Gato preto no muro do Castelo de S. Jorge
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Vladimir (ler com a pronúncia russa, ou seja, Vlâdimier) sentou-se virado para trás e viu a sua vida passar-lhe diante dos olhos, pelo vidro da janela.
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O seu perfil era magnífico e fez-me lembrar imediatamente Harvey Keitel. Uma estrutura óssea bem marcada, um nariz grande e partido numa antiga rixa nas ruas de uma qualquer cidade decadente da Europa de Leste e uns olhos escuros e pequenos, semicerrados, que ofereciam deslumbrantes estepes geladas desdobrando-se até ao infinito. Era pequeno e entroncado, como Harvey e andaria pela mesma idade.
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Enfiado numa camisola de gola alta branca, uma camisa beje, umas calças verde escuras de bombazina e um kispo preto, Vladimir parecia um príncipe perdido no meio de Lisboa, enquanto a sua vida imensamente rica e conturbada desfilava através do vidro da janela do autocarro.
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E eu estava absolutamente hipnotizada com o seu magnífico perfil soviético recortado contra a luminosidade que vinha lá de fora. Tenho uma queda por russos, confesso. Adoro a sua fisionomia sóbria e dura, talhada em estalactites ósseas. Parecem-me sempre membros de um qualquer clã nobre e distinto e quando abrem a boca derreto-me como gelo ao sol, tal e qual a Jamie Lee Curtis n’Um Peixe Chamado Wanda.
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Vladimir era engenheiro aeronáutico e levava toda a documentação consigo no saco preto de nylon que trazia a tiracolo. Há dois anos que as suas mãos pequenas mas resistentes lidavam com carga pesada nas obras. Nada a que essas mãos não estivessem habituadas. Mas hoje, hoje Vladimir tinha finalmente conseguido uma entrevista para um emprego digno da sua condição. Ali estavam os sapatos pretos impecavelmente engraxados, que provavam isso. Um homem sabe que a primeira vitória está nos sapatos e Vladimir não descurara isso. Era um homem de princípios, forte e astuto, mas com um coração enorme.
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E foi então que pousou as suas magníficas estepes semicerradas em mim. E me observou fixamente, sem medo, francamente, desenhando um sorriso imperceptível com os lábios finos. O príncipe notara que eu o observava e devolvia-me o cumprimento, como se me quisesse dizer: “Sei que me observas há longos momentos. Não me importo. Mas também posso, certo?”
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Quando se levantou para sair apeteceu-me pedir-lhe um conselho, uma palavra que fosse, de preferência em russo. Mesmo que não entendesse, tenho a certeza que seria algo sábio e eterno, como as suas estepes.
Vladimir (ler com a pronúncia russa, ou seja, Vlâdimier) sentou-se virado para trás e viu a sua vida passar-lhe diante dos olhos, pelo vidro da janela.
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O seu perfil era magnífico e fez-me lembrar imediatamente Harvey Keitel. Uma estrutura óssea bem marcada, um nariz grande e partido numa antiga rixa nas ruas de uma qualquer cidade decadente da Europa de Leste e uns olhos escuros e pequenos, semicerrados, que ofereciam deslumbrantes estepes geladas desdobrando-se até ao infinito. Era pequeno e entroncado, como Harvey e andaria pela mesma idade.
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Enfiado numa camisola de gola alta branca, uma camisa beje, umas calças verde escuras de bombazina e um kispo preto, Vladimir parecia um príncipe perdido no meio de Lisboa, enquanto a sua vida imensamente rica e conturbada desfilava através do vidro da janela do autocarro.
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E eu estava absolutamente hipnotizada com o seu magnífico perfil soviético recortado contra a luminosidade que vinha lá de fora. Tenho uma queda por russos, confesso. Adoro a sua fisionomia sóbria e dura, talhada em estalactites ósseas. Parecem-me sempre membros de um qualquer clã nobre e distinto e quando abrem a boca derreto-me como gelo ao sol, tal e qual a Jamie Lee Curtis n’Um Peixe Chamado Wanda.
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Vladimir era engenheiro aeronáutico e levava toda a documentação consigo no saco preto de nylon que trazia a tiracolo. Há dois anos que as suas mãos pequenas mas resistentes lidavam com carga pesada nas obras. Nada a que essas mãos não estivessem habituadas. Mas hoje, hoje Vladimir tinha finalmente conseguido uma entrevista para um emprego digno da sua condição. Ali estavam os sapatos pretos impecavelmente engraxados, que provavam isso. Um homem sabe que a primeira vitória está nos sapatos e Vladimir não descurara isso. Era um homem de princípios, forte e astuto, mas com um coração enorme.
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E foi então que pousou as suas magníficas estepes semicerradas em mim. E me observou fixamente, sem medo, francamente, desenhando um sorriso imperceptível com os lábios finos. O príncipe notara que eu o observava e devolvia-me o cumprimento, como se me quisesse dizer: “Sei que me observas há longos momentos. Não me importo. Mas também posso, certo?”
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Quando se levantou para sair apeteceu-me pedir-lhe um conselho, uma palavra que fosse, de preferência em russo. Mesmo que não entendesse, tenho a certeza que seria algo sábio e eterno, como as suas estepes.
2 comentários:
Моей консультацией будет выучить русского. Descubra :)
E já agora não lhe querendo ocupar a sua posição vitalicia de Edite é semicerrado .)
Algo como que vou aprender consigo russo. Como vê, já estou a aprender :)
E obrigada pela correcção, Sherlock. A gerência agradece e promete a rectificação assim que possível :)
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