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Conheço um Merlim e conheço uma Feiticeira.
O Merlim que eu conheço não tem barbas, é jovem, alto e magro e tem uns olhos azuis que dançam entre a loucura sadia e a curiosidade teimosa. Este Merlim anda perdido num país que ele pensava já conhecer tão bem como a palma da sua mão, mas que afinal se revelou uma terra de incógnitas, onde existem inquilinos inquietos, sedentos de paixão e emoção, que o atormentam de tempos a tempos.
A Feiticeira que eu conheço é delgada e frágil como um cipreste dançando em noites de luar e tem uns olhos castanhos suspensos entre a melancolia e o medo. Esta feiticeira anda perdida dentro de si mesma num país que ela pensava conhecer como a palma da sua mão, mas que se revelou um deserto infinito sem horizonte.
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Enquanto Merlim andava perdido à procura de algo que ele ainda não descobriu o que é, encontrou a Feiticeira que anda em busca de si própria e ainda não se encontrou.
Suspeito que Merlim consegue avistar um pouco melhor que a Feiticeira o seu horizonte e que a Feiticeira consegue reconhecer um pouco melhor que Merlim os seus inquilinos e as suas vontades secretas.
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Numa noite mágica de Lisboa, Merlim e a Feiticeira coincidiram no mesmo troço das suas viagens infinitas e o tempo parou para os ouvir.
O céu azul noite aveludou-se em seu redor, as luzes dos homens e do espaço cintilaram a uma só voz, todos os sons se concentraram num murmúrio doce e espesso e pareceu que toda a cidade ficara suspensa bebendo calma e atentamente o cálice das suas palavras.
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O que disseram não posso contar. Quando um mago e uma feiticeira se encontram são congeminadas fórmulas secretas, ancestrais e misteriosas, que nas mãos erradas podem tornar-se perigosas. Por isso deixaremos a química desse diálogo no segredo dos deuses e das estrelas.
Mas do seu encontro nasceu uma nova fórmula, feita das portas e caminhos escondidos por onde ambos têm passado. Uma fórmula cujos ingredientes foram cozinhados durante algum tempo em lume brando. Esta fórmula é talvez apenas um princípio, uma chave. Um novo caminho por onde ambos podem viajar juntos sempre que lhes apetecer, uma chave que poderá abrir portas por onde nenhum dos dois conseguiu passar sozinho.
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Sei apenas isto – que essa noite mágica foi engarrafada por ambos num pequeno frasco de vidro. Merlim guarda-o na sua colecção de momentos. A Feiticeira no seu colar de memórias.
2 comentários:
"A vida não é a que cada um viveu, mas a que recorda
e como a recorda para contá-la".
Gabriel García Márquez
Adorei esta sua memória dum momento especial. Vá aquecendo o caldeirão .)
Ainda bem que gostou :)
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