quarta-feira, 7 de novembro de 2012

PALAVRAS ESTÚPIDAS 162

Em Série - Parte I

Gosto do tema dos assassinos em série. Estou mesmo a pensar seriamente (quando voltar a ter dinheiro e quando tiver respirado o suficiente depois da tese do Mestrado de Linguística) estudar Criminologia só para os poder estudar ainda melhor.
Não me interessam os pequenos ou grandes delinquentes ditos "normais". Gosto dos criminosos mais violentos. Fascinam-me. Gosto dos extremos, talvez porque eu seja uma pessoa de extremos. Comigo não há meios termos. Ou amo ou odeio. Ou faço ou não faço. Ou estou ou não estou. Quando a vida me obriga ao meio-termo (já aconteceu tantas vezes), começo a morrer literalmente, interiormente. Degenero, mirro, apago-me, sofro horrores. Talvez por isso também fuja da maioria dos "jogos sociais" que fazem parte da vida diária da maioria das pessoas. Não gosto de falsidades, não gosto de metades, não gosto de quases, não gosto de nins, não gosto de pára-arranques, não gosto de merdices. Sou impaciente, reconheço. Intensa. Provavelmente porque tenho alma de artista. Gosto de criar coisas. E quando se criam coisas, não há meios-termos, evidentemente. Os artistas são ou não são. Ponto final. Não se cria por criar, cria-se por paixão. Não se cria porque sim, cria-se porque temos algo para dizer ao mundo e queremos que o mundo saiba o que temos para dizer. Não se cria por hobbie, cria-se por vocação, por missão, por impulsão e compulsão. Cria-se porque tem que se criar, porque de outra forma não estamos aqui, não somos nada, não realizamos o nosso potencial, não somos quem realmente somos. Penso assim.

Tenho algumas teorias sobre o funcionamento da mente de um assassino em série. Poderão estar completamente erradas, mas partilho-as aqui na mesma. São fruto das inúmeras leituras que faço sobre o assunto e das minhas reflexões frequentes. Não são fruto de consulta bibliográfica rigorosa, mas de intuição misturada com consultas de leiga. Também de alguma sensibilidade que julgo possuir para o tema, fruto de algumas circunstâncias que a vida me proporcionou.

Uma delas é a de que um assassino em série se considera a si próprio uma espécie de criador de morte, no sentido de que aquilo que ele faz é, para si, uma espécie de forma de "arte".
Explico: Um dos elementos fundamentais para percebermos um assassino em série é olhando para a questão desta forma muito simples - ele mata para viver. Reportando-nos à Pirâmide de Maslow que muitos de nós conhecemos das aulas de Psicologia do liceu, poderemos colocar o desejo de matar no primeiro degrau, juntamente com dormir, comer, beber ou fazer as necessidades básicas. Olhando para a questão desta forma, tudo se torna talvez mais claro. O assassino em série não controla este impulso ou, se controla, fá-lo de forma muitissimo contrariada e apenas quando se vê forçado a isso (para iludir uma investigação criminal, para conseguir apanhar a vítima que realmente pretende). O assassino em série funciona exactamente da mesma forma que um predador do reino animal: actua na generalidade de forma solitária, persegue as suas presas, é capaz de percorrer quilómetros para caçar e quando apanha a sua vítima desfaz-se dela sem dó nem piedade, apenas para satisfazer as suas necessidades. Por outro lado, este assassino ritualiza sempre o seu crime. Ao contrário de um predador animal, que mata apenas porque o seu instinto lhe pede alimento para continuar a sobreviver, o assassino em série é um ser humano racional. A rirualização do crime é uma das características fundamentais deste tipo de criminoso. E é aqui que entra a minha teoria da morte como uma "obra de arte". Esta ritualização desenvolve-se e progride. Se analisarmos os primeiros crimes de qualquer assassino em série comparativamente com os crimes praticados mais tarde na sua vida, vemos que existe sempre um apuramento, um aperfeiçoamento dessa ritualização, tal e qual como acontece se analisarmos a carreira de qualquer artista, por exemplo, um pintor. Todos os grandes pintores começaram por pintar tudo e mais alguma coisa e depois vão apurando a sua arte até chegarem àquilo que é o seu estilo próprio e aquilo que os diferencia de todos os outros ou que, em certos casos, cria mesmo um novo estilo seguido por outros. Cada crime praticado por um assassino em série é um "quadro" que ele "pinta" na direcção da perfeição. Por exemplo, das 5 vítimas de Jack the Ripper, apenas a 5ª foi morta dentro de casa. Nesse caso, Jack teve todo o tempo do mundo para fazer o que queria e a disposição dos diversos órgãos da prostituta que ele matou pelo quarto onde a matou, mostra como ele fez o que provavelmente pretendia ter feito nos outros 4 crimes mas não pôde por falta de tempo e sossego para o fazer.

Outra teoria é a de que a única coisa que me, nos separa, cidadãos ditos "normais", de um assassino em série, é a dor.
Explico: Obviamente que a questão não é assim tão simples quanto isso, mas poderá ser abordada nestes termos olhando para o quadro de forma generalística. A questão não é assim tão simples porque na grande generalidade dos casos estamos a lidar com psicopatas e a psicopatia é das patologias mentais mais complexas e extremas que existem. Mas a minha questão aqui é simples: nem todas as pessoas que sofrem violência extrema se transformam em psicopatas e assassinos em série, mas todos os assassinos em série sofreram sevícias de uma gravidade absurda durante a infância. É preciso nascer com determinadas características, ninguém se torna psicopata, as pessoas nascem com determinadas potencialidades ou distúrbios que se podem concretizar ou não sob determinadas circunstâncias. Assim, quando apelidamos os assassinos em série de "monstros" ou "demónios" estamos a fugir à questão essencial e a fugir a uma resolução do problema ou pelo menos a um seu entendimento - classificar um assassino em série de "monstro" é evitar a questão essencial - ele é um ser humano e continua a ser um ser humano, apesar de possuir características que o tornam bastante "anormal" comparativamente com outros seres humanos. Chamá-lo de "monstro" é enterrarmos a cabeça na areia e fingirmos que alguém que pratica este tipo de crimes hediondos não pertence à raça humana porque a raça humana não poderia jamais albergar indivíduos com estas características. O problema é que ele pertence. Apenas é diferente. Mas a diferença pode revelar-se do outro lado de uma linha muito ténue, muito mais ténue do que aquela que julgamos existir.

Finalmente, e admito que esta é bastante forte, ando a reflectir sobre esta ideia que poderá ser interessante - um assassino em série poderá ser uma espécie de super-homem, no sentido de que poderá ser o ser humano "ideal" para enfrentar os perigos que se colocam à sua sobrevivência enquanto espécie. Na cadeia alimentar cada vez mais escassa e conturbada, um predador deste tipo tem vantagens - não tem emoções, não cria empatia com ninguém, é manipulador, não sente remorso nem culpa e é insensível aos sentimentos alheios. Estas são as características da psicopatia e de qualquer assassino em série (é por isso que o Hannibal Lecter é uma personagem profundamente inverosímil, apesar de adorar a forma como Harris o criou e o descreveu - mas isso fica para próximos posts). Num mundo pós-apocalíptico, em que o alimento escasseia e não existe lei nem ordem, talvez que os assassinos em série fossem reis e senhores dos seus domínios, ao invés de párias perseguidos pela sociedade. Afinal, tudo depende sempre da perspectiva. E quando temos fome e se soubermos de alguém que não se importe de matar e depelar por nós, nesse mundo apocalíptico sem rei nem roque, talvez pensemos seriamente em rever os nossos conceitos de bem e mal.
Nota: boa ideia para um romance futurista género Dexter meets Blade Runner meets Mad Max.

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