domingo, 16 de dezembro de 2007

EM MINHA CASA, NA PONTA DOS PÉS 14 (cont.)

Capítulo 4 - Wooth?
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Ouviu-a afastar-se na direcção da porta, enquanto se desmanchava outra vez em gargalhadas ao recordar a mesma partida pregada a Clara há uns bons dez anos atrás, quando a tinha forçado sem aviso a ler aquele que era provavelmente o livro mais intragável da história da literatura, diante de um grupo de convidados numa festa de aniversário.
"Clara!", o seu tom imperativo fê-la estacar a milímetros da porta.
"Não te esqueças de lhe dar o recado. E leva as coisas dela. Não a quero ver mais hoje."
Ouviu-a regressar.
"Nem hoje, nem nunca.", murmurou.
Clara pegou nas coisas da rapariga e saiu, carregando-as à distância de meio braço, como se estivessem infestadas de pulgas.
Deixou-o só e atarantado. Pensou se aquele último comentário teria sido propositado. Clara era a mulher mais dura que conhecera em toda a sua vida, mas aquele comentário fora feito com o intuito de magoar até à medula, e ele não lhe conhecera nunca crueldade, muito menos depois do acidente.
Ciúmes? Talvez … Isso significava que ela devia ser bonita, pelo menos.
Regulou a luz para o mínimo com o comando e ficou sentado no escuro até ouvir baterem à porta.
Clara nem lhe deu tempo para falar.
Ouviu a sua voz doce.
"Até amanhã, então."
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"Shall I compare thee to a summer's day?
(Poderei comparar-te a um dia de verão?)
Thou art more lovely and more temperate.
(És mais bela e mais amena)
Rough winds do shake the darling buds of May,
(Ventos fortes fazem oscilar os doces botões de Maio)
And summer's lease hath all too short a date:
(E o verão dura tão pouco)
Sometime too hot the eye of heaven shines,
(Por vezes, o olho do céu brilha com demasiada intensidade)
And often is his gold complexion dimm'd;
(E não raro se ofusca o seu semblante dourado)
And every fair from fair some time declines,
(E qualquer beleza da beleza acaba sempre por abdicar)
By chance, or nature's changing course, untrimm'd
;
(Por mero acaso, ou pelo destino inconstante)
But thy eternal summer shall not fade
(Mas o teu eterno verão jamais morrerá)
Nor lose possession of that fair thou ow'st;
(Nem perderás o encanto que possuis)
Nor shall Death brag thou wander'st in his shade,
(Nem a morte se há-de vangloriar de vagueares na sua sombra)
When in eternal lines to time thou grow'st:
(Quando em linhas eternas pelo tempo amadureceres)
So long as men can breathe or eyes can see,
(Enquanto o Homem viver e os olhos possam ver)
So long lives this, and this gives life to thee."
(Assim viverá isto e isto te dará vida a ti) (21)
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Virou-se na direcção da janela e ficou ali a tentar imaginar se a doçura da sua voz se estendia ao seu físico.
Wolf veio lamber-lhe a mão, como se pressentisse as preocupações do dono.
"Wolfy … Eu sei que tu gostaste dela. Mas ela vai voltar, não te preocupes."
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(21) Soneto nº 18 - William Shakespeare

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