É triste quando não conseguimos comunicar com alguém com quem desejamos talvez comunicar.
É triste quando mesmo quando conseguimos falar com esse alguém, o alguém não nos entende, não está sintonizado connosco, passa-lhe tudo ao lado, interpreta mal tudo o que dizemos, tira conclusões precipitadas e erradas e assume uma série de coisas sobre nós sem nos conhecer, sem esperar para nos conhecer, sem querer perder tempo a conhecer-nos.
É triste, muito triste quando esse alguém nos dói na alma de formas que julgáramos inconcebíveis, inimagináveis, imponderáveis, mas é muito, muito mais triste ainda quando esse alguém não faz a mais pequena ideia do que nos fez doer na alma, quando não imagina sequer o icebergue de lágrimas e dor que está por trás duma pontinha à superfície onde persiste em escorregar constantemente, patinando para fora dela por descuido, por inacção ou simplesmente por desprezo.
É uma imensidão de tristeza quando alguém nos pede que confiemos em si mas ao mesmo tempo tem medo de confiar em nós a tal ponto que nos esconde obstáculos à comunicação perfeitamente lógicos e que tornariam essa não comunicação suportável e aceitável se os conhecessemos.
É profundamente triste quando tentamos comunicar tudo isto a esse alguém e a resposta que nos chega do outro lado é desprovida de qualquer interesse, sem vida, amorfa, pálida e superficial.
É como se tivéssemos colocado a nossa alma nas mãos desse alguém, convencidos de que iria pegar nela com cuidado – não é preciso um cuidado especial, mas algum cuidado mínimo – e, em vez disso, esse alguém descuidadamente, sem premeditação, porque não compreende sequer o que tem nas mãos, a amarrota como se estivesse a amassar um bocado de papel.
É triste quando a alma fica rasgada assim desta forma, por alguém a quem a quisemos oferecer, sobretudo quando não a oferecemos assim quase nunca, quase a ninguém.
É tão, tão triste ...
1 comentário:
Tem a certeza que não quer o tal telefonema? Não gosto de a ver assim .)
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