quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

EM MINHA CASA, NA PONTA DOS PÉS 12 (cont.)

Capítulo 4. WHOOTH?
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À medida que lia, o seu nervosismo aumentava e tomava proporções brutais porque não podia ser libertado. Começou a ficar com falta de ar porque se esquecera de respirar nos parágrafos.
Johann percebeu o que lhe ia na alma pelo tom de voz e foi ficando cada vez mais divertido, tanto que não conseguiu conter mais o riso. Os seus ombros começaram a abanar, primeiro devagarinho, depois mais depressa, sem se conseguir controlar e começou a inclinar-se no vazio do desequilíbrio da cegueira em direcção à janela, até tocar com a cabeça no vidro.
Emily, que estava completamente absorta na tentativa de decifrar o sacana do Joyce, só reparou quando ouviu o som da cabeça de John a tocar no vidro e a bola de pêlo a esquivar-se do seu colo para o chão.
Imediatamente julgou que algo de errado se estava a passar e entrou em pânico. Estaria a ter um ataque de qualquer espécie? Teria desmaiado? Por momentos teve sérias dúvidas sobre se ele teria adormecido com a sua leitura desastrosa e perdeu o controlo.
Levantou-se com brusquidão e a cadeira balançou periclitantemente nas pernas traseiras, quase tombando de lado. Apertou o livro nas mãos. A bola de pêlo retrocedeu uns passos e depois correu para ela, as suas patas arrastando rapidamente pelo chão. Emily nem reparou.
Que estúpida! Claro que ele não tinha adormecido. Se tivesse adormecido teria caído para trás ou para o lado, pensou, sem se deter para racionalizar a falta de lógica da sua conclusão. E se a Nº 5 entrasse naquele preciso momento? Provavelmente pensaria que ela lhe tinha feito alguma coisa. Começou a ficar assustada. Poderia ter alguma espécie de ataques epilépticos? Mas se assim fosse, deveriam ter-lhe dito alguma coisa, caramba!
Não sabia o que fazer.
A bola de pêlo saltitou nas patas traseiras e apoiou-se nas suas pernas. Ficou ali especada a olhar para o cão e finalmente decidiu aproximar-se. Lentamente, rodeou a mesa e contornou a cadeira. A bola de pêlo seguiu-a, farejando-lhe os tornozelos.
Lá fora a escuridão já inundava a rua. Não tinha pensado que sairia sempre àquela hora e que a rua era praticamente deserta. Era um pouco perigoso, mas agora não havia nada a fazer. A não ser que ele lhe disponibilizasse o motorista.
Emily, pára com essas piadas idiotas! O assunto é sério. Fixou-o. Ele mexia-se levemente. Os ombros tremiam e um som saía-lhe da boca. Devia ser um ataque de qualquer espécie, caramba ….
Entretanto a bola de pêlo soltou um latido, o que a assustou. E agora o que é que eu faço? Chamo a Nº 5 ou dou meia volta e, enquanto fujo, chamo a Nº 5?
Mas enquanto estava entretida nestas cogitações, foi surpreendida por uma estrondosa gargalhada. John levantara a cabeça e foi então que ela percebeu o que se passava.
Afastou-se e deixou cair o livro. A bola de pêlo assustou-se, rodopiou uns instantes sobre si próprio e depois parou e fixou-a como se estivesse magoado com a sua reacção.
Se não fosse o objecto da anedota, teria rido com ele, porque as suas gargalhadas, ao contrário da sua restante postura, eram contagiantes. Percebeu tudo. Percebeu o esquema. Fixou-o, mas lembrou-se, com raiva, que ele não podia ver o seu olhar fulminante.
John conseguiu dizer por entre as gargalhadas:
"Deixou cair o livro …"
A última gota de água foram as lágrimas que ele começou a limpar dos olhos.
"Você não passa de um aleijadinho mimado.", sussurrou.
E saiu porta fora, sem se deter para pensar no que estava a fazer. Atravessou o hall de entrada e abandonou a casa.
Clara afastou os cortinados suavemente com as costas da mão e ficou a observá-la caminhar pela rua fora com passo determinado. Mas não sorriu.
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"Besta quadrada! BESTA QUADRADA!"
B … E … S … T … A …Prosseguiu determinadamente pela rua fora, repetindo o insulto como se se tratasse de uma oração secreta para esconjurar uma maldição. Quando chegou ao metro procurou automaticamente a carteira para tirar o bilhete, mas ficou paralisada de frustração e mais raiva. Esquecera-se da mala. Caramba!! Esquecera-se da porcaria da mala. Como é que se podia ter esquecido da porcaria da mala? Olhou à sua volta. A estação estava vazia e silenciosa, à excepção do som distante de uma carruagem que se afastava num dos inúmeros túneis subterrâneos. Depois caiu em si. Como é que fora capaz de sair assim, daquela maneira? Deviam ter pensado que ela não jogava com todos os parafusos. E que raio lhe dera para ter saído assim daquela maneira?

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