quarta-feira, 3 de outubro de 2007

MURMÚRIOS DE LISBOA XLV

E pronto, cá estou eu de novo, brise contínuo :) após alguns pedidos insistentes de umas poucas mentes perturbadas ;)

Este blog volta a estar activo, não tão activo como dantes, mas tentar-se-á alguma assiduidade.
Aqui vamos nós ...
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Estepes Nos Teus Olhos - Parte III
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Jardim Zoológico de Lisboa
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Vladimir aparece sempre do nada, tal e qual um felino silencioso e matreiro. Desta vez apanhou-me completamente de surpresa porque descobri-o ao meu lado, de pé, num autocarro a abarrotar de almas. A maré de pessoas embalou-me até ficar de costas para ele, a roçar-lhe o blusão de ganga que trazia vestido nesse dia, precisamente há 2 dias atrás, ou seja, quando regressei à labuta diária.
Dei por mim a deixar propositadamente que as minhas costas tocassem as suas costas. Queria tocar-lhe. Que ninguém me pergunte porquê. Mas sei o que queria. Queria sentir a força de Vladimir.
Depois deixei-o e fui sentar-me no último lugar, quando a maré de gente recuou e desaguou lá para fora, deixando o autocarro a respirar desafogadamente.
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Havia dois miúdos ciganos, um casal de namorados muito novos e muito frescos, com a música do telemóvel a gritar alto e bom som. Eram incomodativos, mas ninguém lhes fez qualquer reparo, certamente com medo de represálias (atrás de 2 ciganos, pode sempre vir uma junta de 10 ou 20, mais tarde, qualquer dia, quem sabe ...)
Sentaram-se lá atrás, na minha fila de cadeiras. Tentei desligar do ruído, mas era de manhã ... e o telemóvel continuava a berrar músicas ciganas techno ... (imaginem a combinação ...) ou martelinhos ...
Vladimir viera parar próximo de mim, ainda de pé. O blusão de ganga combinava muito mal com as calças de fazenda cinzentas, mas os sapatos pretos continuavam como de costume, absolutamente impecáveis e brilhantes. Olhei as suas estepes e percebi que Vladimir não estava muito contente com a música ... Não estava mesmo nada contente ... Mas nem um músculo no seu rosto se moveu. Apenas as suas estepes estavam mais escondidas ainda do que era costume, por trás das pálpebras semicerradas.
Os seus movimentos continuavam lentos e delicados como os de um tigre pisando o terreno em perseguição da sua caça, quando se sentou suavemente de frente para o casal de miúdos e o seu telemóvel.
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E depois aconteceu algo que me fará sorrir até daqui a muitos anos. Estava entretida a observar a paisagem lá fora, quando subitamente a música se calou de vez. Instintivamente olhei para Vladimir e soltei um assobio interior prolongado. O que se passara, percebi, fora das demonstrações de poder mais primitivas e surpreendentes que alguma vez presenciei: os olhos do príncipe das estepes tinham-se semicerrado até ao limite dos limites e estavam escuros e opacos como nunca os vira antes. E fixos no rapaz cigano, que continuava a tagarelar com a namorada. Mas a música cessara e não mais se ouviu até os dois saírem algumas paragens antes da nossa.
Sem ter movido um único músculo do seu rosto ou do seu corpo, sem ter proferido um único som, Vladimir havia reduzido o miúdo a uma amostra de gente, despindo-o da carapaça e das defesas apenas com a intensidade das suas deslumbrantes estepes.
Depois, assim que o casal saiu, elas voltaram a abrir-se e a relaxar, como por magia.
jlkjkljkl
Dentro de mim proferi várias vezes "caraças!" e "chiça!", querendo sorrir e sem o poder fazer. E foi então que percebi que estou completamente apaixonada por este homem.
Não tentarei sequer explicar o que isto significa. Não gostava de ter nenhum caso com Vladimir :) Não sonho com ele à noite. Nem desejo que ele me ofereça flores. Mas estou apaixonada por ele.
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Nesse mesmo dia encontrei-o de novo no autocarro, de regresso a casa. Estava perdida na paisagem quando voltei o olhar de repente para ele e o apanhei a observar-me subrepticiamente. O príncipe desviou os olhos tão rapidamente quanto pôde :) E lembrei-me da primeira vez que ele me deixou observá-lo. E sorri interiormente. Tenho a honra de poder observar as suas estepes relaxadas, sempre que quiser. O príncipe permite-me esse privilégio.
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Nessa noite a última coisa que vi antes de adormecer foram as deslumbrantes estepes de Vladimir nos meus olhos.

5 comentários:

pnunes disse...

Welcome home!

Já tinha saudades de ler os teus ensaios :)

Andrómeda disse...

Obrigada :) Mesmo...

pnunes disse...

Ler o que escreves são como pequenas bolhinhas de oxigénio que vão entrando no meu cérebro :)

Andrómeda disse...

Esse foi o elogio mais bonito que eu já recebi :) E temos poeta!

pnunes disse...

Eu acho que foi o elogio mais piroso que fiz :p tenho pena que tenhamos perdido o contacto..paciência...vou lendo os teus ensaios :)