quinta-feira, 15 de novembro de 2012

PALAVRAS ESTÚPIDAS 163

A Maior Borrada de Todos os Tempos

Quando se comete a maior borrada de todos os tempos, é libertador. Nunca pensei. Também nunca pensei cometer a maior borrada de todos os tempos aos 40 anos. Mas cometi. E sinto-me bem. É claro que me sinto bem porque (ainda? não sei...) não sofri as consequências dela. Talvez se (quando? ...) sofrer as consequências dela, me arrependa de ter dito isto. Ou talvez não. Não sei porquê, mas não me parece mesmo que isso me vá afectar de algum modo o sentimento de libertação.

Porquê borrada? Bom, não foi nenhum crime, portanto estou de consciência perfeitamente tranquila nesse aspecto. Não magoei ninguém, antes pelo contrário, portanto por aí também não serei presa. Não ofendi, lesei ou prejudiquei ninguém. Só a mim, caso venha a sofrer, como já disse, das tais consequências ou mesmo da falta delas. Borrada porque fiz uma coisa que ninguém no seu devido juízo faz, muito menos nesta época tão acéptica que se vive hoje em dia. Mas eu nunca tive muito juízo e nunca pensei que tivesse muito a ver com esta época acéptica que se vive.

Porquê a maior borrada de todos os tempos? Porque até agora, foi com efeito a maior que já fiz. A mais idiota, a mais estúpida, a mais louca, a mais inacreditável, a mais tresloucada, a mais absurda de todos os tempos. Não quero com isto dizer que não serei capaz de fazer ainda melhor, ou pior, consoante a perspectiva. Sou muito capaz disso. Mas, por enquanto,  e durante algum tempo considerável, penso que nada a superará.

Porque é que me senti livre? Porque fiz uma coisa que se calhar apetece fazer a muita gente que não a faz precisamente porque fica a pensar que é idiota, estúpida, louca, inacreditável, tresloucada e absurda. Durante meses pensei isso tudo e depois, pimbas! atirei essas palavras todas pela janela fora e fiz. Quando regressei a mim, as ditas palavras atiradas pela janela fora tinham-se-me grudado como cola super-cola-tudo-até-cientistas-ao-tecto e eu fiquei ... basicamente desesperada. 

A reacção foi, e passo a enumerar: mas como é que eu fui capaz de fazer uma coisa destas? mas onde é que eu estava com a cabeça? mas o que é que me passou pela cabeça? enlouqueceste de vez, tás lixada, fodida e lixada outra vez, eu nem quero acreditar que fiz isto, etc.

Logo após esta reacção, acalmei e pensei tão simplesmente isto: não me arrependo. A minha parte que estava a dizer o parágrafo anterior calou-se repentinamente e ouviu a outra parte dizer aquela frase numa vozinha muito miudinha mas firme. Voltou à carga, não querendo acreditar que tinha ouvido aquilo. E a vozinha continuou: sinto-me feliz por ter feito o que fiz. Parou novamente e começou a insultar com um chorrilho de barbaridades a vozinha. Esta não desistiu: sinto-me bem, sinto que fiz o que o coração me mandou fazer, vai aonde te leva o coração, ouve sempre o teu instinto, etc, etc, etc.

Porque cometi eu a maior borrada da minha vida? Não sei. Foi um impulso, uma compulsão. O instinto. Obedeci ao instinto. E, a partir desta borrada, garanto que vou passar a obedecer sempre ao meu instinto, diga-me ele o que disser, por mais absurdo que seja, porque o único defeito desta borrada é que pode ter sido cometida demasiado tarde. Se eu tivesse ouvido o meu instinto quando ele começou a berrar-me há uns meses atrás, ainda teria ido a tempo de ... agora pode já ter sido tarde. Essa é a razão porque esta é a minha maior borrada de sempre. Porque pode ter passado completamente ao lado e nesse caso é um perfeito desperdício de borrada. As borradas quando são feitas devem ir directas ao ponto, ou então é um perfeito desperdício de borrada e isso não faz sentido nenhum. Já que se vai fazer borrada e da grossa, ao menos que ela resulte e seja mesmo uma grandessíssima borrada.

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