sábado, 15 de dezembro de 2007

DDT - Deambulações DeMentes Teóricas 7

Flutuar
gkjflgk
Queria encontrar a Palavra que o definisse, e à sua vida e a tudo o que o rodeava. Uma única palavra, a derradeira. Queria escrever um romance apenas com uma Palavra. A Palavra. A utupia das utupias.
lgºfçlg
Mas havia a sua leitora que metia o bedelho em tudo o que fazia, interrompendo-o constantemente com dúvidas existencialistas sobre o rumo que os acontecimentos tomavam e sobre a lógica ou incoerência das suas decisões narrativas. “Mas porquê?” e “Tenho uma dúvida.” Oh senhora! estava farto dos seus porquês! Havia 2 tipos de leitores – os que se deixavam levar pela mão e os que viviam na eterna idade dos porquês, analisando à lupa cada pormenor. Em ambos os casos, não passavam de crianças. Para ler com prazer, é preciso ser-se criança. Mas enquanto os primeiros eram crianças doces e confiáveis, os segundos eram crianças embirrentas e inseguras. “Mas porquê? porquê? porquê? porquê???!!!” Talvez a Palavra que a definisse fosse “Porquê”.
lgºfçlg
Mas não encontrava a sua. Estava na segunda metade da sua vida e não conseguia encontrar a sua. E o inconsciente não parava de lhe azucrinar a paciência com os seus insights profundos certeiros e sádicos. Armado em chico esperto. “Eu sei por que escreveste isso dessa forma.” e “Só tu é que não vês o que andas a fazer.”
Deixem-me trabalhar!!! Em tempos um líder odiado havia proferido aquelas 2 palavras que ficaram inscritas no imaginário colectivo de anedotas recorrentes. Como o entendia ... Deixassem-no trabalhar, irra!!!
lgºfçlg
Depois havia também o personagem que queria entrar à viva força na história, já! para ontem! “Não, ainda não estás preparado”, repetira-lhe vezes e vezes sem conta. Mas a pobre criatura queria escapulir-se por entre os seus dedos e desenhar-se furiosamente nas linhas da ponta do seu lápis, para ficar ali espalmado eternamente. “Não tenhas medo, não te vou deixar morrer.”, mas o pobre tinha medo de passar por este mundo apenas como uma névoa de pensamento.
lgºfçlg
E ela, a a bailarina do 2º andar, cujos passos leves seguia avidamente com um ouvido atento. A bailarina que flutuava no tecto por cima da sua vida, que flutuava no seu olhar, quando se cruzava com ela no vestíbulo, que flutuava no seu pensamento constantemente. Queria escrevê-la, mas não sabia como. Sempre que segurava o lápis entre os dedos e se decidia a escrever uma palavra que fosse, qualquer palavra sobre ela, os dedos pairavam congelados a escassos milímetros da derradeira folha branca e não saía nada. Absolutamente nada.
“Queres aprender a dançar?”, martelava-lhe o inconsciente dentro da cabeça, enquanto o personagem berrava “Nããããããooooo!!! Escreve-me a mim, não a escrevas a ela!!!” e a leitora lhe perguntava pela enésima vez “Mas, tenho uma dúvida. Tem medo de quê?”
lgºfçlg
Um dia decidiu-se. Estava farto. Chega! Entrou para dentro do dicionário, percorreu devagar páginas e páginas de palavras, encontrou a que queria e fechou-se lá dentro para sempre. Escolheu a Biblioteca Pública. Ela ia lá muitas vezes. Talvez um dia os seus dedos esguios de bailarina deslizassem até à letra F e o encontrassem. Escolhera a Palavra “Flutuar”. Talvez um dia ela o encontrasse e descobrisse o significado de si própria.
çlgfºçlgº
Flutuar - verbo intransitivo, 1. sustentar-se à superfície de um líquido; boiar; 2. manter-se no ar; pairar; 3. tremular ao vento; ondular; 4. estar indeciso; vacilar; 5. agitar-se; revolver-se.
jgfkljg
inspirado por um personagem que não ata nem desata

1 comentário:

Fresquinha disse...

Conhecem A Mulher do Próximo ? Logo vi que não.... Vão a www.afresquinha.blogspot.com