segunda-feira, 30 de março de 2009

MURMÚRIOS DE AVALON VIII

O Feto Casmurro - Parte II
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O Escritor suspirou. Seria saudável prosseguir esta conversa? Um nó na garganta era tudo o que menos desejava nesse momento.
"Tens que tentar compreendê-la. Eu sei que é difícil."
"Difícil? Eu não pedi para nascer, percebes?"
"Mas não tens escolha, lamento."
"Pois, mas devia ter. Isto é uma injustiça! Não há ninguém a quem me possa queixar?"
"Não ... infelizmente não existe nenhum guiché de reclamações por aqui."
"Então quando sair vou tratar disso. Não sei muito bem como, mas vou."
O Escritor não pôde deixar de sorrir quando ouviu aquelas palavras, pois já se reconhecia naquele ser minúsculo.
"Será um caminho difícil."
"Vais ver. Nem que eu tenha de procurar pelo universo inteiro, hei-de descobrir esse guiché de reclamações. E se não houver, invento-o eu!"
"Bem ... tens 40 anos e ainda não descobriste ou criaste nada parecido."
"Então criei o quê?"
"Bom ... algum sofrimento em muitas mulheres e uns poucos de livros."
"É bem feita! Afinal, o meu sofrimento começou com uma delas. Livros? Vou ser escritor?"
"Vais."
"Então a vida não será assim tão má."
"Bem ... não é condição si ne qua non que se tenha uma vida magnífica."
"Já te disse para não me falares em estrangeiro."
"Mas o teu vocabulário já é considerável."
"Ela fala muito."
"Tens alguma palavra preferida?"
"Mamã ... suponho ... Sei que é a primeira coisa que é suposto dizer quando abrir a boca para falar, aí fora. Aparentemente é a primeira palavra do Top Ten dos Bebés."
"Mais nenhuma?"
"Não sei, nunca pensei muito nisso. Ando preocupado com outras coisas, como sabes. Mas para que queres tu saber isso?"
"Ando à procura duma palavra."
"Para além de feio, também és estranho. Que palavra?"
"Não sei. Se soubesse, não estava aqui. Quando cresceres vais perceber que há muita coisa estranha no mundo, muito mais estranha do que andar à procura duma palavra. Tu, por exemplo, vais andar à procura dum guiché de reclamações para fetos que não pretendem nascer, que nem sequer existe."
"Isso não vale. Eu sou só um bebé. Tenho ideias parvas."
"Bom, há quem procure Deus, que é um absurdo para mim."
"Quem é Deus?"
"É suposto ser um ser superior a todos nós, que criou este mundo e que possui poderes extraordinários."
"Aha! Então provavelmente é com ele que tenho de falar sobre o meu guiché de reclamações. Não sabes onde o posso encontrar antes de nascer? Assim evitava uma série de equívocos desnecessários."
"Ninguém sabe se Deus existe. E, no entanto, meio mundo anda à procura dele ..."
"Sim, isso é um pouco estranho."
"Eu ao menos sei que as palavras existem. Passo a vida a vê-las, a criá-las e a sonhá-las."
"Então porque carga de água não crias a palavra que te falta?"
"Boa pergunta ..."
"Agora deixa-me em paz. Tenho sono."

1 comentário:

Dry-Martini disse...

Mais um texto brilhante Watson .)

XinXin