domingo, 10 de junho de 2007

MURMÚRIOS DE LISBOA XXXIII

Hipopótamo
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Hipopótamo no Zoo de Lisboa
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Uma é loura, outra é morena. Mas não são nem do tempo, nem do gosto musical do Marco Paulo. A loura é magra e elegante, a morena é gorda, pronto. Não há outra maneira de o dizer. Têm as duas não mais que 14, 15 anos. Vão para o liceu.
Já as tinha visto, mas hoje (naquele dia) uma delas, a morena, cometeu um dos maiores erros da sua vida. Vou fazer de conta que estou a escrever isto no presente para dar maior ênfase à história, porque a esta hora ela já sabe o erro que cometeu, claro. Por isso, vamos fingir que ela ainda não sabe. É normal, não tem mais que 15 anos. Cometem-se muitos erros nessa idade. Mais do que aqueles que queremos admitir. O que vale é que costumam ser perfeitamente inofensivos ... os piores vêm depois, quando somos mais velhos e mais estúpidos (a estupidez por vezes é directamente proporcional à idade, por uma qualquer ironia idiotamente obscura da vida) ... mas isso é outra história e não nos debruçaremos sobre esse tema hoje.
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A loira e magra vem vestida com umas calças de ganga e uma camisola às riscas verdes e pretas. Tem cara de estrangeira, mas é portuguesa. O único pormenor digno de nota são uns ténis pretos enormes cujas palas estão espetadas para fora da bainha das calças. Parece que é moda agora. Sempre que vejo estes putos e os seus cabelos à Tim Tim e as suas modas estranhas lembro-me do filho do Marty Fly no Regresso ao Futuro III e dos seus forros dos bolsos virados para fora, à moda do ano 2000 não sei das quantas e de como nos ríamos com o disparate. Pelos vistos os responsáveis pelo guarda-roupa lá sabiam o que estavam a prever.
Não são forros de bolsos virados para fora, são palas dos ténis levantadas, qual Mercúria prestes a levantar vôo. Vai dar tudo ao mesmo.
Se não fosse a morena, os ténis da loira seriam as estrelas da parada. Mas não. Porque a morena está de mini-saia ... E como todos sabemos, nem todas podem usar mini-saia ... Digamos que parece um dos hipopótamos bailarinos do Fantasia de Walt Disney e acho que não preciso de entrar em mais pormenores.
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Eu bem vi o olhar da Mercúria loira para as pernas da amiga, enquanto a outra baloiçava à sua frente. Não foi de reprovação sequer. Foi mais do género "Mas onde é que ela estava com a cabeça, meu deus, será que ela pensa que fica bem com aquilo ou que pode sequer ousar arriscar porque é jovem e não pensa e será que lhe passou pela cabeça que talvez até pudesse ser elogiada???!!! fogo caraças pá!!! até me sinto mal ao pé dela ..." Foi mais este tipo de pensamento (as raparigas costumam ter este tipo de pensamentos assim completamente caóticos e ultrasónicos, um bocado difíceis de reproduzir fielmente, sobretudo porque eu não sou o James Joyce).
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Saíram no liceu. O que ela ainda não sabe é que vai ter uma manhã ou um dia inteiro inesquecível, pelas piores razões. E que tão cedo não voltará a vestir aquela saia. E que provavelmente irá adormecer a chorar, hoje à noite. Isto é, partindo do princípio que estamos a falar duma morena com 2 dedos de testa, porque pode sempre dar-se o caso de aqui a anedota estar ao contrário e, nesse caso, ela passará por tudo incólume, (graças aos céus!)
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Ela não sabe, mas eu sei. E a amiga, apesar de não saber da mesma maneira que eu, intui algo parecido. Daqui a 15 anos saberá explicá-lo com esta minúcia de detalhes. Daqui a 15 anos saberão, como eu, adivinhar muita coisa, antes de porem sequer um pé fora de casa. E não estou a falar de bruxaria ... (mas isso por vezes também não ajuda nada, aliás, ajuda sim, ajuda a tornar os erros ainda mais crassamente estúpidos ... mas isso também é outra história e também não nos debruçaremos sobre esse tema hoje ...

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