quarta-feira, 13 de junho de 2007

PALAVRAS EMPRESTADAS 18


fk-ldkflk
"Umas vezes a minha vida parece-me vulgar a ponto de não valer a pena não só escrevê-la mas contemplá-la um tanto longamente, sem mais importância, mesmo a meus olhos, que a de outra pessoa qualquer. Outras vezes parece-me única, e por isso mesmo sem valor, inútil por ser impossível reduzi-la à experiência do comum dos homens. Coisa alguma me explica: os meus vícios e as minhas virtudes são absolutamente insuficientes para isso; a minha felicidade fá-lo melhor, mas com intervalos, sem continuidade, e sobretudo sem causa aceitável. Mas repugna ao espírito humano aceitar-se das mãos do acaso, não ser mais que o produto passageiro de probabilidades a que nenhum deus preside, nem sobretudo ele próprio. Uma parte de cada vida, e mesmo de cada vida muito pouco digna de ser notada, passa-se à procura das razões de existir, dos pontos de partida, das origens. Foi a minha impotência para os descobrir que me fez por vezes inclinar para as explicações mágicas, procurar nos delírios do oculto o que o senso comum me não dava. Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros."
kfjkldjf
Marguerite Yourcenar (Memórias de Adriano)

1 comentário:

Dry-Martini disse...

A sua vida não me parece nada vulgar. Interessam-me particularmente os seus vícios de Santa. Pode ser? :)