sexta-feira, 26 de outubro de 2007

DDT - Deambulações DeMentes Teóricas 5

É triste ter quase tudo e não ter ninguém.
É triste saber muita coisa e não poder partilhá-lo com ninguém.
É triste não ter uma testemunha da nossa vida.
É triste não ter ninguém a quem ler um parágrafo dum livro que gostamos muito.
É triste não ter ninguém a quem oferecer uma música que nos faz vibrar.
É triste não ter alguém que nos abrace com força só porque isso o faz sentir bem.
É triste escrever para as paredes.
É triste falar para o vazio.
É triste que as nossas palavras não tenham como destino a concha de alguém que as beba com sede.
É triste que o nosso olhar não possa descansar no porto seguro e acolhedor de outro olhar.
É triste não ter um corpo a que nos possamos ancorar.
É triste não ter um céu até onde os nossos pensamentos possam sempre viajar.
É triste vaguear sem norte, sem rumo, multiplicando mil gestos mecânicos e banais por cujos interstícios escondemos as saudades que temos de alguém que não existe, que não sabemos se existe, que não conhecemos e não sabemos se algum dia viremos a conhecer.
É triste esperar sem saber que esperamos.
É triste continuar sem saber para onde continuamos.
É triste sentir uma dor no peito permanente, sem que haja ninguém que a tenha causado.

1 comentário:

Dry-Martini disse...

Triste é nada sentir...

"E esse é o maior dos sofrimentos: não ter por quem sentir saudades, passar pela vida e não viver. O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido".

Pablo Neruda