segunda-feira, 30 de abril de 2007

MURMÚRIOS DE LISBOA XXV

Arcanjos
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Sé de Lisboa
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Eles são muito altos e muito magros, mais ele do que ela.
Vestem de preto e têm o cabelo branco platinado, daquele que brilha e quase ofusca.
Ele disfarça com umas calças de ganga desbotadas por baixo do sobretudo e uns sapatos bicudos brancos, de atacadores. Parece o Secretário, uma espécie de pássaro africano com longas penas brancas espetadas na nuca e um nariz enorme e adunco, tal e qual os funcionários públicos que imaginamos nos livros de Kafka.
Ela disfarça com um xaile preto por cima do casaco largo e rodado.
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É a segunda vez que os vejo e já da primeira vez tinha reparado que, apesar de não trazerem bagagem nenhuma e de parecerem obviamente estrangeiros, saíram no aeroporto. Ele sai sempre à frente dela, ágil e apressado, ela segue-o um pouco trapalhona, mas sem perder a jovialidade.
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Ora muito bem …
Que raio é que um casal de estrangeiros anda a fazer em Portugal duas vezes tão pouco espaçadas no tempo e sem bagagem? É suspeito …
Apesar de disfarçarem muito bem (mais uma razão para fundamentar a minha tese), eu sei perfeitamente o que são. Nem um único olhar em volta, um único relance curioso ou inquisitivo. Nada! Nunca os apanhei em falso, a prescrutarem o autocarro.
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Obviamente que pertencem, não tenho a menor dúvida, à hierarquia mais elevada dos que por aqui vagueiam. São um casal de Arcanjos, nem mais. E, ou me engano muito, ou estão prestes a subir de nível para a ordem superior, a dos Principados, altura em que já não precisarão sequer de cá raspar as asas.
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E por falar em asas … são magníficas … Enormes, esvoaçantes, translúcidas e imponentes…brancas de neve, de um branco mais brilhante que os cabelos, entretecidas de finas e delicadas teias de veios prateados, por onde correm todos os pensamentos da humanidade.
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Sei que são os guardiões desta zona. Mas nem sequer deram pela minha presença (ou deram? …). Andam demasiado ocupados com promoções e coisas do género, para repararem numa simples mortal sem nada de extraordinário para contar …

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