sexta-feira, 23 de novembro de 2012

PALAVRAS ESTÚPIDAS 164

O Amor É ...

Sei o que é o amor. Gostava de não saber. Palavra de honra. Gostava de não saber, de forma a poder sonhar com uma coisa que eu não sabia se de facto existia e poder por vezes, porventura, duvidar desse sonho. Quimeras, diria eu. Filmes americanos, diria eu. O amor não existe, é tudo química, é tudo tretas, é tudo uma grandessíssima mentira pespegada inventada pelas histórias da Carochinha e da Bela Adormecida e perpetuada pelos romances de cordel com que todos os anos os americanos nos pespetam nos cinemas. Balelas! diria eu ...
Mas o amor existe... Infelizmente, sei que ele existe. Infelizmente sei bem como ele é, o que ele é, o que provoca, do que é capaz.
O amor é carraça deslambida e matreira. O amor aparece de repente e não se vai embora nunca mais. Às vezes quando aparece a gente não sabe que ele apareceu e só nos damos conta disso muito tempo depois, demasiado tarde. 
O amor é sujo, joga baixo. Não aparece quando a gente quer, nem onde a gente quer, nem com quem a gente quer. Nem pensar. O amor só faz aquilo que lhe apetece.
O amor é perigoso. Cai em cima de nós de repente e é capaz de estragar vidas. É fácil evitar isto - não acreditarmos nele ou não o vermos. Caso contrário, o amor deixará cicatrizes que, apesar de não serem visíveis, são intensas, profundas e eternas.
O amor não brinca em serviço, não pensem. Ataca com tudo o que tem e o que não tem. É sábio, porque existe desde sempre, desde que o Homem é Homem, desde antes de as pessoas saberem que estavam sujeitas a tal coisa a partir do momento em que caíam neste mundo. O amor é antigo, muito antigo.
O amor é exigente. Exige coragem. Sim, não pensemos que teremos o amor se não formos corajosos. Népias. O amor é só para os corajosos. Os que metem o rabo entre as pernas e prosseguem com as suas vidinhas, não merecem o amor, nem pouco mais ou menos.
O amor não é fácil. É uma carga de trabalhos, bem vistas as coisas. Exige atenção aos pormenores, entrega total e um coração aberto. É muito complicado abrir um coração, como todos sabemos.
O amor é puro. Não olha a quem, não faz julgamentos, não levanta sobrolhos, não tem malícia de qualquer espécie.
O amor é doce. É feito de veludo e algodão. Sabe a marshmallow com chocolate quente. Mas também a pimenta e a menta. Embriaga como um vinho doce e quente e forte e intenso. Relaxa como um chá de camomila. Pica como uma malagueta encarnada.
O amor é reconfortante e confortável. Torna-nos almofadas e colchões de penas um para o outro. Faz de nós ninhos de penas macias e delicadas, maternais e aconchegantes para o nosso amor.
O amor é quente. Tem a temperatura certa. Por vezes aquece demasiado, mas permanece toleravelmente quente.
O amor é vivificante. Sentimo-nos realmente vivos, com todas as cores, todos os sentidos, como nunca nos sentimos antes ou dificilmente viremos a sentir-nos depois. Na verdade, o amor dá vida até a um morto. E quando ele desaparece (nunca acaba, apenas desaparece) sentimo-nos como zombies.
O amor é palpável. Encontra-se nas mãos, nos braços, no corpo, nos movimentos, na respiração, na silhueta, no rosto, nos olhos, nos pensamentos, na imaginação, na mera aproximação do nosso amado.
O amor é um génio porque nos torna obras de arte, mas apenas quando estamos juntos, o nosso amor e nós.
O amor é igual. Não existe mais nem menos no amor, apenas existe multiplicação e igualdade. Aquilo que somos torna-se mais intenso quando estamos com o nosso amor, mas não deixamos nunca de ser o que somos e vice-versa. Os dois permanecem exactamente ao mesmo nível, ninguém ultrapassa ninguém, ninguém "come" ninguém, ninguém se apaga por ninguém ou ninguém sobressai.
O amor é altruista. Se um dos dois estiver bem, o outro ficará feliz porque pensará: se pelo menos um de nós está feliz, então isso quer dizer que estamos os dois felizes.
O amor é papão. Come tudo à volta dos que se amam. Depois dele, tudo empalidece em comparação. Depois dele, tornamo-nos demasiado exigentes, porque sabemos que existe muito, muito, muito, muito, muito mais do que a mediocridade que pulula por aí. E ficamos sozinhos, caso não tenhamos arcaboiço para aguentar com a mediocridade.
O amor é eterno. Dura até morrermos e não sei se depois, porque não sei se há um depois. Mas sei que enquanto um dos dois existir, o outro existirá sempre, até ele também se ir. Com toda a certeza.

O amor é a coisa mais maravilhosa que nos pode acontecer nesta vida, não duvidem. Nada, mas mesmo nada o supera, acreditem. E nada vale mais a pena estar aqui a viver, se não o podermos ou termos vivido um amor, o nosso. Só por isso já valeu a pena, com toda a certeza.
E eu não queria saber isto, mas infelizmente sei.

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