quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

MURMÚRIOS DE LISBOA LI

Estepes nos Teus Olhos - Parte V
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Árvores despidas - Jardim Gulbenkian
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Não vejo Vladimir há mais de 3 semanas. O que significa que das duas uma -ou a minha teoria estava certa e Vladimir acabou mesmo por morrer envenenado, ou foi passar o Natal a casa e, neste caso, estará neste momento a contemplar, agora sim, as suas amadas estepes gélidas, em vez de ser ele a derramá-las sobre outros felizardos.
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Presumo que Vladimir aproveite estas visitas para reabastecer o olhar das suas estepes. Consigo imaginá-lo no meio da tundra gelada e branca de neve, uma figura embrulhada em castanho escuro, com um gorro de pele de urso pardo enfiado na cabeça, protegendo-lhe os ouvidos das temperaturas negativas e o seu olhar magnífico, plenamente aberto, a contemplar as suas estepes que se estendem a perder de vista, sem horizonte, sem limites, sem ruído e sem vivalma que perturbe o seu recolhimento.
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Talvez seja por isso que Vladimir mantenha os seus olhos quase sempre semicerrados, para dosear bem o seu abastecimento de estepes, de modo que dure todo o tempo em que é forçado a manter-se afastado delas. E para não desperdiçá-lo em quem não merece.
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Ou talvez seja também porque Vladimir conhece bem o poder dessas estepes e o efeito que elas podem ter sobre um pobre incauto que seja surpreendido por elas sem a mínima preparação para o que o espera.
É que as deslumbrantes estepes geladas que Vladimir derrama sobre qualquer um que as contemple, detêm um poder de atracção irresistível, capaz de viciar irremediavelmente o seu alvo.
Eu sou a prova disso.

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