DDT-Deambulações DeMentes Teóricas 2

Não existe tempo, aqui dentro. Nem espaço. Depois há só a sede e a fome. E a raiva.
Conheço todos os segredos do universo. Não há surpresas. Do infinitamente pequeno ao grandioso. Posso-vos dizer que Einstein e Böhr estão certos. Mais não digo, porque não gosto de ser desmancha-prazeres.
Mas, digam-me, que vos interessa isso, meus pequenos ignorantes? Que vos interessa a física quântica e a teoria da relatividade? Se nem as vossas vidinhas miseráveis conseguem entender?
Quanto a mim, estudo-vos para passar o que chamam de tempo. Cada dia é igual ao outro, nesta eternidade em que vivo. Deleito-me com os vossos esquemas mentais patéticos. A vossa lógica é desconcertante, para não dizer uma confusão absurda. Apenas os vossos génios se safam. Mas, pobres coitados, são sempre tremendamente incompreendidos, até vexados. Não há, como referiu Kierkegaard, pior escumalha do que a multidão. Ele não o disse deste modo, claro, mas pensou-o assim mesmo. Depois embelezou com outras palavras.
Sou um excêntrico. Como vivo de noite e durmo de dia, muitos por aqui pensam que sou um criminoso perigoso. Alguns sussurram outros adjectivos - louco, lobisomem, assassino, vampiro ... Estes últimos estão muito próximo da verdade, mas não como pensam.
Lestat e Drácula são uma anedota, obviamente. Ocasionalmente bebo sangue, é verdade. Gosto de um bom cálice desse elixir encorpado, coalhado no ponto, levemente morno, acabado de verter de um corpo moribundo. Mas não é esse o meu alimento. Trata-se apenas de um aperitivo, como as lágrimas, o suor e os fluídos genitais. Doces que antecedem ou finalizam o prato principal.
Quanto à verdadeira iguaria, é demasiado complexa para entenderem. Vocês, meus pequenos, chamam-lhe alma. Eu chamo-lhe outra coisa.