quarta-feira, 25 de março de 2009

MURMÚRIOS DE LISBOA LXXXI

A Torre dos Anjos*
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Vitral na Igreja da Quinta da Regaleira
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Não se lembra de entrar para a torre dos anjos. Nessa altura, tudo lhe parecia um sonho e quando se recorda disso, vê as coisas através de uma névoa e, se bem que os seus sentidos estivessem profundamente alerta, o seu consciente estava ainda a emergir do sono profundo. Não se lembra quando acordou completamente. Mais tarde percebeu que tinha acordado na torre dos anjos.
A melhor maneira de descrever a torre dos anjos é que se assemelha a um útero. Não estava sozinha lá dentro e a torre não era fechada, como uma prisão, se bem que lhe tivesse sido impossível sair pelo seu próprio pé, mesmo que o desejasse. Havia mais três habitantes na torre e 6 anjos, que se revesavam de 8 em 8 horas. As outras habitantes pouco falavam ou se mexiam, exactamente como ela. Já os anjos, eram ruidosos, alegres, compenetrados, atarefados, céleres e eficientes.
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Quando havia dor, os anjos mitigavam-na. Nessas alturas sentia-se um frio intenso e uma dor aguda na mão e logo a seguir tudo acalmava, enquanto os sumos da panaceia eram injectados.
Quando havia sono, os anjos murmuravam e apagavam as intensas luzes fluorescentes, mas não conseguiam deixar de brincar e sussurrar entre si, como crianças travessas e desobedientes.
Ela ouvia-os rir e esse som era ao mesmo tempo incómodo e reconfortante. Por vezes acordavam-na, mas também lhe recordavam que não estava sozinha, nem abandonada.
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Havia máquinas, por todo o lado. Monitorizavam os seus sinais de vida.
Pi ... Pi ... Pi ... Pi ... Sempre que se mexia o Pi Pi era menos intercalado e o anjo Rui aparecia à sua beira.
Porlh Porlh Porlh O saco com o líquido vital era como um organismo vivo, que a alimentava.
Pssss... A braçadeira apertava-lhe o braço, intercalada e automaticamente. O braço era apertado até ao limite e logo a seguir aliviado lentamente, em 2 compassos.
O anjo Rui vinha tirar-lhe a temperatura, ajustar-lhe as roupas e a almofada, perguntar-lhe se tinha dores e verificar os seus sinais vitais. Era delicado, silencioso, educado e dedicado.
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Quando se está na torre dos anjos, voltamos a ser bebés. No entanto, embora isto possa parecer agradável, ninguém quer ir lá parar. É por isso que têm de ser anjos a tomar conta da torre. Nem toda a gente pode ser anjo da torre. É preciso ter vocação para isso. E claro que há anjos e anjos. A ela tinha-lhe calhado um que nasceu para ser anjo.
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Para o enfermeiro Rui, o meu anjo durante o recobro.
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*Título emprestado da tradução portuguesa do II volume da saga de Philip Pullman "Mundos Paralelos"

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