleatória de acasos desprovidos de qualquer sentido.
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Não sei, Charlie ...
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O que sei é que quando ignoramos as decisões que essas encruzilhadas nos pedem, sentimos (eu já senti) a vida a fugir-nos debaixo dos pés e uma imensa tristeza que nenhuma decisão posterior poderá jamais substituir ou eliminar. Deixámos passar uma encruzilhada plena de promessas. Deixámos que uma possibilidade nossa morresse para sempre.
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Desta vez, Charlie, não deixei fugir a encruzilhada. Tomei a decisão. E ouvi o coração. Andei à nora uns tempos, mas depois de a tomar senti-me bem. Com medo, confusa, num turbilhão de dúvidas ... mas dona do meu destino. Ou pelo menos no poucochinho em que me é permitido intervir.
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Ou talvez seja apenas eu a tentar encontrar "rostos" nas nuvens que passam lá em cima no céu ...
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Não sei, Charlie ...
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